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Reinaldo Azevedo

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Vida em abundância

Por falar em ironia, é claro que Tio Rei fica triste às vezes.Escrevi ontem um texto sugerindo que os brasileiros reivindiquem seus direitos de cadela. Vejam lá. Por quê? Um agricultor maltratou a sua cachorra e foi preso. Um monte de gente protestou, afirmando que a minha ironia endossava a crueldade com os animais. Eu? […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h22 - Publicado em 23 jun 2007, 18h26

Por falar em ironia, é claro que Tio Rei fica triste às vezes.
Escrevi ontem um texto sugerindo que os brasileiros reivindiquem seus direitos de cadela. Vejam lá. Por quê? Um agricultor maltratou a sua cachorra e foi preso. Um monte de gente protestou, afirmando que a minha ironia endossava a crueldade com os animais.

Eu? O dono (ou “co-dono”) de duas cadelas, uma tartaruga e um peixe?

Lolita, uma Lhasa simpática, deu à luz cinco filhotes no dia 29 de março. Diogo teve de ouvir sobre as peripécias dos cachorrinhos. Deve ter pensado: “Que droga será que o Reinaldão tomou hoje?” Quando Rita, a última, foi dada à sua dona, filhas, mãe, pai, empregada, todo mundo caiu no choro. Ela ficava aqui, madrugadas afora, aninhada aos meus pés, já que Lolita não suportava mais amamentá-la por causa dos dentes afiados, que já haviam despontado. A exemplo de todo cretino amoroso que tem cachorros, também acho que as minhas entendem o que digo. Acho não. Estou certo disso. Um dos filhotes, branco, quase albino (não fosse por causa de umas manchas no focinho), batizei de “Bento”. Este foi dado de presente à minha irmã. Eu o chamo de “Bentão”. Sim, a minha homenagem franciscana ao papa. “Pastor alemão”? “Rotweiller de Deus”? Fiz a minha própria graça. Enfrentei a maré estúpida, antipapista, de boa parte da mídia nativa oferecendo às minhas meninas um Bento suave. Comigo, os “romõezinhos” não têm vez. Tenho as minhas próprias técnicas.

Crueldade com os bichos? Não, queridos! Eu me opus à crueldade com as pessoas. Não há um juiz em Berlim para decretar a prisão de quem deixa crianças 36 horas nos aeroportos? Não há um juiz em Berlim que meta em cana quem larga, sem assistência, um quase bebê que acabou de operar a coluna no saguão de Cumbica? Não há um juiz em Berlim capaz de impor um tratamento humano tanto a bichos como a gente? Esse era o sentido não tão secreto da minha ironia.

Com a comparação, fazia também uma alusão ao grande advogado católico Sobral Pinto, um monumento do direito brasileiro. Anticomunista ferrenho, ainda assim, foi advogado de alguns comunistas que participaram da chamada Intentona de 1935, golpe frustrado. Entre os presos, estava o alemão Harry Berger, barbaramente torturado pela polícia de Getúlio Vargas. Um arame quente lhe era enfiado uretra adentro — e Getúlio ainda é herói de muita gente… Sem ter como tirá-lo da cadeia, dada a legislação então vigente, Sobral apelou à Lei de Proteção aos Animais. O sentido era claro: se nada impedia que se fizesse aquilo com gente, que ao menos se garantisse a ele o que era garantido aos bichos.

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Essa era a minha ironia. Eu não endosso que se maltratem bichos. Eu só me indigno quando se maltratam pessoas. Faço o contrário do czar naturalista do poema Anedota Búlgara, de Drummond:

Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.

A foto acima foi tirada minutos depois do nascimento dos seis filhotes de Lolita. Um deles, infelizmente, era natimorto. Há outras fotos, em que ela já está limpa, garbosa, com as suas crias. Mas acho essa comovente. Não vou caceteá-los muito com os motivos. Há ali serenidade, satisfação, cansaço, “vida em abundância”, expressão importante da minha fé. Não sou do tipo que generaliza experiências, “façam o que eu faço”. O que sei é que raramente fomos todos tão felizes. Foi uma das melhores lições de educação sentimental que demos, eu e Dona Reinalda, às nossas filhas. Se não parecesse atrevido, eu lhes diria: “Experimentem”.

Amemos as pessoas com a mesma dedicação e intransitividade com que podemos amar os bichos.

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