PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Sobre bancos, liberalismo, estatismo e… política

Plinio Apuleyo Mendoza, Alvaro Vargas Llosa e Carlos Alberto Montaner definiram no Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano as características do perfeito idiota esquerdista. Acontece que é possível haver um “perfeito idiota liberal” também. E, a exemplo de seu congênere oposto, sua militância, além de atrasada, é contraproducente até para os propósitos de sua luta. É […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h27 - Publicado em 26 Maio 2008, 16h53
Plinio Apuleyo Mendoza, Alvaro Vargas Llosa e Carlos Alberto Montaner definiram no Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano as características do perfeito idiota esquerdista. Acontece que é possível haver um “perfeito idiota liberal” também. E, a exemplo de seu congênere oposto, sua militância, além de atrasada, é contraproducente até para os propósitos de sua luta. É o que me ocorre ao ler alguns comentários e críticas à possível venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil. Os perfeitos idiotas liberais ficaram assanhadíssimos: “Como? Mais estado na economia?” Ou ainda: “Serra vai se juntar a Lula para estatizar o sistema financeiro?” Tenham um pouco de dó da inteligência e um pouco mais de respeito aos fatos.

1) Já são estatais
Banco do Brasil e Nossa Caixa já são estatais hoje e assim permanecerão se a operação se realizar. O grau de estatização do sistema financeiro nem aumenta nem diminui. O dado positivo é que o Estado de São Paulo, que não precisa ter banco, livra-se do seu e ainda consegue recursos para investir em áreas prioritárias.

2) E o Banco do Brasil?
Ou o Banco do Brasil é visto “quase” como um banco qualquer, sem regalias, e, portanto, tem direito de tentar se expandir como qualquer outro — remunerando seus acionistas (tanto os da Bolsa como o majoritário, o Estado brasileiro — ou é privatizado. Por mim, seria privatizado. Há condições políticas de fazê-lo? Quem seria o doido a topar a empreitada? A Telebras deve ser ainda hoje a privatização mais bem-sucedida do mundo, seja pelo preço conseguido, seja pelos efeitos em 10 anos: a universalização da telefonia. Até agora, fala-se em privataria, e há certa nostalgia do sistema estatal. Parece piada, mas é assim. Enquanto o Banco do Brasil existir, ele tem de tentar se modernizar e se expandir, a exemplo de seus congêneres do setor privado.

3) Dá pra fazer leilão?
A proposta seria simplesmente rejeitada na Assembléia — hoje ao menos —, e o processo demoraria um século, sem contar o festival de ações judiciais que ensejaria. O processo seria desgastante para o próprio banco. Um dos grandes ativos da Nossa Caixa são os depósitos judiciais, pelos quais os bancos privados não dariam um tostão — já que, por lei, eles teriam de ir para um banco estatal: o próprio Banco do Brasil. Ou seja: se o BB compra a Nossa Caixa, a dinheirama — R$ 16 bilhões — tem valor; se o setor privado compra, ela não vale nada e vai parar, de mão beijada, no BB. MAS ATENÇÃO: ISSO SE A ASSEMBLÉIA APROVASSE A PRIVATIZAÇÃO. MAS ELA NÃO APROVA. ENTÃO O DEBATE SE DÁ SOBRE O NADA.

4) Qual é o preço?
Ninguém sabe. A avaliação será feita. Mas se abre aí um caminho que pode ser bastante criativo, até inédito. Digamos que se conclua que o banco vale R$ 6 bilhões. Ora, nada impede o Itaú de dizer: “Dou R$ 8 bilhões”. E o Bradesco: “Parem! Dou R$ 9 bilhões”. Aí, sim, estaríamos diante de um processo bastante virtuoso: jogar-se-ia a bola para a Assembléia. E também se elimina aquela conversa mole de sempre dos perfeitos idiotas esquerdistas: “Ah, vendeu a preço de banana”.

Continua após a publicidade

5) Estatização do sistema financeiro
Ah, tenham piedade, né? O sistema financeiro brasileiro é hoje o mais rentável do mundo — por causa da sua competência, da expansão do crédito e da estupenda remuneração da rolagem da dívida pública. Os grandes bancos privados batem recordes sucessivos de lucratividade. O estatismo na área nem avança nem diminui. Fica rigorosamente onde está.

6) É o possívelA incorporação da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil é o que as condições políticas do momento permitem. Não fui eu que as fiz. Não foram vocês. Os que agora reclamam da “operação entre estatais” financiaram alegremente a campanha eleitoral de Lula em passado recente, que tinha como um dos pilares justamente a demonização das privatizações. Ou ninguém mais se lembra da onda criada pelo PT em 2006, acusando Alckmin de querer vender justamente a Petrobras e o Banco do Brasil?

Que político brasileiro, aspirante à Presidência da República, entraria, a esta altura do campeonato, numa guerra de guerrilha jurídica para vender um banco estatal sanado? Só se for maluco. Eu não entraria. Acreditem: seria um processo que se estenderia além de 2010. Se, por qualquer razão, o Banco do Brasil não comprar a Nossa Caixa, acredito que as coisas fiquem como estão. E São Paulo continuará a ter um banco mesmo sem precisar, e os paulistas continuarão a precisar de coisas que não terão, mesmo sendo “sócios” de um banco.

Continua após a publicidade

Os bancos privados certamente têm lá a sua cota de reclamações, mas não se diga que não dispõem de ampla liberdade para concorrer. Eles não têm de temer um Banco do Brasil eventualmente robustecido. Têm é de procurar ser mais eficientes e competitivos, como mandam os princípios do capitalismo.

Delfim Netto, por exemplo, acha que Serra acabará optando pelo leilão. Pode até ser. Então vamos ver quanto o Banco do Brasil está disposto a pagar pela “Nossa Caixa inteira”, com os depósitos judiciais. Se os bancos privados derem mais, aí é o caso, então, de ver qual é a saída. Alguns falam que, sem leilão, haveria uma enxurrada de ações judiciais. Isso é o de menos: com ele, também. A causa do leilão sempre será boa. No caso, é preciso melhorar os argumentos.

Reitero à guisa de conclusão: vamos privatizar o Banco do Brasil também, não apenas a Nossa Caixa. Aliás, que tal começarmos a cuidar dessa cultura no país, a da economia privada? Os financiadores de campanha que tanto amam o livre mercado poderiam começar por só financiar candidatos e partidos defensores do… livre mercado!!! Em vez disso, o que vi na última campanha foi o contrário: os bancos, ora tomados de fundamentalismo privatista (em si, correto), deram os tubos justamente ao candidato que encarna o discurso estatizante.

Continua após a publicidade

É engraçado que o setor financie, então, o proselitismo estatista na esperança de que as oposições, tadinhas, sem dinheiro, se encarreguem dos fundamentos da economia privada, não é? Já imaginaram? Serra privatiza a Nossa Caixa, torna-se o mártir da economia de mercado, cai na boca de sapo do petismo antiprivatista, que lança seu candidato com farto financiamento dos beneficiários daquela privatização…

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.