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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Royal decide fechar instituto. Em “Animal Farm”, porcos viram bípedes; na fazendola brasileira, homens viram quadrúpedes

Que bom! Ah, como é mesmo o nome dela? Luísa Mell (ainda não voltou para a TV?) venceu. O Bruno Gagliasso também. Nunca mais animaizinhos serão “torturados” no Instituto Royal. O laboratório decidiu fechar a sua unidade de São Roque, no interior de São Paulo. O Brasil está de parabéns. O deputado estadual Fernando Capez […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h02 - Publicado em 6 nov 2013, 17h36
Este iluminista venceu. Vejam a luz ao fundo; é o carro de uma emissora de TV em chamas em frente ao Instituto Royal. Foto Alex Falcão/Futura Press

Este iluminista venceu. Vejam a luz ao fundo; é uma viatura da PM, em chamas, em frente ao Instituto Royal. Foto Alex Falcão/Futura Press

Que bom!

Ah, como é mesmo o nome dela? Luísa Mell (ainda não voltou para a TV?) venceu. O Bruno Gagliasso também. Nunca mais animaizinhos serão “torturados” no Instituto Royal. O laboratório decidiu fechar a sua unidade de São Roque, no interior de São Paulo. O Brasil está de parabéns. O deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP) pode bater no peito cheio de orgulho. O deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), que “adotou” dois cães que pertenciam ao instituto, pode se orgulhar de sua obra.

A empresa já havia anunciado que pretendia retomar as atividades. Ocorre que a Prefeitura de São Roque, que já havia inspecionado o local sem encontrar nenhuma irregularidade, suspendeu a licença por 60 dias. A empresa alega que não tem condições de se recuperar do baque. A sua unidade do Rio Grande do Sul, que não realiza testes com animais, continua a funcionar normalmente.

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Que bom! Agora estamos todos pacificados. No Jornal Nacional e no Fantástico, aprendemos que essa questão tem dois lados, “lado” e “outro lado”. Uns são contra testes com animais; outros, a favor. Decretado esse empate de “achares”, vence quem tem o argumento mais forte, não é? Como se trata de ciência, é evidente que o argumento mais forte é daquele que consegue ser mais ameaçador. Em matéria de ciência, deve prevalecer a força bruta, a truculência.

No comunicado em que anuncia o encerramento da atividade, o instituto diz que era o único a realizar testes pré-clínicos para desenvolver medicamentos para o tratamento de doenças como câncer, diabetes, hipertensão e epilepsia. “A partir de agora, qualquer empresa interessada na realização de testes para registro de medicamento será obrigada a realizar suas pesquisas fora do país, até que outro laboratório seja credenciado pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal para essa atividade”, afirma a nota.

A menos que a Luísa Mell se apresente. A menos que Gagliasso se apresente. A menos que Capez se apresente. A menos que Tripoli se apresente. Mas nem assim adiantaria. Protocolos internacionais, próprios do mundo civilizado, obrigam que testes sejam feitos antes em animais…

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Eis aí mais uma legítima conquista do chamado “espírito das ruas”. Afinal, não é assim? Nos dias que correm, a imprensa tem de ir aonde o “povo” está, certo? Se alguém cismar que a Lei da Gravidade é reacionária, é o caso de lhes dar voz; se alguém provar que a aritmética tem sido, historicamente, um instrumento usado pelas elites contra os justos, aboliremos esse instrumento da reação.

O próximo passo, agora, creio eu, é anunciar o fim do uso de porcos em aulas de traqueostomia. Médicos que fossem obrigados a realizar tal procedimento — um trauma mesmo para os mais experimentados — o fariam pela primeira vez em humanos.

Em “Animal Farm”, de Orwell, os porcos, que comandam a revolução, aprendem a andar sobre duas patas. No Brasil, vai se dar o contrário: seremos obrigados a andar de quatro. Aliás, foi essa a tentação confessa de Voltaire, revelada em carta ao próprio autor, quando leu o “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”, de Rousseau.

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Voltaire e seu imenso nariz não sabiam o que estavam por vir. Este cão (segundo Miriam Leitão) se desculpa pela falta de jeito, é claro. Nessa toada, a “Revolução dos Bichos”, no Brasil, ainda vai virar uma fábula iluminista.

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