Rossi e o choque anafilático
Wagner Rossi é mesmo uma figura espetacular. A sua nota apela ao risível, embora ele possa não ter se dado conta disso. Então ele usou o jato da empresa “em raras ocasiões”? Em “raras ocasiões” pode, é isso? Tio Rei é alérgico a gergelim — a semente e o óleo. Daquelas alergias que provocam choque […]
Wagner Rossi é mesmo uma figura espetacular. A sua nota apela ao risível, embora ele possa não ter se dado conta disso. Então ele usou o jato da empresa “em raras ocasiões”? Em “raras ocasiões” pode, é isso?
Tio Rei é alérgico a gergelim — a semente e o óleo. Daquelas alergias que provocam choque anafilático e matam por fechamento da glote. Os inimigos não se animem. Eu ando devidamente equipado. Sim, uma vez quase morri num resort. O meu quarto, onde estava o kit, ficava longe do restaurante. E havia comido apenas um espaguete alho e óleo. E entrei em choque. Como pode? Já estabilizado, fui à gerência do restaurante.
— Vocês colocaram óleo de gergelim no espaguete?”
— Não, senhor!
— Se colocaram, preciso saber, é questão de vida ou morte para mim.
— Não, senhor!
— Chame o cozinheiro.
— Tinha óleo de gergelim no macarrão?
— Óleo de quê?
— Deixe-me ver o que você usou.
Era óleo de gergelim. O gerente se indignou — e me parecia sincero — ao falar com o cozinheiro.
— Mas eu perguntei se você tinha usado, e você negou.
— Ah, mas é que eu usei só um pouquinho…
É o padrão Wagner Rossi de argumentação. “Um pouquinho” da coisa não é a coisa. É uma concepção, digamos, filosófica de mundo: uma coisa “só é” a partir de certa quantidade; antes disso, seria uma não-coisa. Andar muito no avião de uma empresa privada com negócios com o governo e que financia campanhas é coisa feia, não pode, é inaceitável. Andar um pouquinho, aí tudo bem…
As coisas vão se complicando. Como vocês verão no próximo post, a defesa da permanência de Rossi no governo avança para a delinqüência intelectual.