Roda Viva 4 – “O povo não tá vendo manchete de jornal; sabe que tem mais dinheiro para comer”
Não há muitos nomes do primeiro escalão do governo envolvidos em escândalos?, quer saber Markun. Lula filosofa: convocar o Ministério é como convocar a Seleção. Se o jogador não é bom, você troca. “Eles cometeram coisas erradas?”, insiste o jornalista. Lula diz que está tudo sendo julgado. Ele prefere não opinar. E canta as glórias […]
Não há muitos nomes do primeiro escalão do governo envolvidos em escândalos?, quer saber Markun. Lula filosofa: convocar o Ministério é como convocar a Seleção. Se o jogador não é bom, você troca. “Eles cometeram coisas erradas?”, insiste o jornalista. Lula diz que está tudo sendo julgado. Ele prefere não opinar. E canta as glórias de José Dirceu e Antonio Palocci. Eles passaram pelo governo e tiveram um comportamento que a opinião pública não gostou, então foram afastados. Reparem: a “população” não gostou. Lula prefere não emitir juízo a respeito.
O presidente afirma que, nos momentos de maior tensão [do mensalão], sua preocupação era não deixar o Brasil parar. Os resultados foram muito bons para a história política do Brasil. “Eu sou o presidente da República que mais investiu na educação neste país”. Ele se arrepende de alguma coisa? Ah, de não ter feito ainda mais. E canta as glórias das suas universidades. Lourival Santana lembra o óbvio: as escolhas do governo estão erradas. O país investe 12 vezes mais no ensino superior do que no ensino fundamental. Os países da OCDE, apenas duas. Há um erro de prioridade. Lula, visivelmente, não tem noção do que fala o jornalista e nem da própria resposta. E tome suas medidas de salvação. E diz que cada cidade-pólo do país vai ter uma extensão universitária.
Tereza Cruvinel, ainda durona, diz que o dinheiro do Fust, assim como no governo FHC (claro…), foi usado para fazer superávit e não para a inclusão digital. E Lula diz: “Você tem razão, Tereza.” E promete que vai se emendar. Muito bem, Tereza! E lá vem a cascata do laptop a US$ 100, uma quimera que ainda não saiu do papel em nenhum lugar do mundo. “Investimento em educação não é gasto, é investimento”. E exalta o ProUni. Viram? Eu disse que ele não havia entendido o que Santana perguntou. “É um sonho que quero transformar em desejo (sic): fazer o Brasil o país mais fácil para a universidade”.
Renata Lo Prete, a anti-Tereza, volta a perguntar. O PT fechou acordo com o PL em troca de dinheiro, R$ 10 milhões, como admitiu Valdemar da Costa Neto? “Ah, o PL pediu ajuda para a sua campanha. Mas eu nunca soube de nada”. Só que, depois, Lula diz ter passado um pito em Delúbio Soares. Bom, então ele sabia, é isso? Admitiu ter sabido de um crime eleitoral? Segundo ele, está é mais uma “sandice” que acontece na política. E passa a defender o financiamento público de campanha. Santana indaga o que garante que o financiamento paralelo não vai continuar? Ah, as pessoas têm de ser sérias. E ele defende cadeia para transgressores. Este homem realmente é demais. Ele quer é dureza.
Última pergunta de Markun para Lula: “O que sr. fará se não for eleito?”
Lula diz que vai ser eleito. Mas, vá lá, caso não aconteça, diz que volta para São Bernardo, a 600 metros do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Diz que, todo dia, quando abre a janela, vê os trabalhadores da Volkswagen. E foi essa gente que o conduziu à Presidência. Lula faz uma revelação surpreendente. Diz ter lido ao menos um livro na vida: “Mauá (deve estar se referindo a Mauá, Empresário do Império, de Jorge Caldeira)” e ter visto o filme. E diz que percebeu o comportamento de uma parte da elite brasileira. Na presença de seis jornalistas — tá bom, sete… —, diz que o povo não está vendo manchete de jornal. Está vendo é que tem mais dinheiro para comprar as coisas no supermercado, no açougue, na farmácia. Lula diz que o povo sabe que, apesar de alguns “problemas”, está comendo melhor.
E cai o pano.