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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Quis a moral petista que o homem que armou contra Lula em 1989 trabalhasse para Lula em 2002

A reportagem da VEJA desta semana, com a entrevista do sindicalista Wagner Cinchetto (leia post de ontem quem ainda não leu), assombra uma vez mais — e é bom que assim seja. Assombra, mas não surpreende. Há duas semanas, foi a ver de Gerardo Santiago, ex-diretor da Previ, o fundo de pensão do Banco Brasil, revelar […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 14h32 - Publicado em 16 ago 2010, 05h53

A reportagem da VEJA desta semana, com a entrevista do sindicalista Wagner Cinchetto (leia post de ontem quem ainda não leu), assombra uma vez mais — e é bom que assim seja. Assombra, mas não surpreende. Há duas semanas, foi a ver de Gerardo Santiago, ex-diretor da Previ, o fundo de pensão do Banco Brasil, revelar que os petistas montaram na instituição um bunker para produzir dossiês contra inimigos do PT e do governo. Desta feita, Cinchetto revela mais dados sobre os porões da campanha eleitoral de 2002. Nos dois casos, note-se, as personagens não se colocam como meros mordomos, não. Elas confessam: participaram da feitura de dossiês ilegais contra os adversários do partido.

A entrevista de Cinchetto é especialmente interessante porque ilustra a sofisticação dos próceres do estado paralelo petista. Não se tratava apenas de fazer dossiês contra os adversários do então candidato Lula. A operação era mais complexa: como estavam trabalhando com dados que saíam de órgãos do Estado — onde o partido já estava solidamente instalado —, era preciso também plantar pistas no caminho que levassem à suspeita de que as denúncias haviam partido da “turma do Serra”. E a imprensa tinha de ajudar. E ajudou!  Assim foi, ele confessa, com o caso Lunus, que rendeu o racha entre o então PFL e o PSDB — e uniu a família Sarney com o lulismo —; com a desestabilização da candidatura de Ciro Gomes, por intermédio das denúncias contra o seu então vice, Paulo Pereira da Silva, e com Anthony Garotinho.

Todos — Roseana, Ciro e Garotinho — se uniram a seu algoz no segundo turno contra Serra.

E, obviamente, fabricaram-se denúncias também contra o candidato do PSDB. Nas palavras de Cinchetto:
“O plano era gerar uma polarização entre o Serra e o Lula. Por isso se trabalhou intensamente para inviabilizar a candidatura do Garotinho, que também podia atrapalhar. Não sei se o documento do SNI que ligava o vice de Garotinho à ditadura saiu do nosso grupo, mas posso afirmar que a estratégia de potencializar a notícia foi executada. O Garotinho deixou de ser um estorvo. E teve o dossiê contra o próprio Serra. Um funcionário do Banco do Brasil nos entregou documentos de um empréstimo supostamente irregular que beneficiaria uma pessoa ligada ao tucano. Tudo isso foi divulgado com muito estardalhaço, sem que ninguém desconfiasse que o PT estava por trás.”

Mais: segundo o sindicalista, Lula sabia de tudo, embora aparecessem como os homens fortes do esquema Ricardo Berzoni e Luiz Marinho: “O grupo era formado por pessoas que têm uma longa militância política. Todas com experiência nesse submundo sindical, principalmente dos bancários e metalúrgicos.”

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O mais espantoso: o caso Mirian Cordeiro é considerado, até hoje, um dos golpes mais sujos desferidos numa campanha eleitoral. Cinchetto, confessadamente, participou daquela tramóia CONTRA LULA. Treze anos depois, estava fazendo tramóia PARA LULA, numa evidência de que o petista não considerava aquilo essencialmente errado. Ele só não gostou de a operação ter sido contra ele. Contra os outros, tudo bem. Entende-se por que perdoou Collor, por que são hoje aliados e por que dividem o mesmo palanque.

É claro que isso é péssimo para o país e um desastre para a política. Reitero, no entanto, que Gerardo Santiago e Wagner Cinchetto despertam em mim uma curiosa, talvez perversa, satisfação intelectual. Há anos, relembro, batizei o PT de “burguesia do capital alheio” ou “burguesia sem capital” (o próprio, claro), afirmando que o partido era a expressão de uma “nova classe social”, empregando a expressão de Milovan Djilas (este link remete a um artigo que escrevi sobre o autor em 2004, na revista Primeira Leitura). Mais do que isso: se o desassombro com que ela se assenhoreava do Estado não fosse contido — inclusive com mais firmeza da oposição —, o risco de degradação institucional era imenso.

Eis aí. Quem dera estivesse errado então e agora. Mas não estou, não. Rio intimamente de todos aqueles que diziam — e alguns ainda dizem — que exagero quando revelo os aspectos antidemocráticos do PT. Digam-me: alguém aí duvida de que a “máquina” está a todo vapor, atuando enquanto escrevo e enquanto vocês lêem? Mais poderosos do que antes, mas experientes do que antes, mais ousados do que antes, que motivos “eles” teriam para desmontá-la?

Os “pragmáticos” não querem saber disso porque, dizem eles, a “população gosta do governo”. Regalem-se. Eu quero! Eles são “pragmáticos”; eu sou “programático”. E o meu programa são as liberdades públicas e as liberdades individuais. Para mim, o lugar adequado da canalha que comanda a feitura de dossiês, violando direitos protegidos pela Constituição, é a cadeia.

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