QUE VANNUCHI NÃO FIQUE POR FALTA DE ADEUS!
Em entrevista publicada na Folha de hoje, Paulo Vannuchi, secretário de Direitos Humanos, ameaça pedir demissão se houver mudanças significativas no texto-bomba. O jornal, que traz um bom editorial sobre o imbróglio, fabricou um título de manchete que pretende mais chocar do que informar: “Vannuchi ameaça demissão se plano punir torturados”. Comecemos do básico: em […]
Em entrevista publicada na Folha de hoje, Paulo Vannuchi, secretário de Direitos Humanos, ameaça pedir demissão se houver mudanças significativas no texto-bomba. O jornal, que traz um bom editorial sobre o imbróglio, fabricou um título de manchete que pretende mais chocar do que informar: “Vannuchi ameaça demissão se plano punir torturados”.
Comecemos do básico: em nenhum momento da entrevista publicada ele fala que o plano pode “punir torturados” ou que isso seja uma possibilidade. Imaginem se essa seria uma alternativa… Trata-se de um óbvio absurdo. O que tinha sido negociado pessoalmente por Nelson Jobim com os militares é que a tal comissão investigaria crimes cometidos de ambos os lados – também pelos terroristas. Transformar essa escolha em “punir torturados” é mais do que licença da manchete: É UMA INVERDADE.
Lendo o texto, fica claro que ele diz não aceitar – sei o sentido da palavra “irrevogável” no PT… – uma mudança que desfigure a sua “grande obra”. Mas nem ele falou que há gente exigindo “punição de torturados”. O título escolhe a formulação escandalosa e ignora o fato.
Lê-se no texto: “Ele condena a tentativa de colocarem no mesmo nível torturadores e torturados. Uns agiram ilegalmente, com respaldo do Estado, os outros já foram julgados, presos, desaparecidos e mortos, comparou o secretário, citando o próprio presidente Lula, que foi julgado e condenado a três anos (pena depois revista) por liderar greves no ABC.”
Duas coisas:
1 – é mentira que todas as pessoas envolvidas com atos terroristas tenham sido punidas;
2 – anistia não é julgamento nem atestado de inocência; anistia é acordo de natureza política. Ademais, se for para colocar os atores certos na cena certa, estamos falando de “torturadores” e “terroristas”. Ou de ex-torturadores e de ex-terroristas – como o próprio Vannuchi. Ou terei de lembrar aqui a Cartilha do Terrorismo da ALN, de que ele era um seguidor?
Fiel a seu patético momento, como diria a poeta, ele não economiza: “Vannuchi aposta que Lula tentará uma opção intermediária: ‘O presidente Lula é construtor de caminhos de meio termo. Mas, se não for possível, não posso ficar. Vou optar pelo caminho da Dona Lindu [mãe de Lula]: sempre de cabeça erguida’, disse.”
Apelar a “Maria” de mentirinha para ser afagado pelo “Cristo” da pantomima hagiográfica? Aí meu estômago me impede de comentar. Quando a vergonha deixa de ser a última fronteira, já não resta mais nada.