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Reinaldo Azevedo

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Quando a pedofilia pode ser só uma cortina de fumaça

Por Hermano Freitas, na Folha Online. Volto depois: O advogado de defesa de Anderson Marcos Batista, 25, Nelson Bernardo da Costa, afirmou neste sábado (27) ter recebido R$ 6 mil em honorários do padre Júlio Lancelotti. O pagamento seria referente à defesa que assumiu em um caso de homicídio e teria sido quitado em 2001. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h16 - Publicado em 27 out 2007, 17h51
Por Hermano Freitas, na Folha Online. Volto depois:

O advogado de defesa de Anderson Marcos Batista, 25, Nelson Bernardo da Costa, afirmou neste sábado (27) ter recebido R$ 6 mil em honorários do padre Júlio Lancelotti. O pagamento seria referente à defesa que assumiu em um caso de homicídio e teria sido quitado em 2001.

Batista foi preso na sexta-feira (26), juntamente com sua mulher Conceição Eletério, 44, e Evandro Guimarães, 28, em um apartamento alugado em um prédio na rua Riachuelo (região central). Todos são acusados de extorquir o padre e permanecerão pelo menos até a semana que vem encarcerados em delegacias da zona leste.

O advogado negou que seu cliente tenha praticado extorsão e afirma que o dinheiro e os presentes foram dados pelo padre a título de “gratificação”.

De acordo com Costa, os pagamentos dos honorários foram realizados por depósito bancário, em seis parcelas de mil reais. Na época, Batista era acusado por homicídio doloso após matar a tiros um homem em uma briga de bar. Ele foi condenado a 12 anos e recorreu da sentença.

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O delegado da SIG (Setor de Investigações Gerais), André Luis Pimentel, informou que irá pedir a quebra do sigilo bancário do padre para apurar o valor total da extorsão. Cerca de cinco carros de luxo teriam sido comprados com o valor obtido do padre. Segundo ele, para a polícia, até o momento, as investigações indicam que o padre foi “vítima de extorsão”. “Seria leviano afirmar o contrário com o que se tem até o momento,” disse.

Relacionamento amoroso
Ex-interno da Febem, Batista teria conhecido e iniciado um relacionamento amoroso com o padre na instituição, onde foi internado aos 16 anos por roubo. “Eles chegaram a ter relações sexuais dentro da igreja”, disse o advogado de Batista. Em 2000, após fugir da instituição, teria começado a solicitar ajuda financeira ao sacerdote e, mais tarde, passado a exigir uma soma cada vez maior em dinheiro. Segundo o advogado de defesa, Lancelotti tinha conhecimento da condição de foragido de Batista.

O advogado afirma que o valor dos bens recebidos por seu cliente foi de “quase 700 mil reais” e que o relacionamento entre o padre e ex-detento acabou após Batista ter se casado, em outubro de 2006. Ainda de acordo com ele, o sacerdote mantinha relações sexuais com outros meninos.

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O delegado-assistente da SIG Marco Antonio Bernardino informou que a Cúria Metropolitana de São Paulo (setor administrativo da Igreja Católica) pediu à Justiça, no início da semana passada, que o caso fosse conduzido sob sigilo.

Denúncia
O grupo preso nesta sexta-feira é acusado pela Polícia Civil de São Paulo de extorquir o padre Júlio Lancelotti, conhecido por ser um dos principais defensores dos direitos de jovens infratores e de moradores de rua de São Paulo. Foi o próprio padre quem procurou a polícia para denunciar o crime.

Os primeiros pedidos de dinheiro variavam entre R$ 800 e R$ 1,5 mil e eram feitos por meio de bilhetes. Os recados eram entregues pelos outros dois suspeitos, os irmãos Everson dos Santos Guimarães e Evandro dos Santos Guimarães. O padre deveria devolver o bilhete, para que não houvesse prova das ameaças, e entregar o dinheiro.

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Pelo telefone, no entanto, as ameaças continuaram. Em uma das conversas gravadas pela polícia, Eletério e Batista ameaçam envolver o filho dela, que acusaria o padre de abuso sexual. Segundo o advogado do acusado, nesta gravação o padre afirma que estava sendo investigado e que as coisas “não acabariam bem”. Júlio Lancelotti nega qualquer tipo de abuso.

Voltei
É… Que coisa, não?

Eu estou errado, ou o padre, até agora, negou o abuso infantil, mas não uma relação amorosa com Anderson? Claro, estamos no país em que se considera que um filho fora do casamento do presidente do Senado é só “uma questão privada” — bem como a origem dos recursos para o pagamento da pensão…

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Parece-me haver algo no ar mais ou menos assim: “Bem, pessoal, se o padre não abusou de crianças, tudo bem”. Tudo bem, nada! A depender da idade de seu objeto de desejo, interessa, sim, às leis civis. E, a ser verdade o que diz o advogado do correria, interessa desde sempre às leis da Igreja.

Fazer sexo consensual com alguém de 16 anos é molestamento infantil? Acho que indivíduos nessa idade sabem muito bem o que fazer com seu aparelho genital (e adjacências). Tanto com o seu como com o alheio. Parece-me que o que caracteriza a pedofilia é um abuso da inocência. A trajetória de Anderson supõe muita coisa: inocência, não.

O que estou tentando evidenciar é que a acusação de pedofilia poderá funcionar, nesse caso, como uma cortina de fumaça. O conjunto da obra, se querem saber, pode apontar menos para a pedofilia do que para um estrepitoso caso de relação passional entre dois machos adultos. Foi isso mesmo? Não sei. O que é óbvio é que não faltam heterodoxias na relação entre o cidadão Júlio e o cidadão Anderson. O problema é que o cidadão Júlio é também um padre da Igreja Católica e uma liderança política. Mais: está ligado a ONGs que movimentam uma soma fabulosa de dinheiro público.

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A hierarquia católica, para variar, está fazendo bobagem. O que se espera dela? Que saia condenando o padre? É claro que não. Que tenha prudência. A história nada tem de convencional. O amor cristão não é mediado por carros de luxo, entrega de dinheiro em espécie — mais um que não confia nos bancos, né? —, promiscuidade entre o pastor e suas ovelhas… Na melhor das hipóteses, na mais generosa com Lancelotti, o padre está com dificuldades de distinguir o bem do mal. E essa confusão, mostra a sua trajetória, não se limita às suas relações privadas. Estende-se à sua atuação pública.

Compreende-se por que Julio Lancelotti vive a satanizar por aí as autoridades encarregadas de lidar com menores infratores e com o chamado “povo da rua”. Convenham: ninguém conseguira ter com a causa o seu grau de comprometimento, não é mesmo? O problema é que se tornou uma referência do debate e o grande pauteiro dos jornalistas que cobrem assuntos da cidade.

O advogado de Anderson também aponta a fabulosa soma de R$ 600 mil, que teriam sido “doados” pelo padre ao ex-interno da Febem. Verdade ou mentira? É o que se vai ter de apurar. No terreno estrito da lógica, é um valor mais compatível com os negócios feitos pelo rapaz no período, o que compreende alguns carros de luxo.

Pobre Igreja Católica de São Paulo! Tão perto da teologia achada na rua! Tão longe de Deus!

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