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Presidente Dilma, não se sacrifique por mim! Troco por renúncia. Ou: Lá vem ela espancar Guimarães Rosa

Ai, que preguiça Dilma me dá! A cada vez que ela não tem o que dizer, lasca um Guimarães Rosa para preencher o vazio. Pior: é sempre o mesmo trecho, como um disco arranhado. É sempre o mesmo Riobaldo de “Grande Sertão: Veredas”, citado pela metade — que a memória ali é curta para mais […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 00h42 - Publicado em 14 ago 2015, 22h57

Ai, que preguiça Dilma me dá! A cada vez que ela não tem o que dizer, lasca um Guimarães Rosa para preencher o vazio. Pior: é sempre o mesmo trecho, como um disco arranhado. É sempre o mesmo Riobaldo de “Grande Sertão: Veredas”, citado pela metade — que a memória ali é curta para mais de uma oração principal e uma subordinada. Vamos ver.

A presidente foi a Salvador nesta sexta participar do programa “Dialoga Brasil”, depois de entregar algumas unidades do Minha Casa Minha Vida em Juazeiro. Disse na capital baiana que vai trabalhar pelo país mesmo “debaixo da pressão, desfaçatez e intolerância”. É mesmo?

Sensatez foi o que se viu no Palácio do Planalto nesta quinta, com o presidente da CUT, o senhor Vagner Freitas, pregando luta armada. Querem maior prova de tolerância do que aquilo?

Então ficamos assim: no que me diz respeito, abro mão do sofrimento. Dilma pode fazer por menos. Não quero que se sacrifique por mim. Troco minha parte pela renúncia. E todos podemos ficar felizes!

Demonstrando que não há a menor chance de que venha a aprender alguma coisa, disse o seguinte:
“Vou fazer uma afirmação até um pouco pretensiosa: se tem uma coisa de que tenho orgulho foi do que fizemos no governo Lula e no meu governo em relação ao Nordeste. E isso eles [a oposição] jamais vão tirar de nós.”

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Quem quer tirar o quê de Dilma? Ela é que traiu a esperança e a confiança de milhões.

E aí veio o Riobaldo pela metade:
“A vida quer da gente é coragem”. Ela se saiu com essa no discurso de posse, no dia 1º de janeiro de 2011, quando, então, chamou Rosa de “poeta da minha terra”. Sim, ambos são de Minas, mas Rosa não era poeta. Aliás, na ocasião, ela atribuiu ao escritor uma frase que é um dito popular: “O que tem de ser tem muita força”…

Políticos adoram fazer citações literárias, mais ou menos com o mesmo propósito com que antigamente se compravam livros de capa dura para enfeitar a estante.

Rosa está longe de me seduzir, sabem os meus leitores mais antigos, mas cumpre recuperar a fala mais completa de Riobaldo, que é um pouco mais do que essa tola valentia contra adversários que Dilma sugere. A inflexão, na obra, tem um caráter mais existencialista do que guerreiro, mesmo na boca de um ex-jagunço:
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito – por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava.”

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Como se nota, é um deixar-se estar no mundo, em um propósito previamente definido, sem um projeto de poder, sem servir a um senhor que não seja a urgência de viver. Isso é precisamente o contrário do cinismo da política.

Acho Rosa superfaturado — já escrevi isso até em livro e apanhei o tanto proporcional à quase unanimidade que ele representa, engrossada por uma fatia enorme do que não o leram… Mas é evidente que ele não pode ser barateado assim.

Depois de fazer piadinhas sem graça com a palavra “pedalada”, o governador da Bahia, Rui Costa, afirmou o seguinte:
“Vejo gente que perdeu a eleição e não aceita. Quer maltratar o povo e criar o caos no país”.

O público, rigidamente selecionado, responde: “Não vai ter golpe” e “Olê, Olê, Olê, Olá/ Dil-má, Dil-má”.

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