Por que o assessor de Gilberto Carvalho tem essa estrovenga na mão e exibe esse ar de perversa satisfação?
Vejam esta foto: Foi publicada na edição de sábado do Estado. Este que aparece aí é Paulo Maldos, assessor do ministro Gilberto Carvalho. Isso que ele tem na mão, que exibe por aí como um troféu nas mais variadas circunstâncias (vocês verão), é uma bala de borracha que, segundo ele, o atingiu durante a reintegração […]
Vejam esta foto:
Foi publicada na edição de sábado do Estado. Este que aparece aí é Paulo Maldos, assessor do ministro Gilberto Carvalho. Isso que ele tem na mão, que exibe por aí como um troféu nas mais variadas circunstâncias (vocês verão), é uma bala de borracha que, segundo ele, o atingiu durante a reintegração de posse do Pinheirinho.
A imagem NUNCA DIZ MAIS DO QUE MIL PALAVRAS. A imagem pode sintetizar milhões delas, que, ainda assim, precisam ser ditas e escritas para que tenhamos ainda mais clareza do objeto tratado.
Olhem a cara de Maldos.
Insatisfação?
Indignação?
Dor?
Fúria?
Rancor?
Revolta?
Não!
O nome do que se vê acima é prazer!
Se, agora, fosse o caso de evocar Freud, teria de visitar os meandros do masoquismo — o homem que se afeiçoa ao instrumento que o machuca. Mas é bom deixar o doutor de lado. Isso está mais para Marx — um Marx mixuruca, mas está. Aquele rosto que se vê ali é de vitória. Voltem lá. O que fazem aqueles olhos voltados sabe-se lá para onde? Ele posa para o fotógrafo, mas mira uma outra coisa. Nota à margem: também ele exibe aquela aliança ou anel preto, que vejo nas mãos de muitos “progressistas”. O que significa? Não tenho a menor idéia. Vai ver esquerdistas nascem com predisposição para anéis pretos… Se alguém tiver alguma explicação melhor…
Já que ninguém perguntou, então pergunto eu: o que fazia Maldos em plena madrugada de domingo, lá no Pinheirinho? “Ah, estava lá para proteger a população”, poderiam responder o militante e o ingênuo. Mas proteger do quê? “Ora, Reinaldo, da reintegração de posse!” Ah, havia a decisão da reintegração, certo?, de cumprimento obrigatório pela Polícia Militar? Então Carvalho e Maldos sabiam que ela iria acontecer, como sabiam os tais “líderes” do Pinheirinho, mas engabelaram os moradores, mantendo-os na ignorância.
Eis aí. Parece que o objetivo era mesmo usar o lombo dos pobres em benefício de uma causa política.
Ora, todo mundo sabe que uma operação de ocupação envolvendo três mil pessoas (nem 9 mil nem 6 mil) tende mesmo a ser conflituosa, especialmente quando há a disposição para reagir à ação da polícia. Ainda assim, não houve o esperado “massacre”.
Pergunto: o que distingue, nesse caso, o trabalho de Maldos do de um agitador qualquer? Em que ele se diferencia de um agente infiltrado, disposto a investir no quanto pior, melhor? Carvalho falta com a verdade de modo absoluto ao afirmar que estavam em curso “negociações”. Não estavam mais! Isso a juíza já deixou claro de modo insofismável. Elas já haviam sido encerradas. Também estava definida a incompetência da Justiça Federal para cuidar do caso.
Os moradores do Pinheirinho, em suma, estavam à mercê de oportunistas, que se prepararam para o banho de sangue que não houve. E a operação “de resistência”, àquela altura, estava sendo coordenada, como se vê, pelo gabinete de Gilberto Carvalho, assim como o de Maria do Rosário comandou a tentativa de sabotagem à retomada da área em que ficava a cracolândia — essa operação apoiada por 82% dos paulistanos.
Este Maldos ser apresentado como uma vítima ou herói do Pinheirinho é evidência da degradação intelectual de consideráveis setores do jornalismo. E não que ele tente disfarçar, não é mesmo? Ele posou (Emir Sader escreveria “pousou”) para outras fotos. Numa delas, não resiste e ri a pregas soltas, como se diria em português castiço, sempre com a estrovenga na mão.