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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Pensando no contragolpe

Alguns leitores identificaram ontem o que seria o meu pessimismo, que eu prefiro chamar de realismo. O que penso de Lula, de seu governo e do que nos espera está claro, creio eu, em alguns dos 2.401 textos publicados neste blog — este é o de número 2.402. O meu compromisso, sem jamais abrir mão […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h06 - Publicado em 17 out 2006, 06h11
Alguns leitores identificaram ontem o que seria o meu pessimismo, que eu prefiro chamar de realismo. O que penso de Lula, de seu governo e do que nos espera está claro, creio eu, em alguns dos 2.401 textos publicados neste blog — este é o de número 2.402. O meu compromisso, sem jamais abrir mão de dizer o que penso e quais são as minhas escolhas, é com os fatos. Alguns tolinhos andaram me espinafrando porque eu teria me deixado levar pelas pesquisas. Besteira. Deixo-me levar pelo que percebo e pelos critérios que adoto para ver a realidade. Quando meio mundo negava a possibilidade de segundo turno, eu a sustentei aqui — em alguns casos, contra as pesquisas. Aliás, éramos Diogo Mainardi e eu. Nenhum grande mérito que não a percepção de que estava em formação uma onda anti-Lula.

Mas as oposições não souberam aproveitar o momento, e ela se desvaneceu rapidamente. Temos hoje o candidato Geraldo Alckmin numa posição absurdamente defensiva no que respeita às privatizações. Trata-se de uma questão fantasma. O tucano jamais falou em privatizar qualquer coisa se eleito — tampouco a Petrobras ou o Banco do Brasil, mas o “debate” — falso debate — colou. Indagado por Paulo Markun, no programa Roda Viva, se isso não era o tal terrorismo, usado contra o PT em 1989, Lula disse que não, é claro. Segundo ele, os tucanos têm uma história que o autoriza a lançar tais suspeições, e Alckmin que as desminta.

Jamais vi cinismo tão escrachado. O Brasil não fez as privatizações que fez por ideologia. Se houvesse um pingo de honestidade intelectual em Lula — ao menos —, poderia até ter dito que o câmbio valorizado do primeiro mandato de FHC acabou alimentando o buraco da dívida pública, de sorte que o dinheiro arrecadado com a venda das estatais acabou tendo um impacto menor do que deveria etc e tal. Mas não. Seria esperar demais do debate. Lula voltou a fazer o discurso rombudo do estatismo e chegou a defender o antigo modelo da Telebrás. Ele sabe muito bem que planta em terreno fértil; ele sabe muito bem que a cultura antiprivatização foi alimentada, inclusive por setores da mídia, ao longo desses anos.

Telemar-Gamecorp
Quando foi que Lula chegou a ficar um tanto exaltado no Roda Viva? Quando se falou do caso Telemar-Gamecorp. Na sua formidável capacidade de igualar desigualdades no balaio dos gatos pardos da história, indagado se havia feito um acordo com Alckmin que previa não se tocar no assunto dos vestidos de Dona Lu nem na empresa de Fábio Luiz da Silva, o Lulinha, Lulão disse que jamais fez campanha política tratando de assuntos pessoais.

Qual assunto é “pessoal”, cara pálida? Não são nem os vestidos da ex-primeira-dama de São Paulo nem os R$ 15 milhões que a Telemar injetou na empresa do filho do presidente. Mas como aqui se fala de desigualdades, cumpre lembrar que o tal costureiro que deu as peças a Lu Alckmin é um ente privado — não aprovo a relação, mas também não vou fingir que tudo é a mesma coisa. Não é. A Telemar é uma concessão, e quase metade do seu capital vem de dinheiro público: fundos de pensão e BNDES. Bem orientado — quem não gostaria de ter um Márcio Thomaz Bastos para chamar de seu? —, o presidente respondeu que, se houver alguma ilegalidade, que seu filho seja punido.

Um boa pergunta ainda lhe foi feita, creio que pelo mesmo Cristiano Romero que lhe lembrou a formação do capital da Telemar: ainda que legal, foi uma transação moral, considerando que o rapaz é filho do presidente e que decisões do governo afetam uma concessionária de serviços públicos? Lula foi salvo por um gongo chamado Tereza Cruvinel, interessadíssima em discutir “po-lí-ti-ca”, como ela disse, separando bem as sílabas. Com efeito, Lula, num debate sobre polícia, pode se enrolar um tanto.

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Então…
Vejam só: não há qualquer pessimismo ou, como chegou a dizer alguém, “desistência”. Tanto não há, que considero terrorista o argumento de que, se Lula vencer e ficar provado que cometeu crime eleitoral, apeá-lo do poder seria golpe. Golpe é não aplicar a lei. Acontece que a campanha das oposições perdeu 90% do seu tempo com a tal agenda propositiva — que, convenha-se, de propositivo tinha pouco, a não ser dizer que faria com mais competência o que já vinha sendo feito —, abdicando da tarefa civilizadora de desconstruir, desde o princípio, Lula e suas burrices. Vocês sabem quantas vezes cobrei isso aqui.

É patético que não se consiga, no caso das privatizações por exemplo, demonstrar o bem que elas fizeram ao Brasil. E nem é preciso falar da Embraer ou da Vale do Rio Doce. Que se fale de telefone, coisa que o brasileiro conhece de perto. Que se lembre que Antonio Palocci, em Ribeirão Preto, privatizou a empresa local de telefonia. E, no caso, parece que o preço realmente não foi o melhor . Os computadores que Lula está prometendo para as escolas, se chegarem, só existirão porque há uma fantástica tecnologia da informação que foi gerada pelo capital privado. Optar pelo debate político, demonstrando que as estatais se transformaram em aparelhos do petismo, é uma obrigação de um partido de oposição.

Mas…
Nada disso se faz. Ao contrário: para tentar atrair o PDT, Alckmin assinou um documento comprometendo-se a não privatizar. Naquela hora, em vez de atrair o PDT, estava era cedendo ao terrorismo petista. Não contem comigo para certezas místicas, meus queridos. Não quando se trata de eleições ao menos. Reservo esse tipo de fé para outras esferas, bem mais insondáveis. Acredito que política, a despeito de todas as acidentalidades e casualidades, ainda é o resultado de um conjunto de ações objetivas; o processo é quase matemático. Colhe-se o resultado de erros que foram sendo meticulosamente cometidos desde… o ano passado! Mas isso fica para mais tarde.

Já disse o que acho, e reitero: Lula não deveria nem mesmo estar exercendo o mandato — menos, então, gozar da condição de candidato favorito. Uma vez candidato, não deve ser eleito; se eleito, deve tomar posse se a Justiça não o impedir; tendo tomado posse, devemos recorrer à lei para tentar lhe cassar o mandato. É a isso que Tarso Genro deve chamar “lacerdismo”, com a ligeira diferença de que foi a turma do dossiê que tentou dar um golpe…

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Mas não dá para ficar endossando uma impressionante sucessão de erros. O importante é manter mobilizados os sensores da democracia, estes que Lula tão solenemente despreza — meras “manchetes de jornal”, segundo ele próprio. Ao contrário do que sugeriram alguns, estou é muito animado. A luta contra o petismo, vença Lula ou Alckmin, é longa, de fôlego e de resistência. Está mais para maratona do que para cem metros rasos. Não acho que a vitória do petista possa nos trazer nada de bom. E já escrevi o que penso sobre cálculos cínicos segundo os quais 2010 cairá no colo de quem for mais hábil para fazer o jogo duplo. Não cai, não.

Do ponto de vista intelectual, como analista, sinto-me até recompensado. Eu jamais — podem procurar — disse que vencer Lula era uma tarefa fácil. Ele e seu partido mobilizam o que o país tem de pior, de mais atrasado, provinciano e recalcado. E conseguem revestir esse atraso com uma linguagem de progresso social. Tudo conforme sempre adverti. Mas conseguiu retomar a agenda. Infelizmente.

Se as próximas pesquisas trouxerem a diminuição da diferença entre Lula e Alckmin, isso será para mim uma surpresa. Uma agradável surpresa. Mas acho muito razoável que aconteça o contrário. O voto contra Lula, entendo, é uma questão de decência. Estou na Frente Ampla. Animadíssimo. E, por isso mesmo, de olho no passo seguinte. A exemplo de Lulão, quero saber quem é “o arquiteto” do crime. Sei que falo aqui a quem já tem a sua decisão tomada — o que vale também para os petralhas. Por isso mesmo, este é um texto que trata da necessidade de reorganizar o meio de campo.

Tudo indica que este jogo não tem terceiro turno, como dizem os petistas. Mas tem terceiro tempo. Estou aqui, pronto para a batalha. “Lute, covarde!”.

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