Pela primeira vez, Dilma admite NÃO CONCORRER à reeleição
Estranharam o título? É diferente do que vocês andaram lendo? Eu explico. E depois vocês me dizem se tenho ou não razão. Algumas coisas são mesmo curiosas. Eu também li na Folha o seguinte: “Dilma cita 2º mandato pela primeira vez”. É? Ainda pensei: “Pô, já está falando nisso?” Fui ler. Reproduzo em vermelho trecho […]
Estranharam o título? É diferente do que vocês andaram lendo? Eu explico. E depois vocês me dizem se tenho ou não razão.
Algumas coisas são mesmo curiosas. Eu também li na Folha o seguinte: “Dilma cita 2º mandato pela primeira vez”. É? Ainda pensei: “Pô, já está falando nisso?” Fui ler. Reproduzo em vermelho trecho da reportagem do jornal que relata a visita da petista a Porto Velho, em Rondônia:
O repórter de uma rádio local perguntou à presidente se a população poderia sonhar com a construção de uma ferrovia entre a cidade e o município de Vilhena (RO).
Dilma respondeu: “Você pode sonhar. Agora, eu não vou ser demagógica de te dizer que sai amanhã. Não sai, porque nós ainda…”
O repórter a interrompeu e disse: “Segundo mandato?”
A presidente continuou: “Estamos fazendo Uruaçu. Se tiver segundo mandato… nós estamos fazendo Uruaçu-Lucas do Rio Verde.”
Epa! Isso não é admitir segundo mandato! “Vou ver o que informa o Estadão”, pensei. E achei:
“Dilma levanta possibilidade de segundo mandato”. Leio então:
Um dos jornalistas perguntou se poderia “sonhar” com a construção da ferrovia ligando a capital de Rondônia à cidade de Vilhena ainda durante o governo Dilma. A presidente respondeu: “Você pode sonhar. Agora, eu não vou ser, assim, demagógica de te dizer que sai amanhã. Não sai, não”. Antes de completar a resposta, o jornalista interveio – “Segundo mandato…” – e Dilma completou: “Estamos fazendo Uruaçu… Se tiver segundo mandato. Nós estamos fazendo Uruaçu-Lucas do Rio Verde.”
Os relatos são coincidentes, as interpretações também. O que posso dizer? Ignoram o fato, a gramática e a lógica.
O sistema brasileiro permite uma reeleição consecutiva. Governante que não tentasse a segunda jornada estaria admitindo o seu fracasso, o que os políticos não fazem nem quando diante das evidências. Com seis meses de mandato, então, nem se diga. Concorrer à reeleição é a regra; não concorrer é que é a exceção.
A gramática pode ajudar. “Se tiver segundo mandato” é o que se chamava, no tempo em que se ensinava língua portuguesa nas escolas em vez de “comunicação e expressão” (ou qualquer empulhação mais recente), “Oração Subordinada Adverbial Condicional”. Expressa uma condição para que se realize um fato enunciado na oração principal. Quase sempre, o emissor expressa uma dúvida.
Assim, dado que regra é a reeleição e tendo ficado evidente que Dilma pôs essa regra em dúvida, na condicional, flertando com a exceção, a gramática e a história política só permitem um título: “Pela primeira vez, Dilma admite NÃO concorrer à reeleição”.