Os petistas e o assassinato de um “classe-média”. Ou: Pobre dar tiro na cabeça de um “classe-média” é justiça social?
É mesmo uma pena para os brasileiros o fato de as oposições, no Brasil, serem tão moles com o PT, tão condescendentes, tão temerosas — às vezes, beirando a pusilanimidade. Mais nefasto ainda para a população é o fato de os adversários do petismo — tucanos em particular — passarem mais tempo praticando tiro ao […]
É mesmo uma pena para os brasileiros o fato de as oposições, no Brasil, serem tão moles com o PT, tão condescendentes, tão temerosas — às vezes, beirando a pusilanimidade. Mais nefasto ainda para a população é o fato de os adversários do petismo — tucanos em particular — passarem mais tempo praticando tiro ao alvo contra os próprios parceiros do que combatendo os reais adversários. Não fosse assim, o debate no país seria mais qualificado, e certo absurdos não seriam praticados.
No post anterior, comento um texto publicado num site do PT sobre a intervenção da presidente da Fundação Casa na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia. Naquele mesmo texto, lê-se esta pérola:
Comento
Estranho seria se um debate como esse surgisse quando “ALGO NÃO ACONTECE”. Desde que o homem iniciou sua trajetória neste “planetinha” (como Lula chamou a Terra, certa feita, deixando claro que ela já é pequena demais pra ele), tende a oferecer respostas para “algo que acontece”. O texto só é troncho desse modo porque, no fundo, o que aquela senhora está dizendo é outra coisa: “Esse debate acontece sempre que é assassinado alguém de classe média”.
Na verdade, os petistas — e alguns perturbados morais da imprensa — consideram que estamos diante de uma expressão da luta de classes. O pensamento subjacente é o seguinte: “Quando morre um pobre, ninguém liga!” Quem disse que não? “Ah, mas tem menos visibilidade!” Pode ser, mas não por preconceito. Pergunta: se a lei punir com mais rigor o menor assassino, ela será aplicada para todos os menores assassinos ou só para aqueles que matarem jovens “de classe média”? A impunidade no Brasil, já escrevi aqui, também é matéria de (in)justiça social: quem fornece a carne barata dos 50 mil homicídios por ano no país são os… pobres!
Mas entendo a alma petista. No fundo, eles acham que a “classe média” não tem de reclamar quando um dos seus leva um tiro na cabeça. Esquerdistas dessa espécie e boa parte dos intelectuais subacadêmicos têm nojo disso que chamam “classe média”; acham que ela é a pura expressão do reacionarismo e do conservadorismo. No fundo, esses delinquentes morais acham que um “pobre”, como o Dito-Cujo, ao matar um “classe-média”, como Victor Hugo Deppman, está praticando uma variante da justiça social — um pouco bruta, claro!, mas justiça ainda assim.
Essa visão de mundo deveria ser devidamente tratada nos programas políticos e eleitorais do adversários do PT — desde que estes não pensem a mesma estupidez, é claro! Não para fazer um debate histérico, raivoso, desinformado. Mas para gerar, justamente, luz. Quem são as pessoas que acham razoável que se coloque a condição de “classe média” de Victor Hugo Deppman acima da sua vida?
E que se note: Deppman era um garoto de 19 anos, que trabalhava para sustentar os próprios estudos. Não era um desses “porcos capitalistas” que o PT tanto execrava no passado e que hoje trata a pão de ló. Mas esperem: ainda que fosse, seria, de algum modo, aceitável que levasse um tiro na cabeça?
Que acusação os petistas tinha contra Deppman? Ser um “classe média”?
Trata-se de um texto covarde — porque não diz inteiramente o que pretende dizer — e asqueroso porque diz o suficiente para que possamos entender o que efetivamente disse.