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Reinaldo Azevedo

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Os Emirados Sáderes na Cartilha Capital: conspiração contra a língua portuguesa e o senso de ridículo

A revista Carta Capital — ou Cartilha Capital (ao menos essa cartilha existe, não é?) — é um prodígio. Consegue, na mesma edição, dar uma capa ao pedido de arquivamento do caso Celso Daniel e publicar uma entrevista com o mártir de si mesmo Emir Sader. Uma observação rápida sobre o prefeito assassinado. Diz a […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h58 - Publicado em 27 nov 2006, 19h17
A revista Carta Capital — ou Cartilha Capital (ao menos essa cartilha existe, não é?) — é um prodígio. Consegue, na mesma edição, dar uma capa ao pedido de arquivamento do caso Celso Daniel e publicar uma entrevista com o mártir de si mesmo Emir Sader. Uma observação rápida sobre o prefeito assassinado. Diz a Cartilha que o caso foi usado contra Lula na campanha eleitoral. É mentira. Não foi. Desafia-se a Cartilha a apresentar uma só peça de propaganda tucana que trate do assunto. De resto, à diferença do que diz essa publicação “independente”, a delegada pediu o arquivamento da investigação, sim, mas ela prossegue por determinação do Ministério Público. Agora vamos a esse planeta lingüístico chamado Emirados Sáderes.

A revistinha — bem “inha”, com 74 pagininhas — publica uma entrevistinha com o maiúsculo sociólogo. Numa conspiração que junta o rigor lingüístico de sempre do homem da “expolição” e do “opróbio” com a severidade editorial que já é um clássico do jornalismo brasileiro, Cartilha consegue, em uma miserável página, cometer quatro erros de regência e três de pontuação. Alguns, sem dúvida, têm Sader como fonte. Mas não custava à Cartilha ter melhorado o português miserável do “secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais” (Clacso).

A legenda da foto de um Sader com ar muito grave, severo na sua inteligência, como direi?, espartana, manda bala: “Sader diz que, de qualquer forma, prefere ser criticado do que elogiado pela revista Veja”. Huuummm. O verbo “preferir” não foi feito para humilhar ninguém. É dotado da chamada regência flex: pode ser intransitivo e, mais freqüentemente, bitransitivo. Mas não aceita qualquer combustível, coitado! Sader poderia preferir “ser criticado A ser elogiado por Veja”. O gosto é livre. Mas a regência preexiste a este “inteleliquitual” abaixo de qualquer suspeita de rigor científico.

Vá lá. O redator deve ter cochilado. Há certamente coisas da lavra dos Emirados Sáderes”. Ele diz, por exemplo, “ter incomodado AOS que querem (…)” Bastaria ter “incomodado OS”, e já estaria de bom tamanho. Ainda sobre Veja, afirma: “Se esta revista escolhe A alguém”. “Escolher” também é flex: na versão transitiva indireta, anda bem com um “entre”, mas refuga o “a”. Em certas construções de apelo literário, admitem-se licenças estilísticas — “Eu a escolhi, e você, a mim” —, mas é recomendável que Sader fique longe da literatura. Ainda em sua batalha contra a “inculta e bela”, diz ele: “Essa é a esquerda que a direita gosta”. Não, não. Gostar, nessa acepção, é transitivo indireto: “de que a direita gosta”. É até possível um gostar transitivo direto no sentido de provar, comer, degustar, desfrutar, aproveitar, gozar. Mas sabem como é… Nós, “da direita”, não fazemos essas coisas com a esquerda. Receio de indigestão… Se gostamos de alguma esquerda, será sempre com a intermediação da preposição. Afinal, como diria Schopenhauer Genoino, “uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa”.

O redator continua colaborando. Logo na largada da entrevista, numa apresentação de 12 linhas, escreve: “Na seqüência da violenta decisão da Justiça da qual recorreu”… Assim, sem a primeira virgulazinha explicativa depois da palavra “justiça”, que faria um par harmonioso com a outra, depois de “recorreu”. Adiante, já reproduzindo a fala do entrevistado, lemos: “(…) uma pessoa que ia utilizar todos os recursos para publicar um livro do projeto, abandonou-o, quando soube (…)”. Esta segunda vírgula, vá lá, demanda certa manha. Imaginem ter de explicar para a Cartilha que o lugar do advérbio, mesmo quando oração, é no fim da frase. Estando lá, dispensa a vírgula. Já a primeira… Vírgula entre sujeito e predicado é coisa feia. Mesmo quando o sujeito da oração principal é, também ele, uma oração, como é o caso. Naqueles domínios, parece valer a máxima de botar uma vírgula quando se respira. Recomenda-se à Cartilha não contratar asmáticos.

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Por que me apego a minúcias? Ora, vocês queriam que eu debatesse o pensamento profundo de Emir Sader? A mim me basta (objeto indireto pleonástico anteposto…) apontar que ele seja o superpoderoso da tal Clacso, professor, doutor e grande intelectual — fartamente financiado com dinheiro público — e escreva como um ginasiano. O título da reportagem de Cartilha é “Um sociólogo na berlinda”. Sem dúvida.

Ah, sim: Sader afirma à revista que a Boitempo venceu uma licitação para publicar um livro financiado por uma fundação alemã. Não diz que seu adversário nessa questão, o economista César Benjamin, tem um e-mail em que ele, Sader, combina com a editora Ivana Jinkins, ANTES DA LICITAÇÃO, a publicação do dito-cujo. Uma nota final sobre a independência editorial de Cartilha Capital: Benjamin é chamado de “informante”, epíteto com que a esquerda costumava premiar seus desafetos, inclusive aqueles que, atropelados pelo bom senso, desertavam de suas fileiras homicidas.

Sader também afirma que a mídia “de direita” está perdendo leitores, o que é de gargalhar. E ele o faz numa revista de 74 páginas, com 14 de anúncio. Destas, duas são calhau (jargão para designar anúncios da própria casa) e três são permutas (anúncios trocados com outros veículos). Sobraram 9 páginas de anúncios provavelmente pagos. Destas, 4 (44,44%) são de estatais federais: duas do Banco do Brasil e duas da Caixa Econômica Federal. Independência é tudo. Sader e Ivana divulgaram um comunicado dia desses afirmando que a editora Boitempo não se verga às pressões do mercado. Pelo visto, Carta Capital também não. Enquanto houver estatais…

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