Obama, o pateta, abre mão de sua liderança para ser conselheiro moral
A esta altura, o chefe da maior máquina militar do mundo deveria estar liderando a reação ao Estado Islâmico; em vez disso, está fazendo proselitismo nas redes sociais
Barack Obama, presidente dos EUA, supera todas as minhas piores expectativas a respeito de sua incapacidade de lidar com a complexidade do mundo. Ainda me lembro do poder que tinham as suas batatadas em 2008, quando começava na obviedade, caminhava para a tautologia e terminava em algum lugar entre, sei lá, Lincoln e John Lennon…
Pois é…
Todas as suas iniciativas, sem exceção, malograram. Ou a emenda saiu pior do que o soneto. E, por favor, não venham me falar do acordo nuclear com o Irã — em que, bem, só Irã saiu ganhando.
Os “republicanofóbicos” podem fingir acreditar que o atual estágio do Oriente Médio ainda é fruto da ação americana no Iraque e no Afeganistão — obra, pois, de George W. Bush. Mas sabem que isso é tão falso como uma nota de US$ 3.
Esse terrorismo que aí está, com a sua ousadia, multiplicado em metástases, é a consequência mais grave, virulenta e perigosa da leitura que o senhor Barack Obama e seus aliados ocidentais fizeram da dita “Primavera Árabe”. E a situação só não é ainda mais dramática porque os militares resolveram botar os tanques nas ruas no Egito. Ainda assim, o terror jihadista, como se sabe, se instalou também no Sinai.
Os erros cometidos são, a esta altura, autoevidentes; não precisam ser demonstrados. Acreditar, contra todas as evidências, que as forças que se levantavam contra ditaduras árabes, com aquela fúria, aquele grau de organização e aquele armamento, constituíam uma primavera democrática era um erro — insisto nisto desde os primeiros dias, como sabem — que traria consequências trágicas. Estão aí.
Democratas não crescem nas sombras, como bolor ou musgo. Os terroristas sim. Usar como pretexto as atrocidades de Bashar Al Assad ou de Muamar Kadhafi para ignorar o risco de facínoras ainda mais sanguinolentos foi um primado da estupidez, inclassificável. Onde não existe o bem, fica-se entre a omissão, quando isso é possível, é o mal menor. As potências ocidentais decidiram não ser omissas. Só que optaram pelo mal maior.
E agora?
Que estrategista recomendou à Casa Branca que os EUA batessem em retirada do Iraque e, ao mesmo tempo, apoiassem a desestabilização de Assad na Síria, de sorte a abrir aquele vasto território ao terror? E, bem, infelizmente, essa minha crítica não é a de engenheiro de obra pronta, não é? O arquivo do blog está à disposição para consulta. Escrevam lá na área de busca “Primavera Árabe” e “terrorismo” (sem aspas) para ler o que escrevi a respeito ao longo dos anos.
Obama está permitindo que Vladimir Putin, o verdugo da Ucrânia, assuma o protagonismo na luta contra o Estado Islâmico. Cada país do Oriente Médio faz o seu próprio jogo, sem que o chefe da maior máquina militar do mundo tenha uma só palavra relevante a dizer — ao contrário: seus “especialistas” estão ocupados em fazer guerrilha de opinião das redes sociais. Obama é um pateta.
A Rússia, como é sabido, mantém seu apoio a Assad, com o que concorda o Irã. Obama e o Reino Unido não aceitam sustentar o ditador do que resta da Síria, que enfrenta, por sua vez, grupo armados, dedicados apenas ao terrorismo interno, sustentados pela Arábia Saudita e pelo Catar — aliás, a Al Jazeera, do emir fanfarrão, fez um trabalho muito eficiente em favor da desestabilização do Oriente Médio…
O governo da França, vítima de dois atentados brutais em dez meses, clama na ONU por uma coalizão internacional que decida enfrentar, de verdade, o Estado islâmico. E é evidente que isso não se fará sem a ocupação daquele território, o que teria de ser feito em consonância com os governos do Iraque e da Síria — ocorre que os EUA financiam os que tentam derrubar Assad…
Onde está Barack Obama?
Eu conto. Nesta quinta, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou, por 289 a 137 votos, um projeto de lei realmente polêmico, embora compreensível, que cria severas barreiras para a entrada de imigrantes sírios e iraquianos no país; nada menos de 31 dos 50 Estados americanos afirmaram que não pretendem abrigar refugiados. O temor é que terroristas estejam infiltrados.
Não se trata, parece-me, de uma medida iluminada. E desconfio, por óbvio, de sua eficácia. A maioria dos terroristas da célula que cometeu os atentados de sexta passada na França é constituída de europeus, ainda que de origem árabe. O texto ainda vai ao Senado.
Pois bem… O Obama até agora omisso na questão principal surgiu na mídia — o terreno em que ele realmente se dá bem. Já anunciou que, se o texto passar no Senado, vai vetar. O governo pôs nas redes sociais uma campanha para demonstrar as pessoas notáveis dos Estados Unidos que chegaram ao país fugindo de guerras ou que são filhas de refugiados.
Notem: não estou criticando isso em particular, mas observando que a tarefa principal de Obama, no momento, não é ser o bom moço das redes sociais, mas liderar o mundo democrático na luta contra a barbárie.
E só aí, então, lhe cairia bem o papel de líder moral. Mas ele prefere ser omisso no principal para posar de conselheiro da humanidade.
Em suma, um pateta!