Obama e o Alcorão: fraco e pouco inteligente
Como vocês leram no post abaixo, o tal Terry Jones desistiu de queimar UM EXEMPLAR DO ALCORÃO. Mas o governo americano ainda não parou de queimar o bom senso. Antes que prossiga: a menos que se queira fazer o jogo dos extremistas islâmicos, é preciso deixar claro que o extremista evangélico queria queimar UM EXEMPLAR […]
Como vocês leram no post abaixo, o tal Terry Jones desistiu de queimar UM EXEMPLAR DO ALCORÃO. Mas o governo americano ainda não parou de queimar o bom senso.
Antes que prossiga: a menos que se queira fazer o jogo dos extremistas islâmicos, é preciso deixar claro que o extremista evangélico queria queimar UM EXEMPLAR do Alcorão, não “O” Alcorão. A diferença é importante. Assim como não dá para condescender intelectualmente com uma delinqüência, não para condescender com a outra.
Folgo em saber que Jones desistiu. Mas o governo Obama demonstrou uma estúpida fragilidade em todo esse episódio, como escrevi na madrugada. A Casa Branca e o Departamento de Estado não podem, representando mais de 300 milhões de cidadãos, assumir como um ato de todo um povo a estupidez deste ou daquele americanos. Dado o excesso de loquacidade oficial nesse caso, inclusive do presidente, a Casa Branca agiu rigorosamente com os mesmos critérios dos radicais islâmicos, admitindo que o gesto de um só implicaria a culpa de todos. O governo americano e, de certo modo, o Ocidente se tornaram, como escrevi, reféns do radicalismo — mas não do radicalismo de um líder evangélico.
O comportamento da Casa Branca foi inaceitável, subserviente ao olhar do inimigo. Inimigo? De que “inimigo” estou falando? Dos muçulmanos do mundo inteiro? É claro que não! Apenas os extremistas estavam protestando, como sempre. Assim como apenas os extremistas queimam o Alcorão, a Bíblia, a Torá, bandeira americana ou bandeira de Israel. Com algumas diferenças: extremistas, no Ocidente, costumam queimar coisas; aqueles outros costumam queimar pessoas.
Que o governo Obama tivesse de mobilizado para impedir o ato demencial de Jones, bem, isso seria não só aceitável como inteligente: é preferível apostar em menos conflitos a apostar em mais, especialmente quando eles são ou irrelevantes ou contraproducentes. Que tenha feito todo esse carnaval, aí é o fim da picada! Para quem? Para os americanos é que não foi. Para os defensores da liberdade de expressão, mesmo quando reprovável, é que não foi. Para os valores ocidentais é que não foi. O público para essa encenação é justamente o mundo muçulmano. Até aí, bem. Obama age direito ao tentar ganhar a adesão daqueles povos etc e tal. MAS NÃO À CUSTA DE UMA GRAVE DISTORÇÃO, QUE É ADMISSÃO TÁCITA DE QUE TODO UM POVO SERIA O RESPONSÁVEL PELO GESTO DE UM DELINQÜENTE.
Obama poderia ter sido inteligente sem ter sido fraco. Aos ser fraco, demonstrou também pouca inteligência.