O vídeo de “Porta dos Fundos” e o ânimo para a censura. Ou: Gastem melhor o nosso dinheiro!!!
Sei lá quem, nem me interessa, pediu que um vídeo do canal de humor “Porta dos Fundos” seja retirado do ar, o que está sendo avaliado pela promotoria de Justiça e Defesa dos Direitos do Consumidor do Distrito Federal. Trata-se de uma peça até sem graça. A cliente pede um sanduíche qualquer no balcão de […]
Sei lá quem, nem me interessa, pediu que um vídeo do canal de humor “Porta dos Fundos” seja retirado do ar, o que está sendo avaliado pela promotoria de Justiça e Defesa dos Direitos do Consumidor do Distrito Federal. Trata-se de uma peça até sem graça. A cliente pede um sanduíche qualquer no balcão de uma padaria, e o atendente lhe pergunta se ela não quer, no lugar, um órgão genital masculino (para tornar a linguagem, digamos, jurídica…). O texto é quase todo feito de sinonímias do dito-cujo, indo ao limite possível do chulo. Acho essa turma bastante talentosa e engraçada, embora perceba alguns laivos de alinhamento com o politicamente correto — ainda que isso só possa ser percebido na derivada — que pode um dia torná-los, como direi?, mais apostolares do que engraçados. E isso sempre corresponde à morte do humor porque vira pregação e agenda. Se escaparem, ótimo. Há entre eles excelentes atores para as peças curtas da Internet. Não sei como se dariam num trabalho de mais fôlego.
Esse vídeo, em particular, não tem graça nenhuma. Talvez para a meninada, sei lá… Quem, na juventude, leu “Justine”, de Sade, ou “Anti-Justine”, de Restif de la Bretonne, não se espanta com facilidade. Tá. Agora vamos à coisa em si.
Diga aí, leitor amigo, quantos cliques são necessários para que uma criança ou um adolescente tenham acesso a vídeos de sexo explícito? Não me refiro a palavras, como é o caso da tal peça de Porta dos Fundos. Falo de imagem mesmo, daquilo naquilo… Tenham paciência! O pedido é ridículo! A disposição para avaliar o pedido também é ridícula, ainda que possa ser uma obrigação inescapável.
E que se note: não me oponho à retirada apenas porque há coisa pior. Oponho-me porque, obviamente, se trata de censura — ainda que censura a um texto que, reitero, acho especialmente ruim, o que é, avalio, exceção nessa turma. Eles são muito bons naquilo que fazem. Se desistirem de ter uma “agenda”, serão ainda melhores. Mas isso é lá com eles.
Tentar tirar o vídeo do ar é coisa de gente intolerante. Por que faço referência aos vídeos pornográficos? Ora, ninguém vai se insurgir contra eles porque sabe que seria enxugar gelo, seria inútil. Quantos milhões de páginas há no gênero? Por que, então, enroscar com “Porta dos Fundos”? É que, no fundo — sem trocadilho —, quem se incomoda com aquela peça em particular talvez também ache a moçada boa, mas repudia seus “exageros”. Acontece que esse é um problema deles e do público, não dos incomodados. Para os casos de ofensas à honra e outros crimes possíveis, existe o Código Penal, que vale para mim, para quem reclama e para o Porta dos Fundos. O resto é intolerância.
Eu tenho opiniões claras e, com alguma frequência, incômodas (para muita gente; não para mim, que não concorro ao posto de Senhor Simpatia). Bato firme quando discordo de alguma coisa ou de alguém. Acuso, com frequência, distorções, contrabando ideológico, o diabo… Alguns tolos tentam confundir clareza e disposição para o embate com simpatia por alguma forma de censura. Ao contrário! Eu combato os petralhas porque sei que eles querem censurar a imprensa. Rui Falcão e Tarso Genro, nesta terça, fizeram a defesa do controle da imprensa num seminário a que compareceu a governanta.
“Então tudo é permitido em nome da liberdade de expressão?” Não! Uma das coisas que distinguem a democracia da ditadura é que, na democracia, vale o que está na lei (democraticamente pactuada). Na ditadura, vale a vontade de quem manda. A lei define como crime, por exemplo, a apologia do… crime!!! Logo, nem os humoristas têm o direito de fazer isso. Ou melhor: podem fazê-lo, mas terão de arcar com as consequências.
Evidentemente, não é o caso do tal vídeo. Mais: em matéria de humor, é preciso tomar especial cuidado em tempos de patrulha politicamente correta. Não sei ser engraçado, mas compreendo o caminho que leva à graça. Já lhes falei aqui do lema do busto de Arlequim: “Ridendo castigat mores”. Rindo, moralizam-se (criticam-se) os costumes. Toda graça tem, portanto, um lado sério — e isso independe da vontade do humorista. Para que algo faça rir, alguma peça do senso comum — ou dos valores dominantes em grupos influentes — tem de ser deslocada. Nem tudo, reitero, se permite aos humoristas, ou eles seriam um tribunal de revisão constitucional. Mas tomar a ironia e o sarcasmo como linguagem referencial é coisa de beócios.
Derivei um pouco. O tema pode render. Quero voltar ao leito. A tentativa de retirar o vídeo do ar é tão despropositada que fico aqui a me perguntar (é uma ironia) se a iniciativa não partiu de algum amigo do Porta dos Fundos… Afinal, ser censurado por pterodáctilos tem lá seu charme.
Faço aqui um pedido encarecido aos promotores e afins: usem o dinheiro do povo com mais sabedoria. De resto, “Porta dos Fundos” não pula na tela de ninguém. Só acessa quem quer. Que o sujeito seja juiz do seu gosto! Por que tem de ser juiz do gosto alheio também?
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