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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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O SONHO DE UMA DITADURA DE PESSOAS VIRTUOSAS

Na entrevista que concedi ao Canal Rural, que foi ao ar ontem — estou impressionado com a repercussão —, afirmei que eu também sou um homem bom, como todo mundo: sou a favor do meio ambiente, do bem, do belo e do justo, e sou contra a paralisia infantil, a gripe suína  e, vocês sabem, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 15h36 - Publicado em 3 abr 2010, 07h39

Na entrevista que concedi ao Canal Rural, que foi ao ar ontem — estou impressionado com a repercussão —, afirmei que eu também sou um homem bom, como todo mundo: sou a favor do meio ambiente, do bem, do belo e do justo, e sou contra a paralisia infantil, a gripe suína  e, vocês sabem, o Bolero, aquele, o do Ravel… Incomodam-me certas considerações sobre política que, sob o manto do bom senso, da bondade até, escondem ou uma grande ingenuidade ou concepções sobre a vida pública que não são exatamente democráticas.

Leiam este trechinho de um texto da Agência Estado:
Pré-candidata do PV à Presidência, a senadora Marina Silva reforçou [ontem] em Caruaru, a 130 quilômetros do Recife, a importância de maturidade do PT e do PSDB para restabelecer o diálogo diante de “questões estratégicas para o Brasil que não podem ser negligenciadas”. Dessa forma, segundo ela, a governabilidade no Congresso não seria dada por um arco de alianças com “viés fisiológico”.
Ela também lembrou que o PSDB, quando à frente da Presidência, quis governar sozinho e ficou refém do DEM. Já o PT, que também quis trabalhar sozinho, ficou refém do PMDB. Marina citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que afirmou, sobre o assunto, que aguardaria para ver quem vai liderar sozinho e governar o atraso. “Não precisamos liderar o atraso”, afirmou a senadora.

Voltei
Tão doce e aparentemente tão certa a fala de Marina… Mas não é. Está bastante errada. Erradíssima, diria o agregado José Dias, de Dom Casmurro (que, por enquanto, escapou da fogueira da Apeoesp).

A primeira objeção que faço, obviamente, diz respeito à própria Marina. Ela é política, e tão ruim quanto o vício do fisiologismo é o já também vício de certos políticos de quererem se comportar como não-políticos ou antipolíticos. Não gosto disso. Não traz nada de bom. Esse lugar que Marina ocupa agora já foi ocupado antes, ainda que com outro discurso, por Luiz Inácio Lula da Silva. Até hoje, diga-se, o PT anseia o papel de uma espécie de ombudsman da vida pública, de juiz dos outros. Mantenho o foco em Marina por mais algum tempo.

E ela? Já não está fazendo concessões? O bilionário Guilherme Leal em sua campanha, com a vaga de vice à sua disposição, só depende dele — E NÃO DEPENDE DO PV — constitui ou não um esforço para formar um “bloco”, ainda que seja de opinião pública por enquanto, para governar? É ruim Leal ser bilionário? Eu não acho. Ele, mais do que ninguém, se me permitem o humor, conseguiu se dar bem descobrindo as virtudes do “capitalismo selvagem”. O que observo é uma obviedade: ele entra na composição para suavizar os ângulos mais agudos de Marina,  não é?

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O PMDB seguirá sendo a maior bancada de deputados e senadores do Congresso e pode fazer o maior número de governadores. Se Marina fosse eleita, ela chamaria PT e PSDB para uma composição, que não aconteceria, e chutaria o PMDB porque “fisiológico”? Ou, ainda, diria: “Bem, vocês sabem, eu sou a Marina, e só aceito o PMDB limpinho; o outro, eu não quero”?  Marina já exerceu um papel executivo. Não se pode dizer que tenha sido um exemplo de habilidade em conciliar diferenças.

Injustiças e erros
Essa é uma retórica que pode agradar a alguns supostos puristas, mas não tem lastro na realidade. E Marina comete também injustiças dignas do mais puro lulismo. É uma tolice,, uma mentira histórica, afirmar que o governo FHC ficou refém do PFL, atual DEM. Refém coisa nenhuma! Governou coligado com ele. Aquele partido foi fundamental no apoio às reformas que o Brasil fez, sem as quais estaríamos agora nos comunicando por sinais de fumaça. FHC não teria tirado o país da taba sem o apoio do PFL. Ao suporte incondicional do partido se deveram as privatizações, a reforma da Constituição, a abertura da economia, a modernização do capitalismo brasileiro. Sim, estou falando do PFL, tão odiado pelos esquerdistas da imprensa, ódio que remanesce e é devotado hoje ao DEM.

Quem diria que aquele partido que acusavam, então, de ser formado por “coronéis”, de estar “incrustado nos grotões”, de ser herdeiro do “regime militar” (escolham aí as ofensas à vontade) viesse a se revelar fundamental para o avanço do Brasil? Estou fazendo um elenco de fatos, não juízos de valor.  Sem o PFL, o mastodonte estatal, com a sua histórica ineficiência, estaria aí. Ou alguém imagina que seria Lula a fazer aquela “pequena revolução”?

Então, que papo é esse de Marina de “FHC refém do PFL”?  Voltando à pré-história da Aliança Democrática, não custa lembrar que FHC chegou, sim, a procurar o PT: ouviu um sonoro “não”. Afinal, o partido tinha a sua luta contra o Plano Real e, depois, contra o neoliberalismo… Ainda bem que aquelas conversas prévias naufragaram. Glória a Deus que o PT tenha se recusado a participar do governo Itamar Franco. Fez-se o Plano Real, o que teria sido impossível se o partido estivesse dividindo o poder.

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Ao falar de um PSDB refém do PFL, Marina dá mostras de não ter entendido a história. Ou, pior, de ter entendido…

PT refém?
E mais falsa ainda é a afirmação de que o PT ficou, pobrezinho, refém do PMDB… Se eu indagasse a Marina quais são as imposições dos peemedebistas a Lula, ela não saberia responder. Não há nada que o partido possa fazer com algum constrangimento que Lula não faça com absoluta desenvoltura.

“PMDB é roçado de escândalos”, acusa outro “purista”, Ciro Gomes. É mesmo? Pois é… No entanto, o partido não foi protagonista do mensalão ou do dossiê dos aloprados. Sarney ou Renan Calheiros apareceram envolvidos em lambanças escabrosas, sem dúvida, mas não venham me dizer que petistas precisam de peemedebistas para corrompê-los ou para corromper o governo. Os “companheiros” podem fazer isso sozinhos, com grande desenvoltura.

Política que é negação da política não existe. Ninguém conseguiria provar que um suposto governo de petistas, tucanos e verdes, alijados PMDB e DEM, seria uma coleção de grandes virtudes, com pessoas só interessadas no bem comum.

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Concepção autoritária
Essa visão, de resto, traz escondido um fundo falso onde se aloja uma concepção autoritária da política, tornada um exercício típico dos “homens-causa”, das “mulheres-causa”. No fim das contas, ainda há quem sonhe com uma espécie de Tirano de Siracusa, que exerceria uma ditadura orientada por valores virtuosos…

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