O PT quer financiamento público de campanha para manter o financiamento privado de petista. Ou: Da burguesia do capital alheio à burguesia da miséria alheia
Imagine aí, leitor, um estrangeiro que ignore como funciona o hospício pátrio. Tente agora explicar a ele que o PT, partido do ministro Antônio Palocci, quer instituir o financiamento público de campanha no Brasil porque considera que isso é mais legítimo e protege da ação dos lobbies a República. Agora explique a esse mesmo estrangeiro […]
Imagine aí, leitor, um estrangeiro que ignore como funciona o hospício pátrio. Tente agora explicar a ele que o PT, partido do ministro Antônio Palocci, quer instituir o financiamento público de campanha no Brasil porque considera que isso é mais legítimo e protege da ação dos lobbies a República.
Agora explique a esse mesmo estrangeiro que o atual chefe da Casa Civil, ex-ministro da Fazenda, manteve, quando deputado, uma firma de consultoria. Em quatro anos, tornou-se um milionário robusto, a ponto de ter de contratar uma empresa de gestão de patrimônio só para cuidar dos seus bens e da sua dinheirama. Conte mais a este estrangeiro: boa parte da fortuna foi amealhada justamente no ano eleitoral, quando ele era coordenador de campanha da candidata governista, que era considerada favorita. R$ 10 milhões (quase US$ 6 milhões; dolarize para ele entender melhor) caíram no caixa depois que a futura governante já tinha sido eleita e enquanto ele próprio montava o governo.
Diga ainda a este indivíduo que desconhece a realidade brasileira que os partidos políticos são obrigados a divulgar a lista de doadores de campanha e que o braço eleitoral do Ministério Público busca ser rigoroso para coibir doações ocultas. Em seguida, informe que Palocci, o ministro, não divulga a lista de seus clientes, aqueles que o fizeram milionário.
E arremate com a informação que a cabeça deste Ministério Público que pretende ser rigoroso com doações irregulares para campanhas eleitorais passou um atestado de “nada consta” para o ministro em questão.
Esse estrangeiro acabará concluindo que aí estão alguns fenômenos que explicam por que o Brasil é um país miseravelmente rico, onde a indústria da miséria, convertida em máquina eleitoral, vira esteio da indústria da riqueza — aquela riqueza obtida sem que se tenha produzido um botão, um parafuso, um pé de feijão.
Chamei certa feita essa gente de “burguesia do capital alheio”. Também pode ser a “burguesia da miséria alheia”. Dá na mesma.