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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O PT é o PT do PT

O PT consegue ser o PT até do próprio PT. Explico-me: em 2002, o PT era o PT do PSDB. Ou seja: a possibilidade de o partido vencer as eleições deu início a um ciclo especulativo, quando a economia já não andava bem, num cenário externo inóspito. Os mercados levavam a sério aquela bobajada que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h11 - Publicado em 22 set 2006, 10h55
O PT consegue ser o PT até do próprio PT. Explico-me: em 2002, o PT era o PT do PSDB. Ou seja: a possibilidade de o partido vencer as eleições deu início a um ciclo especulativo, quando a economia já não andava bem, num cenário externo inóspito. Os mercados levavam a sério aquela bobajada que a legenda disse ao longo de mais de 20 anos. E não acreditava na sua conversão.

Muito cenário externo favorável (ainda presente) e muita ortodoxia depois, o clima, agora, era de confiança. Afinal, o PT, aquele ao menos, havia sumido. E o PSDB, está posto, não seria o PT do PT. Um pouco de mau humor vindo de fora se somou à crise interna. E o risco país disparou, subindo 7,02% em um só dia. O dólar foi negociado a R$ 2,209 — e não porque o governo decidiu mexer na política cambial. Foi um sinal de menos confiança no país mesmo. A Bolsa caiu 1,04%. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, diz o óbvio: a crise espanta investidores.

Tudo isso no dia em que a Confederação Nacional da Indústria reduziu a sua expectativa de crescimento de 3,7% para 2,9%. A baixa atividade nada tem a ver com a crise. É só um dado associado. Não, nada parecido com 2002, é claro. Não há um cenário externo que justifique qualquer histeria. O problema nem está exatamente no presente ou no futuro de curto prazo. A questão é mais séria. Digam aí: caso Lula vença a eleição, como ainda dizem as pesquisas, o que é que teremos na certa?– Um presidente ameaçado pela cassação do mandato e, indiretamente, sob investigação do Ministério Público;– Uma oposição, que ele tentou destruir, sem condições morais de fazer pacto de qualquer natureza; até porque o PT jamais negocia, mas engole. Isso vale até para aliados; imaginem com adversários;– Um Congresso igualmente desmoralizado;

Quais são as chances, na opinião de vocês, de se conseguir certa estabilidade? Se quiserem, juntem aí um cenário externo que já dá sinais de adversidade. Pois bem. Os mercados, como Deng Xiaoping diria, não querem saber se os gatos são pardos; querem que eles cacem ratos; que sejam, enfim, eficientes. Tinham aprendido a confiar não só em Lula; achavam que o prórpio PT estivesse sob controle. Agora, vê-se que isso não é verdade. Não há uma só pessoa, digamos, razoável que acredite que o presidente não soubesse de nada. Porque, nesse caso, não saber não é exatamente melhor do que saber. Malfeitor ou bobalhão, nenhum desses dois epítetos cai bem num chefe de governo.

A pergunta que os petistas mesmo lançaram no mercado tentando se safar se voltou contra eles: “Por que nós faríamos isso? A quem interessa?” Como já não há dúvidas de que foram eles que fizeram “isso”, a resposta também não foi difícil de encontrar. Como escrevi aqui no dia em que estourou o escândalo, fizeram porque tentaram golpear a democracia e destruir a oposição.

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