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O PAÍS DOS ESTUPRADORES INVENTADO PELO IPEA NÃO EXISTE! ERA TUDO UM ERRO. QUEM SABE, AGORA, O INSTITUTO RESOLVA PENSAR O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL!

Eu sinto muita vergonha do Ipea — e não é de hoje. Passei um pouco longe dessa história do estupro e da minissaia — e de toda a sociologice vagabunda, desinformada e rasteira que se erigiu a respeito — porque, sinceramente, há coisas que me aborrecem de tal maneira que, ao escrever sobre elas, sinto-me […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h06 - Publicado em 4 abr 2014, 18h40

Eu sinto muita vergonha do Ipea — e não é de hoje. Passei um pouco longe dessa história do estupro e da minissaia — e de toda a sociologice vagabunda, desinformada e rasteira que se erigiu a respeito — porque, sinceramente, há coisas que me aborrecem de tal maneira que, ao escrever sobre elas, sinto-me também algo diminuído. Agora, o instituto que foi pensado para pensar políticas estratégicas para o país vem a público para dizer que se enganou. Não!, diz a instituição, não são 65,1% os que concordam que uma saia curta justifica ataque às mulheres, mas apenas 26% — que, sei lá, deve ser mais ou menos o índice de suecos ou noruegueses que diriam o mesmo. Por que diabos o Ipea está preocupado com a minissaia e os impulsos libidinosos dos brasileiros, eis uma questão que ainda está para ser esclarecida.

Agora, sim, o número parece compatível com outros divulgados. Segundo a pesquisa (tomara que os números estejam certos), 91,4% concordam total (78,1%) ou parcialmente (13,3%) que homem que bate na própria mulher tem de ser preso. Nada menos de 70% discordam total (58,4%) ou parcialmente (11,6%) da tese de que mulher que é agredida e fica com o marido gosta de apanhar. Enormes 81,1% discordam total (69,8%) ou parcialmente (12,3%) da afirmação de que a mulher que apanha deve se calar para preservar os filhos.

Ora, esses são os números de um país moralmente civilizado — talvez até mais do que o seja, de fato. Estou entre aqueles que acham que as pessoas mentem um pouquinho quando respondem a uma pesquisa com vergonha do entrevistador; sabem qual é a metafísica influente. Mas não tenho dúvida de que a imensa maioria pensa realmente assim.

Ora, por que, então, no caso da minissaia, seria diferente? Para que 65,1% concordassem com aquela boçalidade, seria preciso contar com um expressivo assentimento das mulheres, certo? Dado que certamente não haveria 100% dos homens endossando a frase, milhões de mulheres estariam dizendo: “Sim, nós merecemos ser molestadas quando vestimos uma saia curta…”. Tenham paciência! Nem “as inimiga” de Valesca Popozuda “pensa” isso das “adversária”.

E agora? O que hão de fazer com toda a baixa sociologia que se produziu de um extremo a outro do espectro ideológico, a partir de uma informação obviamente errada. Estou furioso porque tinha enviado — achei que tinha — um e-mail a Mauro Paulino, do Datafolha, sugerindo que o instituto fizesse a mesma pesquisa. Por uma dessas fatalidades que impede a gente de passar por profeta (mesmo quando não é…), a coisa ficou no “rascunho”. Ali eu chutava: “Duvido que o resultado seja esse; é incompatível com os outros achados, e boa parcela das mulheres teria de concordar com esse absurdo”.

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O diretor da Área Social do Ipea pediu exoneração. É pouco! Erro assim não é trivial. Qual foi a sua gênese? Como foi produzido? Não há revisão? Não se faz uma análise para saber se os dados são compatíveis? Não há mecanismos de controle — uma espécie de contraprova — para saber se os pesquisadores não manipulam dados? As outras pesquisas feitas pelo Ipea são conduzidas com o mesmo cuidado?

Então o país que, até havia pouco, era composto de uma maioria de potenciais estupradores passou a ser formado por uma maioria que, quando veem uma minissaia, logo pensam em penitência, em ajoelhar no milho e se punem moralmente ao menos por seus pensamentos lúbricos?

O pensamento brasileiro, na era das redes sociais, está sendo dominado por uma espécie de ente de razão composto por uma algaravia de ONGs um tanto histéricas. Os dados errados do Ipea vieram a público em meio ao movimento de caça-tarados do metrô. Também nesse caso, com milhões de passageiros sendo transportados todos os dias, alguns casos ganharam a dimensão de uma verdadeira síndrome. NÃO, EU NÃO ESTOU MINIMIZANDO NADA! QUE EXISTA UM VAGABUNDO OU UM DOENTE, SEI LÁ, QUE FAÇA ISSO, E SE DEVE TOMAR A DEVIDA PROVIDÊNCIA. Ocorre que a maximização de ocorrências esporádicas e a “pesquisa” estúpida do Ipea geraram uma falsa evidência sobre o comportamento dos brasileiros. CURIOSAMENTE, ESSA FALSA CONSCIÊNCIA COINCIDE COM OS PRECONCEITOS DE GRUPOS MILITANTES, DE SETORES MILITANTES DA IMPRENSA, DE INTELECTUAIS MILITANTES.

Não por acaso, lá foi Dilma, que agora dá “beijinho no ombro” no Facebbok, fazer proselitismo cretino no Twitter. Proliferaram as fotos “Eu não mereço ser estuprada”. No universo da linguagem e da comunicação, o interlocutor, o “outro” dessa declaração, era uma maioria de potenciais estupradores, inclusive… mulheres!!! Andei de metrô na terça-feira. Estava com uma pequena pasta. Cobri a pélvis, mas fazendo certa ginástica para manter o cotovelo num ângulo agudo; com a outra mão, tentava me equilibrar. Os trens estavam relativamente vazios. Fiquei pensando em como deve ser nas horas de pico; pensei no pânico dos inocentes. E me lembrei de uma entrevista de Bernardo Bertolucci à revista BRAVO!, há muitos anos, quando eu lá trabalhava: “O fascismo começa caçando tarados”.

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Quem sabe o Ipea volte a se preocupar com questões relevantes para o desenvolvimento do Brasil! Aí aquele que adora ler o que não está escrito pergunta: “Essa questão não é relevante?”. É, sim. Para tanto, existem a Secretaria da Mulher, a de Direitos Humanos, o Ministério da Justiça — no limite, até o Ministério dos Transportes. O Ipea se ocupar disso é uma evidência óbvia de desvirtuamento e de falta de foco — justo no momento em que o comando da instituição se orgulha de ter criado a metafísica das “polícias sociais focadas”… Que nojinho eu tenho dessa conversa que tem uma patinha no neoliberalismo de manual e outra no neo-social-intervencionismo!!!

Em homenagem ao Ipea, um trecho da peça “Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?”, do genial Edward Albee, em que a Martha, a bêbada sensata, alterca com Nick, o “cientista” babaca:

MARTHA – Ora, mocinho, você vive curvado em cima daquele seu microfone. . .
NICK – Microscópio.
MARTHA – É. . . E não vê coisa nenhuma, não é? Analisa tudo menos a maldita mente humana. Enxerga manchinhas e pontinhos, mas não sabe o que é que está acontecendo ao redor, não é verdade?

O certo seria pôr na rua a direção inteira da instituição. Por ofensa ao povo brasileiro!

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Cambada de burros e irresponsáveis!

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