O lugar dele é a rua, Dilma!
A presidente Dilma Rousseff fez uma coisa certa ao menos tempo em que deu um mau passo. Tão logo a VEJA começou a chegar aos leitores no sábado, pôs na rua a cúpula do Ministério dos Transportes porque constatou o óbvio: o país não poderia conviver com aquela penca de descalabros ali relatados, parte deles […]
A presidente Dilma Rousseff fez uma coisa certa ao menos tempo em que deu um mau passo. Tão logo a VEJA começou a chegar aos leitores no sábado, pôs na rua a cúpula do Ministério dos Transportes porque constatou o óbvio: o país não poderia conviver com aquela penca de descalabros ali relatados, parte deles certamente conhecida pela presidente — tanto é que a revista informa a sua insatisfação.
Mas Dilma escolheu também o erro, preservando Alfredo Nascimento na pasta e lhe dando a atribuição de investigar malfeitos. É uma piada, não? Depois que Valdemar da Costa Neto relatou reuniões da cúpula do PR com representantes do ministério para tratar de assuntos do interesse da legenda, Dilma tinha de esperar mais o quê?
A questão não se esgota no eventual aparelhamento da pasta. Há indícios graves de roubalheira mesmo, daquelas pesadas, organizadas, criminosas. Se o ministro não sabia de nada, tem de ir embora porque é incapaz de gerir o barraco; se sabia, bem, aí é assunto para a polícia e para a justiça. As notícias de hoje não lhe são auspiciosas. Parece que ele, a exemplo de Luiz Inácio Apedeuta da Silva, também tem um filho “Ronaldinho” (assim o Babalorixá chamou Lulinha, o rebento, para exaltar seus dotes para os negócios…).
Segundo o Globo, o Ministério Público Federal investiga o rapidíssimo enriquecimento de Gustavo Moraes Pereira, filho de Nascimento. O rapaz, com 27 anos, é dono de uma empresa chamada Forma Construções, criada há dois anos com capital social de R$ 60 mil. Já tem um patrimônio de mais de R$ 50 milhões. Lula, “o filho do Brasil”, está a merecer uma nova abordagem: “Os filhos do lulismo”. É uma gente com um talento formidável para enriquecer.
Não dá! Não há quem confie na permanência de Nascimento no cargo. E isso quer dizer que ninguém mais o respeita. Já era! Nem se trata de saber — e é claro que tem de ser investigado — se ele obteve vantagens pessoais. A máquina de desvio de dinheiro público que se criou à sua sombra já basta para que leve o bilhete azul.
Esta quarta
Não deixa de ser espantoso que estoure um escândalo dessa magnitude justamente quando se discute o tal Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para as obras da Copa do Mundo. Alguém dirá: “Mas veja aí, Reinaldo, essa safadeza toda aconteceu no modelo antigo, com as leis que temos; isso prova a necessidade da mudança”. Bem, lamento discordar! O RDC, que a base governista deve aprovar hoje no Senado, afrouxa ainda mais a vigilância. Sem contar que não há cristão que acredite que o valor de referência da obra permanecerá mesmo em sigilo.
A demissão de mais um ministro não é exatamente a melhor notícia para o governo, mas é certo que sua permanência é ainda pior: se não é corrupto, permitiu, no mínimo, que sua pasta fosse invadida pela turma do balcão. Dilma passou um mês tentando sustentar o insustentável: Antonio Palocci — este, sim, um ministro em muitos aspectos insubstituível por alguém da turma.
Conviria não gastar outro tanto para tentar proteger Alfredo Nascimento de si mesmo. O que dizer de um ministro que se vê obrigado a suspender TODAS as licitações de sua pasta para tentar se mostrar confiável? Não se esqueçam de que ele está lá é para tocar obras, não para suspendê-las com o objetivo de provar que é honesto. Convenha: a honestidade dele não pode custar ainda mais caro do que a sua eventual falta de ética. A porta da rua é serventia da casa.