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Reinaldo Azevedo

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O governo Dilma e a economia: o cachorro corre atrás do próprio rabo

Os bancos são obrigados a depositar no BC o valor correspondente a 20% do dinheiro que captam em depósitos a prazo. É o chamado compulsório. Esse dinheiro fica lá, guardadinho, recebendo como remuneração a taxa Selic. Por que o BC faz isso? O principal objetivo é conter a pressão inflacionária, evitando o excesso de circulação […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 03h15 - Publicado em 20 ago 2014, 16h50

Os bancos são obrigados a depositar no BC o valor correspondente a 20% do dinheiro que captam em depósitos a prazo. É o chamado compulsório. Esse dinheiro fica lá, guardadinho, recebendo como remuneração a taxa Selic. Por que o BC faz isso? O principal objetivo é conter a pressão inflacionária, evitando o excesso de circulação de dinheiro. No dia 25 de julho, para estimular o crédito — e, portanto, o consumo —, o BC liberou 50% desse valor para empréstimos. E como ele faz isso? Simplesmente deixa de remunerar o dinheiro. Se os bancos quiserem deixar a grana lá, lá ela fica, só que eles terão de pagar os rendimentos aos clientes, mas não vão receber nada por isso.

A tendência, então, é que os bancos emprestem esse dinheiro. Atenção! Hoje é dia 20 de agosto. Menos de um mês depois de ter tomado aquela medida, o Banco Central decidiu elevar de 50% para 60% essa fatia não remunerada. Ou seja: quer que os bancos emprestem ainda mais. Em julho, estimava-se que, no longo prazo, haveria uma liberação de R$ 45 bilhões para operações de crédito; com essa medida de hoje, outros R$ 10 bilhões se acrescentariam.

Não parou por aí. Bancos também são obrigados a fazer uma reserva para calote — isto é, têm de ter em caixa um percentual correspondente ao que emprestam. Hoje, a depender da modalidade de empréstimo e do risco, esse valor varia de 75% a 300%. Isso também mudou: agora a faixa é única: apenas 75%. Com isso, espera-se que outros R$ 15 bilhões fiquem disponíveis para crédito.

Vamos lá, leitores: ninguém pode ser contra o crédito, o aquecimento da economia etc. Assim como ninguém é contra o bem, o belo e o justo. Mas cabe perguntar: que leitura tem do cenário um BC que toma uma medida relativamente forte de incentivo ao crédito e, menos de um mês depois, adota procedimentos adicionais? Parece claro que seu diagnóstico anterior era precário.

Sim, a economia brasileira deve crescer neste ano menos de 0,8%; não obstante, a inflação continua alta, no teto da meta, de 6,5% — e não há perspectiva de redução substancial nos próximos meses. A taxa Selic só está nas alturas porque foi preciso conter o consumo por meio da elevação de juros. E se fez isso com o objetivo de baixar a pressão inflacionária. Pressão que, não há mágica, tende a ser elevada se os bancos passarem a emprestar na intensidade pretendida pelo governo.

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O que isso nos diz? Que o governo, este governo ao menos, esgotou os instrumentos de que dispõe para conciliar crescimento, inflação e taxa de juros em níveis decentes. Deixou de ser uma questão de simples administração de política monetária. Entramos naquele ciclo em que o cachorro começa a correr atrás do rabo — ainda uma das imagens mais intrigantes da natureza, não é mesmo? Mais ele corre, mas o rabo foge; se ele consegue prender a ponta da cauda, só lhe resta a imobilidade.

Dilma Rousseff concorre à reeleição e nos promete amanhãs sorridentes. Não vou aqui cobrar nada da candidata. Eu só me pergunto por que a presidente não faz, então, o que candidata promete fazer. É evidente que o Banco Central passou a operar de olho na política eleitoral. E esse é mais um sinal de deterioração institucional em curso.

Encerro com a imagem do cachorro e do rabo: se o BC for bem-sucedido, e houver um aumento substancial de crédito a ponto de interferir no crescimento, haverá pressão inflacionária, e logo será preciso voltar a apelar aos juros para diminuir a inflação. Se for malsucedido agora, o crescimento continua abaixo da linha da mixuruquice, e nem por isso inflação e juros estarão em patamares civilizados. Em síntese, se der certo, dá errado. Se der errado, continua errado.

O erro não é só de política econômica. Os brasileiros erraram de governo. São livres, claro!, para escolher. E a gente é livre para criticar.

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