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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O Brasil, os juros mais altos do mundo e o falso dilema entre fazer a coisa certa e manter a democracia

Os juros mais altos do planeta estão virando, assim, uma espécie de segunda natureza do Brasil. A menos que o país renuncie à democracia. Não sei não… O dilema entre fazer a coisa certa e manter a ordem democrática sempre é falso. Por que digo isso? A VEJA desta semana ouviu um grupo de especialistas […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h17 - Publicado em 26 jul 2011, 19h50

Os juros mais altos do planeta estão virando, assim, uma espécie de segunda natureza do Brasil. A menos que o país renuncie à democracia. Não sei não… O dilema entre fazer a coisa certa e manter a ordem democrática sempre é falso. Por que digo isso?

A VEJA desta semana ouviu um grupo de especialistas para saber, afinal de contas, por que os juros reais no Brasil são tão altos, o que contribui para derrubar o dólar, afetando de modo dramático as exportações, o balanço de pagamentos e, obviamente, a indústria. Jorge Gerdau, agora assessor especial de Dilma, afirmou hoje que a presidente está preocupada com o setor. Até outro dia, muitos resistiam a falar no risco de desindustrialização. Com o dólar perto de R$ 1,50, já ninguém se anima a afirmar que isso é mera fantasia.

Muito bem. Falaram à revista Armínio Fraga, Gustavo Franco, Claudio Haddad, Paulo Vieira da Cunha, Carlos Thadeu de Freitas e Alexandre Schwartsman. Há praticamente uma unanimidade: todos apontaram como um das razões a baixa taxa de poupança no Brasil, que foi de 18,5% do PIB em 2010. Para comparação, com números de 2009: a da China é de 54,5%; a da Índia é de 31,4%; a da Argentina, de 24%, e a do México, de 21,7%. Só Schwartsman, ao menos da opinião publicada, não deu relevo a essa questão.

Mas foi ele quem mais se estendeu sobre outro aspecto que também concorre para a elevada taxa de juros: a expansão do crédito, citada pelos demais analistas. Schwartsman chamou a atenção para uma modalidade especial de crédito: o subsidiado, que já compõe um terço do total. Entram nessa categoria os empréstimos do BNDES, o crédito rural, o habitacional etc.

Baixa poupança interna? Na verdade, o que os analistas estão dizendo é que uma das saídas seria o governo gastar menos — a gastança seria uma das raízes do problema; a outra está no crédito. Certo! Então precisaríamos de um governo que, vamos falar a linguagem destes tempos, investisse menos “no social” e não estivesse ancorado num modelo sustentado pelo consumo.

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É por isso que fiz a ironia lá no primeiro parágrafo: então só se vai baixar a taxa de juros caso se revogue a democracia ou caso o país tenha a “sorte” de eleger um governo suicida. Quem vai botar o guizo no pescoço do gato? Não há a menor possibilidade de haver uma drástica redução dos gastos públicos num prazo razoável, a ponto de haver uma depreciação do real num tempo compatível com a salvação de setores da indústria que estão indo para o vinagre. Os juros subsidiados são um dos pilares que sustentam o modelo petista, bem como o consumo acelerado. Se for assim, meus caros, então vamos ficar na farra até que a vaca vá para o brejo.

O governo Dilma não fará nada disso. Digamos que se possa ficar nessa batida mais três anos e meio e que venha um governo de oposição… Alguém espera que um eventual futuro presidente não-petista — Serra, Aécio, Alckmin ou J. Pinto Fernandes — faça o ajuste drástico que o petismo não fez? Pra quê? Para ser exorcizado nas ruas pelo PT, pela CUT e pelos ditos “movimentos sociais”? A pauta que está no Congresso, não custa lembrar, aumenta gastos em vez de diminuir.

Não sei, não… Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista da Confederação Nacional do Comércio, insuspeito de ser um monstro da heterodoxia, levanta uma questão na entrevista à VEJA:
“A discussão que cabe aqui, e que é polêmica, é se os juros precisam ser tão elevados assim. Talvez seja a hora de o BC ter mais ousadia e começar a trabalhar com juros mais baixos. O risco Brasil hoje é menos do que o de alguns países desenvolvidos (…)”.

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Não peçam aos políticos que se lancem ao mar porque isso eles não farão. Podem até lançar o povo aos tubarões, com suas ações destrambelhadas, mas dificilmente tomarão medidas que selariam sua sentença de morte. Preferem o aplauso da galera. É por isso que o populismo é um risco permanente. Ainda que a baixa poupança e a expansão do crédito esgotassem o diagnóstico, aonde isso nos levaria? A lugar nenhum! A menos que um tirano virtuoso se encarregasse de pôr ordem na casa para retomar, depois, a democracia… Acho que esse modelo não dá certo, né?  A China gasta 2% do seu PIB com  previdência e pensões; o Brasil, 12%. Só que a China é uma tirania.  Alguém se propõe, no curto prazo, a cortar, sei lá, 30% dos gastos previdenciários? Se as duas razões apontadas forem realmente estruturais e estiverem na causa do problema, então Inês é morta.

Talvez seja o caso de mudar a natureza do debate, ainda que a questão, como alerta Carlos Thadeu de Freitas, seja mesmo polêmica: os juros num país que tem a taxa de risco do Brasil precisam mesmo ser tão altos? Não custa notar, como faz Schwartsman na conversa com a VEJA, que “a alta taxa de juros no Brasil coexiste com uma expansão vigorosa da demanda”. Ele atribui isso ao efeito do crédito direcionado. É bem possível. O fato é que a elevação da taxa não está esfriando a economia com a intensidade que se esperava, mas provoca efeitos deletérios — a apreciação do Real é um deles.

Sei não… Se um remédio insiste em não fazer o efeito virtuoso esperado e exacerba os colaterais indesejados, deve-se investigar a hipótese de que o problema não está na dose, mas na substância escolhida, que pode não ser a melhor para o mal que se pretende combater.

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“Pô, Reinaldo, mas imagine um governo com coragem de fazer um corte drástico de gastos, elevando de modo significativo a poupança interna e que renuncie a essa farra de juros subsidiados…”

Imagino, sim! Mas será preciso combinar primeiro com os russos. E os russos votam. Convém não especular sobre a incompatibilidade entre o voto e a racionalidade econômica, não é mesmo?

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