Nossa Caixa-Banco do Brasil – o que é de princípio e o que é de fato
(ler primeiro o post abaixo) Vamos devagar com o andor. Questão de princípio: houvesse dinheiro que pudesse comprar e dependesse de mim, eu começaria vendendo o Banco do Brasil — entre outros motivos porque, lá, já se escondeu uma gente estranha que merecia a alcunha de “Bando do Brasil” — assim, com “d” mesmo. E […]
Vamos devagar com o andor.
Questão de princípio: houvesse dinheiro que pudesse comprar e dependesse de mim, eu começaria vendendo o Banco do Brasil — entre outros motivos porque, lá, já se escondeu uma gente estranha que merecia a alcunha de “Bando do Brasil” — assim, com “d” mesmo. E também a Petrobras. Sei que escrever isso por aqui é pior do que chutar a santa. Até hoje se fala numa suposta “privataria” na venda da Telebras. A acusação tem apelo popular. O Brasil gosta de estado. Por mim, privatizo até jardim da infância.
Mas alguém, algum dia, vai vender o Banco do Brasil ou a Petrobras? Não! O céu desabaria sobre a cabeça de quem propusesse tal coisa. Precisamos comer muito feijão de civilização para que isso ocorra. Pois bem. Sigamos. A Nossa Caixa está saneada. Por que São Paulo precisa de um banco? Não precisa. Se é bem administrado, não serve aos propósitos do governante. Se serve aos propósitos do governante, não é bem-administrado. Então é preciso passar a Nossa Caixa nos cobres. E transformar o dinheiro em metrô, em saúde, em escolas, em estradas.
Primeira questão: se o governador José Serra fosse vender a Nossa Caixa para os bancos privados, o negócio se viabilizaria? A resposta: não! A proposta seria rejeitada pela Assembléia Legislativa. É bom lembrar que a rodada anterior de privatização mantinha o banco sob o controle do estado de São Paulo.
A reclamação dos bancos privados faz sentido, claro, porque estão preocupados com o crescimento de um concorrente estatal. A reclamação é compreensível, mas a alternativa é inexistente. Adiante. O patrimônio da Nossa Caixa é público, e o melhor que faz o gestor púbico é procurar valorizá-lo. O grande ativo do banco são os depósitos judiciais, da ordem de R$ 16 bilhões. Ora, para os bancos privados, ele vale menos do que um tostão furado. A lei obriga que esses depósitos fiquem em banco público.
O que isso quer dizer? Ele é um ativo e tanto para o Banco do Brasil — e é justo que pague por isso se quer a Nossa Caixa. Mas não vale nada para os bancos privados. Compreendo, como se lê abaixo, que Roberto Setúbal, do Itaú, esteja preocupado com a valorização do patrimônio público, mas, experiente que é, ele há de admitir que Itaú nada daria por esses depósitos, que iriam parar, automaticamente, no caixa do… Banco do Brasil!
Notaram? Se o Banco do Brasil fica com a Nossa Caixa, os tais depósitos são um “bem” que tem valor; se não fica, eles de nada valem e serão transferidos de graça para o próprio Banco do Brasil. Aqui e ali, ademais, se fala em estatização do setor financeiro. A crítica parece meio botocuda. A Nossa Caixa já é estatal hoje. E assim permanecerá, mas em mãos do governo federal. E o mesmo se pode dizer do Banco do Brasil. E que se note: felizmente, os bancos brasileiros vão muito bem. Nunca lucraram tanto. Se os grandes bancos tiverem de competir mais pelo mercado, não é má idéia.
Quanto a render mais ou menos uma venda para o setor privado, a crítica é um tanto prematura. Por quanto será vendida a Nossa Caixa? Não se definiu ainda esse valor.