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Reinaldo Azevedo

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NO MORRO DO ALEMÃO E EM MANGUINHOS, LULA, CABRAL E DILMA METEM DINHEIRO NA MEIA, NA CUECA, NA BOLSA…

O presidente Lula, a candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff, e o governador Sérgio Cabral (PMDB), que vai disputar a reeleição, participaram ontem da inauguração de apartamentos no Morro do Alemão e em Manguinhos, no Rio. Fizeram campanha eleitoral aberta, clara, rasgada. E ilegal! Eis o problema: a lei deixou de ser uma referência […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h10 - Publicado em 23 dez 2009, 07h07

O presidente Lula, a candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff, e o governador Sérgio Cabral (PMDB), que vai disputar a reeleição, participaram ontem da inauguração de apartamentos no Morro do Alemão e em Manguinhos, no Rio. Fizeram campanha eleitoral aberta, clara, rasgada. E ilegal! Eis o problema: a lei deixou de ser uma referência para a política e para os políticos. Ao contrário: quando alguém se lembra de cumpri-la, certos setores são tomados de verdadeira indignação… cívica!!! Quando políticos usam recursos públicos, a exemplo do que o grupo fez ontem, em benefício de seu partido ou das próprias candidaturas, estão, de modo oblíquo, metendo dinheiro na meia, na cueca, na bolsa de couro. Trata-se de uma apropriação de recursos públicos. E é por isso que a lei coíbe tal prática. Pior ainda: os discursos de Lula e Dilma são um primor de autoritarismo e de desprezo pela democracia. O de Cabral, como de hábito, faz a política parecer um circo, de que ele é o Torresmo.

Comento daqui a pouco a linguagem empregada na cerimônia de ontem. Quero insistir na questão legal porque resta evidente que mesmo aqueles setores da sociedade que deveriam se encarregar de vigiar os abusos  — entre eles, a imprensa — abrem mão espetacularmente de seu papel. E não se caracterizam só pela omissão, não. Está em curso a exaltação da ilegalidade, que está sendo chamada por certos colunistas de “profissionalismo”. Assim, todas aquelas transgressões acintosas à lei que se viram ontem no Alemão e em Manguinhos seriam, na verdade, fruto da esperteza e da competência. Já é um clichê e um truísmo: um governo que trabalha com valores corrompidos acaba corrompendo também a sociedade. É o que vemos.

Os governadores de Estado cassados pelo TSE por “abuso do poder econômico” eram aprendizes de feiticeiro perto do que se viu em Manguinhos e no Morro do Alemão. E, no entanto, estão fora. A Justiça Eleitoral só age quando provocada. A oposição poderia “provocá-la” o quanto fosse. Nada aconteceria. A instância que tem poder para pegar alguns peixes de porte médio não tem musculatura para enfrentar os tubarões. Seria perda de tempo. Mas, a dar bola para certo colunismo, errado está o governador José Serra, que se nega a entrar nessa lama legal para a qual Lula insiste em arrastá-lo. Faz muito bem! Não tem de entrar mesmo. É claro que o país e a democracia precisam de uma oposição competitiva. Mas precisa também de uma oposição que respeite a lei, já que o governo não a respeita.

Em Manguinhos, a “candidata” Dilma anunciou a “continuidade do governo Lula” porque “temos certeza de que não vamos deixar o Brasil voltar atrás”. E Lula emendou: a não-continuidade — que, na linguagem dos valentes, corresponderia à não-eleição de Dilma — poria em risco as obras que estão em andamento: “Se elas pararem, será um retrocesso para o Brasil”. É claro que se trata de um terrorismo eleitoral pedestre. E, é evidente, o presidente cantou as próprias glórias, sugerindo que, antes de seu governo, o país estava parado. As obras em curso derivariam da iniciativa do governo federal, o que é piada. Não! Não é uma piada! É uma mentira! O PAC é uma fantasia.

Segundo Dilma, “o Brasil foi um país muito desigual porque abandonou, voltou as costas, porque não tinha uma política para as populações mais pobres”. E mais: “O presidente Lula, até pela sua própria experiência de vida, nunca deixou de colocar o seu governo a favor dos mais pobres. Estamos acabando com o abandono e a absoluta falta de consideração”.  Nem me ocupo, porque já fiz isso muitas vezes, de demonstrar que se trata de uma escancarada mistificação. Até os petistas devem saber disso. O que impressiona é que essa é uma linguagem de palanque.

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E, se Lula gosta de um palanque, Cabral não fica atrás. Em clima de programa de auditório, Cabral chamava as pessoas ao “palco-palanque” para entregar as chaves e as convidava a discursar. Teve de ouvir da moradora Angélica Gomes da Rocha: “Meu filho tinha 16 anos, morreu na covardia, com policiais, dentro da Mandela de Pedra. Disseram que tinha troca de tiros, mas não tinha.” Era uma pobre real assaltando o espaço da fantasia. Mas Cabral estava em dia de êxtase. Aproveitou para lançar o nome de Lula para a Secretaria Geral da ONU (seria uma punição merecida!). Também disse que o presidente já meteu o “pé na merda”. Definitivamente, os governistas decidiram falar “merda” em seus discursos.

A favela de Manguinhos e o Complexo do Alemão são áreas sob o domínio do narcotráfico. A festança que se viu lá ontem só aconteceu porque esses digníssimos representantes do estado brasileiro negociaram com seus homólogos daquele outro país onde mandam os traficantes. Eles deram a autorização para o que o chefe de estado do Brasil, sua ministra e o governador do asfalto entrassem ali.

Ah, claro: antes do circo eleitoral, Lula concedeu uma entrevista a uma rádio em que afirmou que o governador José Serra não seria um bom técnico de um time  — era o nosso “Chance” metaforizando, fazendo a política se parecer com um jogo de futebol… A isso, reitero, certa imprensa chama, de modo boçal, de “profissionalismo”, como se política “fosse assim mesmo”. E, sabemos, não é. Em nenhuma democracia do mundo.

Isso é só mais uma contribuição para o contínuo rebaixamento institucional da política  — na verdade, do país. E parte da imprensa naufraga junto. Em vez de censurar o desmando, cobra do pré-candidato de oposição que faça o mesmo. Porque fazer o errado, o ilegal, passou a ser visto como sinal de esperteza. Lula oferece a corda. E essa imprensa a que me refiro a coloca alegremente no pescoço.

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