Nelson Motta
Petralhas não entendem ironias, sutilezas, linguagem figurada. São todos “literalitas” da estupidez. A minha piada padrão para eles, como vocês sabem, é esta: se lerem Swift, acreditarão que o autor recomendou, a sério, que se comessem as criancinhas — certos “religiosos beneméritos”, santarrões vermelhos do pau oco, veriam nisso uma metáfora, claro — mas outra, […]
Nelson Motta escreveu hoje um artigo na Folha em que trata de blogs. Refere-se mais ao público leitor do que aos autores das páginas. A coluna segue ao fim deste post. Alguns idiotas estão escrevendo para cá: “Viu? Nelson Motta também te atacou”.
Não atacou, não! Motta lê com prazer esta página, concordando ou discordando do que escrevo. Sim, porque há, entre as pessoas civilizadas, este diferencial: não é preciso que ele concorde comigo ou que eu concorde com ele para que haja respeito. Eu sei que Motta escreve o que acha conveniente, sem se subordinar a qualquer interesse que não o prazer do texto, da análise, da interferência no debate. Ele sabe que faço mesmo.
E, por isso, temos uma convergência respeitosa e divertida — até na divergência. Babacas! Pescaram um sapato velho em águas turvas. Desse mato não sai coelho. Segue o texto de Motta, cuja leitura este blog recomenda sempre e vivamente.
Sai da lama, jacaré!
Preciso me livrar do vício de ler blogs políticos. Começou por curiosidade, virou hábito e, depois, necessidade, várias vezes ao dia, em busca de emoções cada vez mais fortes, maiores escândalos e baixarias. São blogs perigosos, criam dependência, deveriam ter tarjas de advertência, como os cigarros, os remédios e as bebidas. E deveriam ser proibidos para menores, porque podem provocar graves danos em mentes jovens e sugestionáveis.
Quero abandonar esse duvidoso prazer de rir com os vitupérios dos militantes digitais, já não consigo me divertir com o fanatismo otário de tucanos e petistas com seus slogans, bordões e estatísticas, com as suas disputas entre quem fez pior ou quem fez primeiro. Quanto mais diferentes querem ser, mais parecidos se tornam em sua intolerância, ignorância e má-fé. As acusações são respondidas com acusações aos acusadores e assim sucessivamente: nem opinião, nem debate, nem informação, pura perda de tempo e de espaço.
Um enigma na blogosfera: sempre li muitos tucanos, demos e petistas que até se orgulham de sua condição, mas jamais vi, nos melhores ou piores blogs, alguém se dizendo peemedebista roxo -o maior partido do país parece que não tem partidários, pelo menos não on-line. Ninguém defende as suas causas, programa e ideologia, parece que o mundo da política e da luta pelo poder está dividido entre petistas e tucanos. Mas como falar de causa, programa e ideologia do partido mais poderoso do Brasil sem rir? Ou chorar.
Nada explica o vício tolo de ler o que se detesta só para se indignar, ficar furioso, xingar a tela. Mas talvez funcione como um descarrego: ao canalizar a sua agressividade para o mundo lamacento da política, você se sente melhor, só por não ser como eles.