Não somos todos iguais
Na Folha de domingo, um texto de Kennedy Alencar poderia ser um furo — houvesse algum indício ou evidência além de verbos no futuro do pretérito. Sem eles e sem algumas necessárias ressalvas, acabou, quero crer, por alimentar a farsa petista de que “somos mesmo todos iguais”. E a verdade é que não somos. Explico-me. […]
Escreve Alencar: “Em agosto, o deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT) procurou Ricardo Berzoini no comitê em Brasília e disse ter tido ciência de que o governador Blairo Maggi (PPS-MT) havia pago [Luiz Antônio] Vedoim para que este falasse à revista ‘Veja’ naquele mês. Na entrevista, o empresário acusou o então candidato tucano ao governo, o senador Antero Paes de Barros, de envolvimento com a fraude das ambulâncias superfaturadas.”
Há, aí, um paralelo falso. Fica parecendo que Veja esteve para o senador Antero como a IstoÉ para o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra. Fica parecendo que, nos dois casos, o norte ético aplicado ao jornalismo foi o mesmo. Errado. O título da matéria da Folha busca se precaver um pouco: “PT tentou copiar suposto acerto de Maggi com Vedoim”. De fato, Vedoim falou à Veja na edição do dia 23 de agosto e acusou Antero de envolvimento com o esquema dos sanguessugas, o que o senador nega.
Vamos devagar com o andor. Veja entrevistou Vedoim em agosto porque era de interesse jornalístico. Ou não era? Não houve qualquer forma de acordo. Não com a revista. Petistas como Marco Aurélio Garcia costumam acusar a publicação de antipetismo — o que é besteira —, não de se meter em conspiratas contra tucanos… Ditas as coisas como foram, fica parecendo que a entrevista de Vedoim à Veja foi a versão prévia do que se veria depois na IstoÉ.
Não! Não somos todos iguais coisa nenhuma! A entrevista de Vedoim à IstoÉ foi um acerto de petistas. Tramada por Hamilton Lacerda e acompanhada e lida previamente por Oswaldo Bargas, um dos homens da chamada “inteligência” petista, era peça de uma conspiração que envolveu R$ 1,750 milhão, cuja origem, até agora, não se conhece. Veja não se meteu com nenhuma sujeira de Vedoim. Tampouco foi inocentemente administrada por ele. É preciso ver se o “engolidor de provas” não decidiu administrar parte da imprensa.