Moro fez muito mal em rejeitar medalha do Poder Legislativo
O juiz não está acima de uma instituição chamada “Parlamento Brasileiro”. Ou não há bandidos também no Judiciário?
O juiz Sérgio Moro recusou a medalha do Mérito Legislativo. Seu nome tinha sido indicado pelo deputado Rubens Bueno (PPS-PR). No ofício em que formaliza a recusa, ele explica que, como há “parlamentares federais denunciados” na Operação Lava Jato, não se sentiria confortável. Escreveu: “Poderia ser mal interpretado ou gerar constrangimento”.
Aqui e ali o estão aplaudindo por isso. Ok. Cada um na sua. Não aplaudo. Não por isso. Moro não é Jean-Paul Sartre para recusar o Nobel de Literatura. De todo sorte, o escritor e pensador francês, ao abrir mão da láurea em 1964, foi intelectualmente honesto, ainda que pensasse uma porcaria:
“A única batalha hoje possível na frente cultural é a batalha pela coexistência pacífica entre duas culturas, a do Leste e a do Ocidente. […] As minhas simpatias vão inegavelmente para o socialismo e aquilo a que se chama Bloco de Leste […] é por isso que não posso aceitar uma honra concedida por autoridades culturais, nem as ocidentais nem as de Leste”.
Que me conste, Moro não defende uma outra cultura, alheia aos bons fundamentos que organizam o Parlamento brasileiro. Ao recusar a medalha, coloca-se acima de um Poder da República e se nega a reconhecer a sua (deste Poder) competência para laureá-lo. É um gesto arrogante.
Aliás, ele receber a Medalha teria sido um momento e tanto: seria um sinal de que a instituição não se deixou contaminar por seus maus homens ou por seus investigados. Convenham: a distinção não teria o poder de corromper a consciência de Moro. A vaidade, nesse caso, é que é perigosa.
E no Judiciário?
Sou uma pessoa lógica e me obrigo a perguntar: não há corruptos no Judiciário, juiz Sérgio Moro? As investigações feitas pelas Corregedorias das várias instâncias da Justiça indicam que sim, não é mesmo?
Tivesse um dos acusados indicado o nome de Moro, ainda vá lá: poder-se-ia suspeitar que o autor da moção estivesse querendo colar seu nome ao do juiz, como a sugerir uma proximidade indevida. Mas não é o caso, não é mesmo?
Moro não está acima da instituição a que pertencem alguns dos investigados. Ao contrário: entende-se que sua atuação busca justamente punir os comportamentos desviantes.
Não faz sentido recusar a medalha concedida PELO PARLAMENTO BRASILEIRO, NÃO POR PARLAMENTARES CORRUPTOS.
A menos que Moro esteja se confessando militante de um outro regime — o que não creio.
Ainda é tempo de corrigir a bobagem que o senhor fez, juiz, tocado pela vaidade.