Ministros favoráveis às pesquisas eliminam minha angústia: agora eu sou ainda mais contra do que antes
Tinha alguma angústia em relação a essa questão das pesquisas com células-tronco embrionárias, embora fosse contrário. Acho que a vida começa na concepção. O ministro Celso de Mello acredita que isso é coisa de religião, definida pela Igreja Católica no século 19. No meu caso, ao menos, não é. Se aquilo não é vida, Mello […]
Volto ao ponto. Minha contrariedade era angustiada, porque me parece forte o argumento de que o embrião, deixado ali no nitrogênio, não se realiza como ser humano pleno, embora guarde todas as suas potencialidades. Vale dizer: não é igual ao embrião que viceja no útero da mulher: sem intervenção, realiza seu destino rumo à plenitude.
Agora que já “perdi”, como dizem os que festejam a decisão do Supremo, estou ainda mais convencido do que antes. E minha angústia acabou. E quem foi que me convenceu de que eu estava mesmo certo em repudiar as pesquisas? Os ministros que a defenderam.
Raramente vi manifestação tão contundente de relativismo. Escrevo antes do voto do ministro Gilmar Mendes. Vamos ver por onde ele vai. Mas me confesso um pouco escandalizado com a, vá lá, lógica que orientou a defesa das pesquisas, que poderia ser reduzida a dois argumentos:1) já que são muitas as concepções sobre quando começa a vida, então liberemos as pesquisas;2) o destino dos embriões é mesmo o lixo; se é assim, por que não utilizá-los para a pesquisa?
Releiam depois os votos: os ministros, na sua defesa, negaram “humanidade” não apenas aos embriões congelados, mas a qualquer um, inclusive àquele que está no útero: para uns, a vida começa com as primeiras células nervosas, para outros, no processo de “nidação”; para a religião “x”, apenas quando o feto ganha forma humana… Estou sendo alvo de reações violentas de supostos “defensores da ciência”, negando que o aborto tenha estado em causa ali: estava, sim. Já disse: eu também achava que não, mas estava.
Ora, se sou católico ou não, problema meu. Quem tem de responder são os ministros, não eu: se aquilo não é vivo, então é “coisa”. E de que serviria a coisa? Se coisa não é, está vivo. Se está vivo, é o quê?
Quanto a se decidir pelo caminho das pesquisas porque os embriões serão, então, descartados mesmo, dizer o quê? Nos países onde o aborto é legal, a interrupção da gravidez se dá, às vezes, em estágio tão avançado, que o feto sobreviveria fora do útero. E o que fazer com o produto extraído? Lixo? Incinerador? Sabão? O que nos recomendaria o pensamento pragmático? Consta que a gordura de um exemplar mais taludinho poderia interessar à indústria de cosmético. Afinal, se aquilo tem utilidade, por que descartar? Não me venham dizer que a pesquisa com célula-tronco é moralmente superior ao sabonete. Depende da necessidade, certo?
E, acima de tudo, nenhum deles conseguiu responder: se “aquilo” não é vida, então é o quê?