Mecenato? Não! Doação irregular de campanha…
No destaque que dei ontem à reportagem de capa da VEJA que trata do filme da família Barretão sobre Lula, transcrevi o trecho que segue. Mas acho que é preciso voltar ao assunto. Releiam: “Os bastidores do projeto revelam que essas opções não foram meramente artísticas. Houve estreita colaboração entre os produtores do filme e […]
No destaque que dei ontem à reportagem de capa da VEJA que trata do filme da família Barretão sobre Lula, transcrevi o trecho que segue. Mas acho que é preciso voltar ao assunto. Releiam:
“Os bastidores do projeto revelam que essas opções não foram meramente artísticas. Houve estreita colaboração entre os produtores do filme e a equipe de Lula. Em 2003, logo após adquirir os direitos da biografia oficial do presidente, Luiz Carlos Barreto obteve o aval do presidente para tocar o longa. Políticos próximos a Lula afirmam, sob a condição de anonimato, que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, teve influência decisiva na definição do esquema de captação de recursos. Antes da edição final, Barreto viajou para Brasília pelo menos duas vezes para exibir o filme a políticos próximos ao Planalto. A primeira sessão aconteceu há três meses. Participaram ministros, como Paulo Bernardo, do Planejamento, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e deputados, como João Paulo Cunha e Ricardo Berzoini, da cúpula do PT. Os petistas, depois da exibição, acharam as músicas incidentais muito pouco dramáticas e sugeriram acrescentar músicas populares, que seriam mais facilmente assimiláveis – no que foram prontamente atendidos.”
Comento
Ainda não vi o filme. Quem viu assevera, segundo critérios rigorosamente estéticos, que aquilo não pode ser chamada de, digamos assim, “obra de arte”. A razão, dizem, é simples: falta qualidade nos diálogos; as personagens — especialmente a principal — são planas; o roteiro chega a ser constrangedor de tão óbvio… E por aí vai. Se for assim, a comparação que vem sendo feita com 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira, é injusta. O filme que retrata a trajetória de uma dupla neo-sertaneja, acreditem os que não viram, é bom.
O que precisa ser ressaltado é o papel de Franklin Martins nessa história — também nessa história. A sua “influência decisiva” no esquema de captação de recursos elimina qualquer suspeita de que pudesse aquela ser uma obra independente, boa ou ruim, não importa. Estamos falando, então, de uma iniciativa oficial mesmo, destinada a cantar as glórias de uma personagem ainda viva — vivíssima — e, por óbvio, hoje o homem mais poderoso do Brasil. Ele só se ressente é de não poder tudo, coitadinho…
A presença de Franklin Martins na área — ele já cuida da verba bilionária da propaganda oficial e das estatais — confere ao filme da Família Barretão as características de peça oficial de propaganda, que, esperam os próprios petistas, busca produzir um efeito também eleitoral. Sendo as coisas como são, não parece difícil caracterizar a “colaboração” da iniciativa privada como contribuição irregular de campanha.