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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Marta Suplicy resolve falar bobagem, e eu resolvo lhe dar aula de matemática e lógica elementar! Nunca é tarde!

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) deu mostras de não entender nada sobre o petismo, apesar de militante antiga. Mas há coisas em que ela consegue ser ainda pior: matemática, por exemplo! No dia 4, ela publicou um espantoso artigo na Folha. Espantoso de vários modos. Como ela é chegada àquele estilo “deixa que eu chuto”, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h11 - Publicado em 8 ago 2012, 07h47

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) deu mostras de não entender nada sobre o petismo, apesar de militante antiga. Mas há coisas em que ela consegue ser ainda pior: matemática, por exemplo! No dia 4, ela publicou um espantoso artigo na Folha. Espantoso de vários modos. Como ela é chegada àquele estilo “deixa que eu chuto”, advertida do erro, ficou brava e emendou uma bobagem à outra.

Depois de pintar um quadro tétrico sobre a segurança pública em São Paulo, com aquela ligeireza e distração com que costuma comandar as sessões do Senado, escreveu isto:

“O Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari, mostrou que São Paulo é o Estado que teve mais casos de mulheres assassinadas no Brasil em 2010 (foram 663 vítimas).
Os números assustam e a questão continua desprezada. A Lei Maria da Penha, que completará seis anos no próximo dia 7, assim como em outros Estados, carece de implementação adequada por falta de recursos e de funcionários preparados. O pouco que tem vem da União. Inquéritos são devolvidos às delegacias, pois, de tão malfeitos, não podem ser aceitos pelo Ministério Público.”

Bem, essa história de que o “pouco que tem vem da União” é uma tolice. Mas não vou me perder nisso agora. O governo de São Paulo reagiu ao artigo. Enviou ao jornal esta resposta. Leiam (em azul)

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É gravíssima a atrocidade estatística cometida pela senadora Marta Suplicy em sua última coluna (“Violência no Limite”, “Opinião”, 4/8). Segundo ela, São Paulo foi o Estado que teve mais casos de mulheres assassinadas no Brasil em 2010. A senadora diz usar como base o Mapa da Violência, do Instituto Sangari, mas o levantamento informa justamente o contrário.
São Paulo, com 3,1 assassinatos por 100 mil habitantes, é o Estado com o segundo menor índice do país. Aliás, trata-se do único ranking divulgado pelo instituto, o que compara a taxa por 100 mil habitantes em todas as 27 unidades da Federação. E São Paulo ocupa a 26ª posição, numa comparação dos mais violentos para os menos violentos.
E como foi, então, que a senadora chegou à conclusão diametralmente oposta? Ela comparou apenas os números absolutos de assassinatos, desprezando a brutal diferença entre as populações dos Estados. Na melhor das hipóteses, um erro primário. Nesse sentido, sua coluna desinforma e subestima a inteligência de todos. A senadora Marta Suplicy deveria admitir seu erro. Por uma questão de honestidade.
Marcio Aith, subsecretário de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Marta não seria Marta se, diante de uma argumentação razoável, dissesse: “É verdade! Que mancada!”. Que nada! Ela resolveu treplicar (em vermelho). Volto em seguida:

RESPOSTA DA COLUNISTA MARTA SUPLICY – Gravíssima e vergonhosa é essa reação! Os números são absolutos, como está claro no artigo. A perda de 663 vidas mostra a gravidade do caso e a inércia do Estado. A morte de mulheres é somente um dos aspectos do fracasso da política de combate ao crime em São Paulo. Ação!

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Voltei

Fracasso uma pinoia! Fracassada é a política de segurança pública do governo federal, que não consegue diminuir os índices de violência. Fracassada é a política de segurança pública do PT na Bahia, estado que assistiu ao maior salto no número de homicídios do país. Dona Marta recorre ao Mapa da Violência para distorcer uma evidência. Vejam:

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Penca de tolices
A realidade do Brasil é de tal sorte escandalosa que, mesmo com o assassinato de 4.297 mulheres em 2010 (um número absurdo!), isso representa 8,6% do total: 49.932! É claro que políticas públicas de combate à violência têm influência também nessas mortes — como evidencia São Paulo —, mas a violência contra a mulher traz particularidades, como sugere o estudo. Nada menos de 68,8% das agressões contra as mulheres, por exemplo, acontecem em casa e têm como agente marido, namorado, pai, alguém da família. Estamos lidando aí com dados que são também da cultura, da educação, da formação familiar. Também nesse caso, é óbvio, o fim da impunidade tem efeitos positivos.

Marta deveria saber que, em números absolutos, São Paulo tem mais mulheres mortas, mais homens mortos, mais gênios, mais idiotas, mais pessoas bonitas, mais pessoas feias, mais honestos, mais desonestos, mais ricos, mais pobres… Em números absolutos, São Paulo sempre terá mais do que quer que seja porque tem 42 milhões de habitantes — 22% da população do país. E só diminuiu drasticamente as mortes porque tem mais presos também — tanto em números relativos como em números absolutos: 40% do total do país.

São Paulo só não tem mais senadores que sabem matemática porque o número, infelizmente, é fixo, né? Não é proporcional à população. Continuaremos por um tempo com apenas um…

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Deveria aplaudir
Marta deveria aplaudir os números de São Paulo. Se os homicídios do primeiro semestre se repetirem no segundo, o estado fechará o ano com 11,4 homicídios por 100 mil habitantes (mas acho que vai cair). Se o Brasil conseguisse chegar a esse índice, senhora senadora, em vez de 50 mil homicídios por ano, aconteceriam no país 21.698 — 28.302 vidas se salvariam segundo o “padrão São Paulo”. Ainda que se mantivesse a percentagem de 8,6% de mulheres assassinadas desse total, em vez de 4.297 ocorrências, elas seriam 1.865 — salvar-se-iam 2.432 mulheres.

Assim, se o seu intento é salvar vidas, especialmente as das mulheres, então comece a pedir que, no mínimo, o Brasil siga o modelo de São Paulo, que precisa, sim, ser aperfeiçoado. O que vai aqui são fatos. O que vai aqui, senadora, é matemática. Eu não tenho um jeito melhor de lhe ensinar as coisas. Infelizmente, não dá para desenhar.

Para encerrar
Como Marta parece falar primeiro e pensar depois, escreve ainda isto:
“Quanto aos homossexuais, pesquisa publicada pela Folha (“Cotidiano”, 23/7) traz uma surpresa, quando indica a família e os vizinhos em primeiro lugar como os mais violentos contra gays.O número de 62% dos ataques feitos por conhecidos mostra uma sociedade ainda preconceituosa e com muita dificuldade em aceitar o diferente. Mas, evidencia também, o descaso governamental com a educação nas escolas, que falham no ensino ao respeito à diversidade sexual.”

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Surpresa para quem? A história de que gays são agredidos por aí a três por quatro, na rua, é uma invenção da militância, um mito que a senhora ajudou a criar. Por isso a sua PLC sobre a homofobia é um desvario. A questão é de outra natureza. Mais uma vez, estamos falando de questões que remetem à educação, sim (mas não com o aloprado kit gay), e à cultura do país. Não será com uma lei que viola direitos fundamentais. Ou a senhora pretende meter na cadeia mães, pais e irmãos de homossexuais? Ou, nesse caso, a violência será tolerada desde que doméstica?

A pesquisa mostra que a senhora está propondo o remédio errado para um mal que demonstra desconhecer — daí a sua “surpresa”.

Como se vê, além de Lula, também a atropelaram a realidade e a matemática. Advertida, no entanto, mandou a objetividade às favas. A senhora é senadora da República. Seja mais responsável mesmo no papel de colunista de jornal! 

Texto originalmente publicado às 5h38
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