Marta não tem ideia do que vai fazer na Cultura. Ou: Ninguém criticará petista por abandonar Senado sem autorização dos eleitores, que ignoram quem ficará no seu lugar?
Marta nega que sua nomeação para o Ministério da Cultura faça parte do toma lá dá cá. Fernando Haddad também. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff não faz essas coisas. Como restam ainda nesgas de lógica à cobertura política, é mister, então, indagar que diabos ela vai fazer na pasta. E isso lhe foi perguntado […]
Marta nega que sua nomeação para o Ministério da Cultura faça parte do toma lá dá cá. Fernando Haddad também. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff não faz essas coisas. Como restam ainda nesgas de lógica à cobertura política, é mister, então, indagar que diabos ela vai fazer na pasta. E isso lhe foi perguntado hoje. A resposta sobre os seus planos para a Cultura foi esta:
“Não vou me pronunciar sobre nada, sem ter conhecimento. Vou ter que ter conhecimento profundo de todas as questões do ministério. Vou com muita humildade estudar, porque eu considero um ministério fantástico e temos muita coisa para fazer.”
Entendi. Ela foi nomeada para a Cultura, mas poderia ser também para a Pesca, para onde foi Marcelo Crivella, aquele que não sabia botar “uma minhoca no anzol”. Marta também não sabe. No que disse alguma coisa, deixou entrever a suspeita da bobagem. Considera o Ministério da Cultura “importante para a identidade brasileira”.
Sempre que alguém fala em “identidade brasileira”, eu me assusto. Faz supor que eu possa ter algo em comum com, sei lá, Paulo Maluf, Lula ou Emir Sader. Por falar no país mental chamado Emirados Sáderes — o primeiro a tentar derrubar Ana de Hollanda —, noto que ele ficou fora da pasta de novo!!! Vai ter de se contentar em ficar puxando o saco de Lula lá no tal instituto. Não será desta vez que ele vai “posar” no Ministério da Cultura; não será desta vez que ele vai “pousar” ao lado de Dilma como ministro do Estado.
O que tem sido uma constante no país é a nomeação de notórios incompetentes, que usam a pasta para aprender. Há momentos em que o senso comum e o bom senso se juntam em evidências palmares: no mundo inteiro, ministros são aqueles especialmente afeitos às áreas que ficam sob o seu controle. O sujeito nem precisa ter tido uma profissão compatível com a pasta; basta que tenha boas ideias, bons projetos e que seja operoso. No Brasil, não é assim! Áreas da administração são entregues a este ou àquela em razão de arranjos político-partidários ou para conter insatisfações.
Um trecho de reportagem da Folha é bastante revelador:
“Marta disse que o chamado para a Cultura foi ‘surpreendente’ e que ela ainda não tem planos para a pasta porque precisa estudar profundamente o ministério. Ela afirmou que não poderia dizer ‘não’ a um chamado da presidente porque é governo e está a disposição do Planalto.”
Ah, bom! Achei que estivesse à disposição, antes de mais nada, de seus eleitores, que a colocaram no Senado. Aliás, eis um caso interessante: o PT criou uma falsa e cretina questão — o inspirador é Gilberto Dimenstein —, acusando o tucano José Serra de ter “abandonado” a Prefeitura. A vigarice pegou e responde por algumas das dificuldades que ele enfrentou até aqui. Não houve abandono. Serra renunciou à Prefeitura para se candidatar ao governo do Estado e obteve mais votos para esse cargo do que para aquele. O ELEITOR AUTORIZOU A MUDANÇA.
Marta, eleita pelo povo, mas “à disposição” do Planalto, vai se afastar do Senado. Em seu lugar, assume o primeiro suplente, Antonio Carlos Rodrigues (PR) — vereador na cidade São Paulo, desconhecido da maioria dos paulistas — ou o segundo, Paulo Frateschi (PT), que quase ninguém sabe quem é. Sim, claro!, não há nada de ilegal nisso, como não havia no caso de Serra. Mas há uma diferença crucial: o tucano mudou de cargo com a autorização expressa do eleitor; Marta vai mudar apenas por vontade sua e de Dilma. Os eleitores que votaram nela que se danem. Terão como seu representante no Senado alguém de que nunca ouviram falar. Gilberto Dimenstein, a propósito, o autor original daquele obscurantismo contra Serra, deixou a questão de lado e ainda cantou as glórias da nova ministra, chamando-a de vencedora. Que ela não tenha intimidade com a Cultura ou uma remota noção do vai fazer na pasta, tudo isso é irrelevante. É uma “vencedora”.