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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Marilena Chaui, a Olavo de Carvalho de esquerda, diz que Moro integra complô dos EUA para dominar o Brasil

Num vídeo gravado para um jornalista brasileiro que se diz bolivariano, ela explica como os americanos estão usando o juiz e Michel Temer para se apoderar do nosso futuro!

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 22h21 - Publicado em 5 jul 2016, 08h31

Meu Deus! E pensar que a dita filósofa Marilena Chaui já foi um pessoa levada a sério no Brasil! Na década de 80, era considerada uma referência do moderno pensamento de esquerda, essa deliciosa contradição em termos. Há muito, se vocês recorrerem ao arquivo do blog, verão que suspeito de sua sanidade. Mas nem eu achei que tivesse ido tão longe.

Fernando Morais, o autodeclarado jornalista bolivariano, publica um vídeo em que essa senhora afirma que o juiz Sergio Moro foi treinado pelo FBI e é mera peça de um grande complô, organizado para destruir a soberania do Brasil.

Assim como seu antípoda, Olavo de Carvalho, mobiliza seus crentes afirmando a existência de um núcleo conspiratório destinado a entregar o mundo ao comunismo internacional, Marilena afirma o contrário: tudo seria pensado para que as nações se rendam ao imperialismo americano. Os dois mobilizam seus fanáticos.

O mundo, visto por esse ângulo, fica fácil. Se há coisa que faz sentido, acreditem, é a narrativa dos paranoicos, já que eles conseguem enxergar relações de causalidade em eventos que os normais não consideram nem mesmo correlacionados. Porque os outros não veem o que lhes parece tão óbvio, passam então por iluminados e por profetas. No vídeo, vocês constatarão que Marilena chama atenção para algo que só ela teria, então, enxergado. Nem poderia ser diferente.

Assistam. Na sequência, submeto as afirmações dessa senhora.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=AQXw8B0lN2c?feature=oembed&w=500&h=281%5D

O QUE DIZ MARILENA
“A Operação Lava Jato é pra tirar de nós o pré-sal. Por que isso ficou claro pra mim? Sergio Moro foi treinado nos EUA pelo FBI para realizar essa operação. E nós sabemos que as chamadas Seis Irmãs do petróleo lutaram pelo pré-sal desde a descoberta dele, e os governos petistas e, em particular, a presidente Dilma fizeram pé-firme em relação ao pré-sal como soberania nacional.”

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O QUE É FATO
Marilena é uma piada. As tais “Seis Irmãs” não deram a menor bola para o pré-sal. O primeiro megaleilão, o de Libra, em 2013, foi um fiasco. O governo bateu bumbo e esperava até 40 empresas. Apareceram apenas 11, a maioria delas asiáticas
. Eis a relação:

– CNOOC International Limited (China);
– China National Petroleum Corporation (CNPC) (China);
– Ecopetrol (Colômbia);
– Mitsui & CO (Japão);
– ONGC Videsh (Índia);
– Petrogal (subsidiária brasileira da portuguesa Galp, com participação da chinesa Sinopec);
– Petrobras (Brasil):
– Petronas (Malásia);
– Repsol Sinopec Brasil (60% de participação espanhola e 40% da chinesa Sinopec);
– Shell (anglo-holandesa);
– Total (francesa).

Nenhuma é americana. Continuemos com Dona Doida.

O QUE DIZ MARILENA
“Ele [Sergio Moro] recebeu um treinamento que é característico do que o FBI fez no macarthismo e fez depois do 11 de Setembro, que é a intimidação e a delação.”

O QUE É FATO
Todo mundo sabe que tenho reservas, sim, a certos comportamentos e escolhas de Sergio Moro, mas as afirmações de Marilena Chaui são estupefacientes. Moro cursou o programa para instrução de advogados da Harvard Law School em 1998 e participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro promovidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Inferir que isso faz dele um agente americano é de uma estupidez sem limites.

Mais: é um despropósito associar ações do macarthismo àquelas ligadas ao combate ao terrorismo no pós-11 de Setembro. As primeiras tinham como alvos supostas ações antiamericanas praticadas principalmente pelos naturais do país. As medidas de segurança depois do grande ataque terrorista miravam o extremismo islâmico. Mas vamos adiante.

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O QUE DIZ MARILENA
“As chamadas Seis Irmãs não são brincadeira de criança. Nós sabemos que eles desestabilizaram o Oriente Médio por causa do petróleo. Desestabilizaram os Bálcãs por causa do petróleo e dos minérios. Desestabilizaram a Venezuela. E, evidentemente, o grande alvo era desestabilizar o Brasil por causa do pré-sal. Então, a Operação Lava Jato é o prelúdio da grande sinfonia de destruição da soberania brasileira para o século 21 e 22.”

O QUE É FATO
Fica difícil saber por onde começar. Marilena acha que o petróleo será a grande moeda energética do século… 22!!! E os imperialistas, como são muito malvados, já estão planejando a longuíssimo prazo. Uau!

Se há alguma verossimilhança, ainda que seja moeda falsa, na história de que os EUA desestabilizaram — quando é foi estável mesmo??? — o Oriente Médio por causa do petróleo, só a insanidade mais extrema meteria o Bálcãs nesse balaio de gatos. O que os americanos e seu interesse por petróleo tiveram exatamente a ver com o fim da Iugoslávia? Ganha o Troféu Marilena Chaui de Loucura Militante quem conseguir dar uma resposta.

Aliás, antes o intervencionismo americano tivesse feito alguma coisa naquele açougue. A velha Europa assistiu calada a um banho de sangue.

Atribuir aos EUA, os maiores compradores do petróleo venezuelano, a desestabilização da Venezuela é um espanto.

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Coitada desta senhora! Em 2008, o barril do petróleo chegou a ser vendido a US$ 146. Hoje, está abaixo de US$ 50 e já caiu abaixo de US$ 30. O que derrubou o preço? Um conjunto de fatores. Os EUA aumentaram brutalmente a produção de xisto, o chamado óleo não convencional. Os países produtores do Oriente Médio resolveram manter elevada a sua produção, e o mercado se inundou de petróleo barato, especialmente com a volta do Irã ao mercado internacional. E assim continuará sabe-se lá por quanto tempo.

O braço de ferro dos países produtores é justamente com o xisto americano, extraído a US$ 60 o barril. Acima desse patamar, o petróleo fica menos competitivo.

O que ajudou a levar a Venezuela à ruína, além do seu modelo econômico, foi a queda do preço do petróleo — que contribuiu, diga-se, para quebrar o Estado do Rio.

Marilena não se conforma, eu sei, mas o fato é que ninguém está dando a menor pelota para o pré-sal brasileiro, especialmente porque o estúpido modelo de partilha adotado pelo PT afasta os investidores. As Seis Irmãs têm mais o que fazer. Adiante.

O QUE DIZ MARILENA CHAUI
“Nós não podemos permitir que isso aconteça. E, no entanto, o que é admirável, extraordinário, é que, com um mês de governo provisório, o Temer e o Serra vão passar o pré-sal, privatizado, para as empresas norte-americanas. Eles estão destruindo a economia brasileira; eles estão destruindo a soberania brasileira, e eles estão comprometendo as gerações futuras de brasileiros. (…) É uma tentativa de destruir o lugar que o Brasil construiu como líder dos Brics (…). Esta é a definição do governo Temer: a destruição da democracia, da República e do futuro”.

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O QUE É FATO
Começo pelo fim: não sabia que o Brasil liderava a China e a Rússia. Nem eles. Como está claro, democracia, República e futuro se constroem instalando ladrões para tomar conta da Petrobras, levando a empresa à ruína. E fabricando déficits fiscais por cinco anos consecutivos, com desemprego de 11%, recessão de 4% e juro de 14,25%.

Marilena está mentindo. Não sei se é má-fé ou ignorância. É provável que seja uma combinação das duas coisas. A proposta originalmente apresentada pelo então senador José Serra (PSDB-SP), aprovada pelo Senado, apenas desobriga a Petrobras de participar da exploração do pré-sal. A empresa tem a preferência, mas pode abrir mão dela. Atenção! O texto foi aprovado em fevereiro, quando Dilma ainda era presidente. E com o apoio do governo.

Não existe projeto nenhum de privatização do pré-sal — até porque a Constituição proibiria. Todas as riquezas do subsolo pertencem ao estado. E ponto! No máximo, podem ser exploradas sob concessão.

No pré-sal, vigora o regime de partilha. Está dando errado. Nem ele nem a concessão caracterizam privatização. Marilena Chaui é um retrato da loucura que tomou conta da esquerda brasileira.

Sinto mais pena do que raiva. Burra de tudo, convenhamos, ela não é. Sabe que está apenas tentando inflamar uma militância que nem existe mais. O que me deixa algo melancólico é que gente como ela forneceu o substrato ideológico, a crença e a mitologia sobre os quais se erigiu um regime cleptocrata, liderado por verdadeiras hordas de bandidos, de ladrões, de assaltantes.

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Pior: essa estupidez militante continua a dar as cartas nas universidades públicas brasileiras, especialmente na área de humanidades. Essa gente está na raiz, entre outras coisas, da tragédia que é o ensino no país.

Teremos de vencê-los no debate, nas ruas, nas universidades e nas urnas se quisermos ter um país.

Ah, sim: Moro, como quer Marilena, foi treinado pelo FBI e pelos EUA para entregar o país aos imperialistas. Para lograr tal intento, ele combinou com Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró a destruição da Petrobras. Depois acertou com os empreiteiros e com João Vaccari Neto o esquema de pagamento de propina. E, claro, finalmente, chamou Eduardo Cunha — que, como estamos vendo, está por cima da carne-seca — para dar o golpe final.

No começo dos anos 80, a professora Marilena Chaui tinha a irresponsabilidade típica de um novo partido que sonhava ser grande. Quase 40 anos depois, ela tem a irresponsabilidade própria de quem se vê obrigada a justificar o desastre para ter como justificar a sua miséria intelectual.

Que fim triste!

Desse jeito, Olavo processa Marilena por dumping. De loucura!

Texto publicado originalmente às 3h28
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