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Lula, o ciumento

Consta que Lula está com inveja de Dilma. Isso pode dar em alguma coisa? Acho difícil. O Apedeuta estaria reclamando especialmente do excesso de elogios da imprensa à sua sucessora. Seria apenas uma forma de provocá-lo e de tentar minimizar a sua grande obra. O auge da contrariedade foi a ausência no almoço oferecido pela […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h30 - Publicado em 22 mar 2011, 16h01

Consta que Lula está com inveja de Dilma. Isso pode dar em alguma coisa? Acho difícil. O Apedeuta estaria reclamando especialmente do excesso de elogios da imprensa à sua sucessora. Seria apenas uma forma de provocá-lo e de tentar minimizar a sua grande obra. O auge da contrariedade foi a ausência no almoço oferecido pela presidente a Barack Obama. Como escrevi aqui naquele dia mesmo, o convite aos “ex-presidentes” faria dele mais um. E ele não se sente parceiro de ninguém. Há um elemento de natureza também psicológica. Se alguém elogiar muito Jesus Cristo na frente do Demiurgo, ele vai se sentir diminuído e entender que é uma provocação pessoal: “Estão querendo dizer que Cristo era melhor do que eu…” Lembrem-se, a propósito, que Lula tratava Obama com certa indisposição antes mesmo de o governo dos EUA rejeitar aquele acordo mixuruca que ele fez com o Irã. Chegou a sugerir que a eleição de um negro nos EUA tinha uma importância simbólica menor do que a de um ex-operário no Brasil… Com George W. Bush, a relação era harmoniosa. Ideologia? Não! É que Lula não disputava com ele o coração dos “bem-pensantes”.

Feitas tais considerações, a contraposição apedêutica é compreensível. O marketing de Dilma tem sido eficiente — e a imprensa tem embarcado gostosamente — em evidenciar que há diferenças significativas entre os dois governos e os dois estilos. É uma tática de sobrevivência. Dilma foi eleita em razão da falta de qualidades, certo? Explico-me: prometeu-se ao eleitorado que “ela” era “ele”. A imagem do então presidente foi forte e eloqüente: “Pela primeira vez, o meu nome não vai estar lá [na urna], mas ‘Dilma’ quer dizer ‘Lula’”. Era preciso, naquela fase, que não existisse para que pudesse tentar existir um dia. E deu certo!

Se é possível inexistir como candidata, é impossível inexistir como presidente. O PT e sua grande rede não teriam e não têm como fazer oposição ao governo. As fontes de contrariedade estariam, ou estão, necessariamente, em setores tradicionalmente refratários ao partido ou que se caracterizam pela independência. São aquelas áreas da atuação política, já notei aqui diversas vezes, que os petistas chamam, SEM QUE O SEJAM, É BOM DESTACAR, “conservadoras”, “direitistas”, “reacionárias” — o vocábulo varia segundo a corrente do partido.

Dilma resolveu atraí-las ou, ao menos, diminuir significativamente o atrito. O próprio Lula fez isso quando assumiu o poder em 2003. O Demiurgo, ao longo de oito anos, havia comprado algumas brigas um tanto inúteis, pautadas mais por sua vaidade do que por uma estratégia política que tivesse conseqüências. O braço-de-ferro no caso da regulamentação da mídia — coisa de gente autoritária, que não entende o que é democracia — é um exemplo. Confronto pra quê? Pra nada! Dilma jogou água fria na fervura. O antiamericanismo estúpido da política externa dá sinais de estar sob controle. O Brasil se absteve, por exemplo, na votação do Conselho de Segurança que aprovou a intervenção na Líbia, mas modulou a reação: recorreu a uma linguagem suave, “diplomática”, enfim. Sob Lula/Celso Amorim, é possível que o voto tivesse sido o mesmo, mas com muito mais estridência.

João Santana também entendeu que havia certo fastio do excesso de personalismo. Mais do que isso: notou que o produto que tinha em mãos — Dilma — não era compatível com aquele proselitismo exacerbado, que apela diretamente às massas, tornando obsoleta toda e qualquer mediação. Dilma passou a ser uma voz institucional que fala por meio de emissários — a tal estratégia da “Rainha Muda”. Num dado momento, anunciou-se que ela seria mais popular, falaria diretamente ao povo. Por enquanto, não se encontrou o modelo.

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Tudo isso, com efeito, despertou a simpatia daqueles tais setores refratários ou independentes. Considera-se que ela levou compostura ao cargo — o que, em certo sentido, não deixa de ser verdade. Ocorre que até um animador de circo  faria o mesmo, tal a falta de limites do antecessor. Dilma é uma espécie de descanso, de volta da política a seu leito normal.

Há mistificações em curso também? Claro que sim! A Dilma durona do corte de R$ 50 bilhões do Orçamento é nada menos do que a Dilma possível depois da lambança que a beneficiou, certo? As contas só chegaram perto do descalabro porque foram anteriormente manipuladas pelo furor eleitoral. Cortou por necessidade, não por boniteza. Gozou das delícias da gastança e depois mostrou a sua força supostamente saneadora. “Supostamente”? Um governo que corta R$ 50 bilhões do Orçamento e enfia mais R$ 55 bilhões no BNDES está é sem rumo. A presidente também foi considerada uma espécie de vítima dos tais “restos a pagar” herdados do seu antecessor, como se isso não fizesse parte de uma obra conjunta, executada a muitas mãos, sobretudo a quatro. Os atrasos e descumprimentos das promessas do PAC foram tratados como uma espécie, assim, de herançazinha maldita — como se Dilma não tivesse sido a coordenadora do programa. Ate os problemas óbvios na distribuição de energia, área que, mais do que qualquer outra, estava afeita à então ministra surgem como um passivo deixado pelo Apedeuta. O mesmo se diga dos aeroportos.

Lula está infeliz porque precisa do elogio e do reconhecimento permanentes;  está infeliz porque, já se observou aqui, ele realmente acredita ser aquela personagem da mitologia; está infeliz porque, intimamente, tomará como usurpador qualquer um que sente naquela cadeira, por mais que a pessoa lhe prestasse reverência. E tem uma pontinha de razão: a Dilma candidata se beneficiou de todos os vícios que estaria corrigindo agora.

Só que Lula tem um encontro marcado com a ribalta. E não demora!

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