Itamaraty: arrogância e falta de medidas. Na pena de um especialista
Rubens Ricupero, com quem nem sempre concordo, diga-se, é um homem sério. Foi vítima, certa feita, de uma frase infeliz, captada por uma antena parabólica e tornada pública num contexto que distorcia covardemente o seu sentido. Foi injustamente satanizado. Mas isso são águas passadas. No domingo, ele escreveu na Folha um artigo impecável sobre a […]
Rubens Ricupero, com quem nem sempre concordo, diga-se, é um homem sério. Foi vítima, certa feita, de uma frase infeliz, captada por uma antena parabólica e tornada pública num contexto que distorcia covardemente o seu sentido. Foi injustamente satanizado. Mas isso são águas passadas. No domingo, ele escreveu na Folha um artigo impecável sobre a política externa brasileira — área em que tem vasta experiência. Fico feliz ao ler o texto de um homem sabidamente especialista, com quem, em princípio, não tenho grande identidade de idéias, que afirma pontos de vista que tenho expressado neste blog há mais de três anos — de acordo com o que sustentava em Primeira Leitura desde 2003. Publico abaixo um trecho e depois link para a íntegra.
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TIVE UM choque ao ouvir de ex-colega da ONU que o Brasil começa a parecer arrogante no exterior. “Vocês não eram assim; agora se comportam às vezes com a petulância de novos-ricos!” Minha primeira reação foi descartar a observação como fruto de algum episódio isolado. E se for verdade, pensei depois? Meu amigo é dos mais argutos analistas internacionais e seus exemplos me abalaram a tranquilidade.
Na raiz dessa percepção, está a irritação crescente com o protagonismo excessivo do nosso presidente, a frenética e incessante busca dos holofotes, a tendência de meter-se em tudo, com boas razões ou sem nenhuma. Acaba por irritar outros presidentes, que se cansam de servir de figurantes ao brilho de nossa liderança. Chega a hora em que os demais não aparecem para a festa, como sucedeu na recente reunião de presidentes amazônicos em Manaus. Veja-se o contraste com a sobriedade e o realismo da China. Na recente visita de Barack Obama, o primeiro-ministro Wen Jiabao lhe disse, segundo a agência oficial, que “a China discorda da ideia de um G2, pois ainda é um país em desenvolvimento e precisa manter a mente sóbria”. Lamenta, mas não pode ajudar a resolver os problemas do Oriente Médio, do Afeganistão ou de outros lugares porque está muito ocupada em solucionar os próprios.
Imagine como teríamos reagido se a oferta do G2 tivesse sido feita a nós? O pragmatismo dos chineses significa que eles reservam os meios que possuem (bem superiores aos nossos) para o essencial: o comércio, a tecnologia, as ameaças do entorno asiático onde podem ser decisivos. A diferença em relação à política externa do Brasil revela muito sobre eles e sobre nós.
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