Imagem-ícone da Intifada é falsa, diz tribunal
Na Folha:Um tribunal de recursos parisiense inocentou um francês acusado de difamação por ter qualificado como “falsa” e “encenada” uma das imagens mais emblemáticas da Segunda Intifada, a revolta palestina de 2000 que selou os rumos da atual situação na região.Na prática, isso significa que a corte validou a acusação de manipulação feita por Philippe […]
Um tribunal de recursos parisiense inocentou um francês acusado de difamação por ter qualificado como “falsa” e “encenada” uma das imagens mais emblemáticas da Segunda Intifada, a revolta palestina de 2000 que selou os rumos da atual situação na região.
Na prática, isso significa que a corte validou a acusação de manipulação feita por Philippe Karsenty, presidente de uma ONG de vigilância midiática pró-Israel, contra a TV estatal France 2.
Há oito anos, o mundo inteiro viu a imagem de um pai, agachado junto a um muro, tentando proteger o filho de 12 anos com o próprio corpo, em meio a um intenso tiroteio numa rua de Gaza. O pai grita e gesticula, num aparente apelo por clemência. Segundos depois, uma nuvem de fumaça cobre a imagem. O pai aparece em seguida debruçado sobre o filho, aparentemente morto.
Filmada por um cinegrafista palestino da France 2 em 30 de setembro de 2000, a gravação foi repassada a centenas de outras emissoras. As únicas informações sobre o episódio, incluindo o relato sobre a suposta autoria israelense dos disparos, foram fornecidas pelo próprio cinegrafista.
O incidente aconteceu dois meses depois do fracasso das negociações entre israelenses e palestinos patrocinadas pelo então presidente americano Bill Clinton e dois dias depois do ingresso do então premiê israelense, Ariel Sharon, na esplanada das Mesquitas, em Jerusalém -episódio que detonou a Segunda Intifada.
O Egito deu o nome do menino, Mohamed al Duha, a uma rua, e homens-bomba, em seus vídeos de despedida, saudaram o garoto como mártir da causa palestina. Pressionado, Israel admitiu na época que os disparos “poderiam ter partido de posições israelenses” que estavam na área.
Em 2004, Karsenty avaliou em seu site que a reportagem da TV France 2 era uma farsa montada para servir à propaganda palestina. Karsenty apontou “incoerências” na filmagem, como a falta de sangue, e lembrou que a emissora se recusava a divulgar a íntegra da gravação original mostrando a suposta agonia do menino -imagens nunca exibidas.
Os advogados da estatal abriram processo por difamação contra Karsenty, que passou de acusador a acusado. O processo se arrastou até a semana passada, quando um tribunal de Paris inocentou Karsenty e afirmou que suas ressalvas quanto à reportagem são “legítimas”.
Mas a corte não deixou claro se a TV francesa agiu de má-fé. Amparada por especialistas que negam que tenha havido manipulação das imagens, a emissora recorreu agora à mais alta corte de apelações do país. Até hoje, não se sabe o que houve de fato com o menino.