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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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FATO: é mais vantajoso ser bandido na Vara de Moro do que no STF!

STF deu pena de mais de 18 anos a sócia de um banco que manipulou quantia incomparavelmente menor do que Machado e Barusco, premiados por Sergio Moro

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 9 fev 2017, 17h29 - Publicado em 9 fev 2017, 00h51

Pois é…

Trago uma pauta aqui da qual o jornalismo com equipe — blog, como se sabe, este ao menos, é coisa de um só — não pode declinar, não é? Mas, antes, algumas considerações.

O que se vende por aí é que atravessamos o umbral da nova moralidade. E, com a Lava Jato, pela primeira vez, bandidos estariam sendo efetivamente punidos. Já com garra, já com força.

Não só isso. A garantia da punição, como se sabe, seria Sergio Moro, escoltado, como bife a cavalo, por Deltan Dallagnol.

Estamos sob a égide de um novo “nunca antes na história destepaiz”…

O bordão do Apedeuta foi expropriado pela força-tarefa.

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Há mais.

Os bravos roubaram do PT também o discurso do “Nós” contra “Eles”. Assim, quando os valentes se manifestam, ficamos sabendo que “Nós (os da Lava Jato) somos a única fonte de legitimidade, verdade e moralidade”. Sim. E, por óbvio, do outro lado da linha estão “Eles”. Quem são? Ora, os que não são “Nós” — logo, defensores, partidários ou beneficiários da corrupção.

É possível um “Eles” virar “Nós”? Sim! Há que passar pelo batismo e anunciar o nome do Profeta. E como é que se mergulha nessa água? Basta dizer: “Estão querendo acabar com a Lava Jato”.

E os fieis dizem em coro: “Isso não! O bem vencerá! Aleluia!”.

E alguém antes tido, talvez por engano, como “Nós” pode virar um “Eles”? É evidente. Basta que discorde de “Nós”.

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A influência do petismo no país e os efeitos teratológicos na moralidade nacional são muito mais graves e profundos do que se mensurou até agora. Sim, a Lava Jato expôs, de modo inédito, a rede de corrupção e associações escusas que sequestrou o estado brasileiro. E seu mérito poderia ser tão épico como as ambições de suas principais estrelas.

Mas a coisa começou a desandar quando se descuidou da lei para aderir ao alarido. Mais de uma vez, Deltan Dallagnol proclamou que só a população pode manter a Lava Jato. Não seriam as leis, as instituições, a Justiça? Então todos esses entes estão mesmo contra o povo?

Memória
Bem, o arquivo deste blog está à disposição. Todos os meus comentários na Jovem Pan também. Idem para as colunas da Folha. O mesmo para os comentários no RedeTV!News. Achem uma só vez em que justifiquei uma ação ao arrepio da lei. Tais arquivos remetem de meados de 2006 a esta data. E antes também não.

Mas quê! A exemplo da cultura vigente à época dos petistas e sua rede venal na Internet, também agora a crítica, a objeção ou o reparo são confundidos com sabotagem. Reitero: as personagens são novas, o jogo é velho, e, se querem saber, também alguns valentes de agora lembram aquele misto de fascismo de esquerda e de direita que todo esquerdista inteligente e todo direitista idem sempre perceberam no PT.

Finalmente a pauta!
Bem, a Lava Jato deveria deixar um pouco o marketing de lado e publicar uma lista objetiva da pena aplicada aos condenados. Não precisa muito: o nome, os crimes e a pena.

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O primeiro parágrafo de um texto da Folha de janeiro do ano passado informava: “Treze delatores da Operação Lava Jato já foram condenados pelo juiz Sergio Moro a penas que somam 283 anos e 9 meses de reclusão. Os acordos de colaboração com a Justiça, no entanto, reduziram o tempo que permanecerão presos: juntos, ficarão, no máximo 6 anos e 11 meses em regime fechado”.

Que tal?

Kátia Rabello, acionista principal do Banco Rural, que financiou operações do mensalão num valor que Pedro Barusco antes gastava em pinga, pegou 17 anos e oito meses de cadeia. Sem delação premiada. Ela certamente não sabe ainda hoje a diferença entre uma fatura e uma duplicata. E daí?

José Roberto Salgado, dirigente da mesma instituição, também sem delação, levou 16 anos e oito meses. Marcos Valério teve ainda menos sorte. Nada de delação. Sua pena, na soma, já vai chegando perto de 50 anos.

Os crimes cometidos, por exemplo, por Kátia e Salgado, se comparados, inclusive em volume de dinheiro, com os admitidos por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, viram brincadeira de criança. Quase um tribunal de pequenas causas.

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Pois saibam: aquele bandido confesso pegou cana de dois e anos três meses. Mas vai cumprir numa mansão que tem numa praia paradisíaca de Fortaleza. Filhos seus que se meteram na sujeira levaram simplesmente o perdão. Não vão ficar nem com a ficha policial suja.

Favor
E qual foi o grande favor que Sérgio Machado fez à Lava  Jato? Foi instruído a gravar conversas que indicavam um grande… complô contra a Lava Jato. Simples considerações eram tidas como graves maquinações. E, acreditem, muita coisa ruim ainda virá dessa área.

Qual é a pena máxima que pegou um delator até agora?

Pedro Barusco devolveu, sozinho, US$ 97 milhões aos cofres públicos.Com esse valor, dava para comprar o banco de Kátia Rabello e ainda sobraria muita grana.

Então! Barusco foi condenado a mais de 18 anos de prisão. Com a delação, essa pena passou para regime aberto — que, no Brasil, virou sinônimo de prisão domiciliar. E terá um grande contratempo: usar a tornozeleira eletrônica por pouco mais de dois anos.

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Divulgue, força-tarefa, a lista dos delatores condenados, seus crimes, sua pena original e quanto terão de cumprir.

Para encerrar Quem lê o noticiário e cai na conversa de mistificadores não hesitaria em dizer que o STF é a Casa da Pizza e da impunidade, né? Aquele mesmo que puniu Valério com 40 anos, Kátia com 18 e Salgado com 17.

Severa mesmo é a Lava Jato. Corajosa mesmo é a primeira instância, que faz com que boa parte dos muito ricos e honestos “destepaiz” inveje a vida de um criminoso confesso como Sérgio Machado. Tem direito até a um padre. Alma pia é assim.

Não adianta! E não adianta me ofender. Sim, o desmantelamento da rede criminosa era importante, e as delações foram fundamentais para isso. Sim, a investigação permitiu recuperar parte do dinheiro desviado, ainda que ínfima. Não ignoro os ganhos.

Mas também não ignoro que vale mais a pena ser bandido perante a 13ª Vara Federal de Curitiba do que perante o Supremo Tribunal Federal.

Algum contra-argumento fático? Os xingamentos, já os conheço todos.

PS: Ah,  sim, claro! Eu também faço parte do grande complô contra na Lava Jato, que hoje reúne todos os petistas, metade ou mais do STF, a Câmara, o Senado, o PSDB, o PMDB, o presidente Michel Temer, o futuro ministro do Corte. Isso para citar os mais influentes…

Ah, sim: haverá um filme sobre a Lava Jato. Quem faz o papel de Simão Bacamarte?

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