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EVO, O GOLPISTA

A situação da Bolívia (ver posts abaixo) pode degenerar em guerra civil. É fácil, convencional e estúpido olhar para o país e acusar a, como é mesmo?, direita golpista. Coisa de energúmenos — que não leram os livros de referência sobre o assunto — ou de quem tem mesmo má-fé ideológica, pura e simplesmente: na […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h01 - Publicado em 10 set 2008, 07h25
A situação da Bolívia (ver posts abaixo) pode degenerar em guerra civil. É fácil, convencional e estúpido olhar para o país e acusar a, como é mesmo?, direita golpista. Coisa de energúmenos — que não leram os livros de referência sobre o assunto — ou de quem tem mesmo má-fé ideológica, pura e simplesmente: na dúvida, acuse a direita. A oposição boliviana age da melhor maneira? Acho que não. Mas ela criou a crise sozinha? Ora, tenham paciência!

Desde o primeiro no dia no poder, Evo Morales não tem feito outra coisa que não assaltar a institucionalidade que o elegeu. Governos que desrespeitam as regras do jogo democrático ou degeneram em ditaduras ou acabam depostos — e, às vezes, por outras ditaduras. Um maluco como Hugo Chávez pode até ter uma longa permanência no poder. Mas, acreditem, aquilo não dará em boa coisa. Quantos foram os nossos analistas, com as respectivas cabeças ornadas por um belíssimo par de orelhas, que não viviam a indagar: “Oh, o que Chávez fez de antidemocrático? Ele sempre faz referendos e consultas populares”. Como se isso fosse garantia de democracia.

Não creio que alguém ignore que se pode recorrer a instrumentos da democracia para solapar a própria democracia. Isso é tão corriqueiro no continente, hoje ou antes. Vejam o Brasil de 1964 se querem um exemplo da casa. A democracia foi para o brejo só porque havia uma elite golpista? Essa é a versão dos que imaginavam outros golpes: o populista — do próprio Jango — e o comunista, das esquerdas. Aquele governo foi deposto porque a desordem foi levada para dentro do poder pelo próprio presidente — e, claro, porque havia golpistas em excesso no Brasil: na direita, na esquerda e na Presidência da República. A democracia morreu por falta de quem a defendesse.

Volto à Bolívia. Morales, que costumo chamar aqui de “índio de araque”, tentou mimetizar os métodos Chávez na Bolívia. Só que não com o mesmo sucesso — até porque os bolivianos viram o que aconteceu na Venezuela. Essa história de fazer referendo revogatório de mandato para reivindicar mais poder é também golpe, só que dado por intermédio de um arremedo legal. Um dos caminhos para a degeneração da institucionalidade é justamente essa “plebiscitização” da política. No Brasil, sabemos, há quem sonhe com isso.

Desde o primeiro minuto de seu mandato — e, antes, já na campanha —, Evo Morales decidiu ser o presidente da Bolívia Ocidental, justamente onde se concentra a massa de miseráveis que ele pode manipular com seu discurso beligerante contra “os brancos” e contra “os ricos”. Mas a Bolívia Oriental, onde estão “os brancos e ricos”, responde por boa parte da riqueza do país e rejeita os métodos escolhidos pelo presidente.

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A idéia de que a democracia é apenas o regime da maioria é estúpida — o fascismo, por exemplo, era um regime de maioria. A democracia compreende também o respeito à minoria. E isso nada tem a ver com “privilégios”. Gente como Evo Morales, Rafael Correa (Equador) e Chávez não entende o princípio. No Brasil, é bom que se diga, há facções do petismo que ainda não se conformaram com o fato de Lula, popular como é, estar limitado por uma Constituição e por leis.

Eis aí. Tentativa de golpe da direita? E por que não se falar, então, em contragolpe? Espero que os opositores de Evo Morales renunciem à violência sem mudar o propósito de conter o aprendiz de ditador. Ele vai ter de negociar. Ou vem por aí um banho de sangue.

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