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Evo Morales não gosta de VEJA. E é muito fácil saber por quê!

O presidente da Bolívia, Evo Morales, está bravo com a VEJA. A cada vez que alguém como Evo ataca a revista, creio que está a convocar as pessoas a fazer uma escolha: ou se fica, com efeito, com ele, seus amigos e tudo o que representam, ou se fica com os fatos, compromisso inamovível da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h28 - Publicado em 4 set 2013, 17h56

O presidente da Bolívia, Evo Morales, está bravo com a VEJA. A cada vez que alguém como Evo ataca a revista, creio que está a convocar as pessoas a fazer uma escolha: ou se fica, com efeito, com ele, seus amigos e tudo o que representam, ou se fica com os fatos, compromisso inamovível da revista.

Por que Evo está furioso? Na edição de VEJA desta semana, há uma reportagem de Duda Teixeira intitulada “O embaixador da coca” (segue a íntegra neste post). Uma síntese:
1: O senador Roger Pinto Molina, que está no Brasil, começou a ser perseguido por Evo quando denunciou o comprometimento de membros do partido de Evo com o narcotráfico;
2: Consta das denúncias que o atual ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana, e a ex-modelo Jessica Jordan entraram na casa do narcotraficante brasileiro Maximiliano Dorado, em Santa Cruz de la Sierra, no dia 18 de novembro de 2010. Os dois saíram cada um com duas maletas tipo 007;
3: Evo nomeou o advogado Jerjes Justiniano para embaixador no Brasil;
4: O embaixador é pai do advogado Jerjes Justiniano Atalá, que tem entre seus maiores clientes justamente funcionários do governo acusados de narcotráfico;
5: Atalá, o filho do embaixador, era sócio do também advogado americano Jacob Ostreicher, que investiu 25 milhões de dólares em plantações de arroz na Bolívia em parceria com a colombiana Cláudia Liliana Rodríguez, sócia e mulher de Maximiliano Dorado, o traficante brasileiro.

Achou pouco, leitor? Então mais uma:

6: Há um vídeo de quatro minutos que mostra o embaixador visitando a fábrica do narcotraficante italiano Dario Tragni, em Santa Cruz de la Sierra, no início de 2010. Na ocasião, Justiniano era candidato ao governo de Santa Cruz pela legenda do presidente Morales.

A braveza
Evo, como era de esperar, não gostou da reportagem. Ele é incapaz, porque não dá, de negar qualquer um dos fatos apontados na reportagem. Atuando em parceria com os “bolivarianos” da imprensa brasileira, regiamente financiados por dinheiro público, o presidente boliviano decidiu atacar a VEJA. Indagado nesta terça sobre o conteúdo da reportagem, o valente afirmou que nada tinha a dizer, a não ser fazer uma recomendação: que, “por higiene mental, as pessoas não leiam a VEJA”.

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Evo, por óbvio, não é o tipo de crítico do qual os criticados devam necessariamente se orgulhar porque, para tanto, lhe falta, digamos, dimensão. Mas não se duvide de que é uma evidência de que a revista, entre dois campos, escolheu o moral (o outro, por óbvio, é o inverso). Quem está pedindo que não se leia VEJA?
– o homem que tomou dos brasileiros uma refinaria da Petrobras de armas na mão;
– o homem que incentivou e incentiva a expansão dos campos de produção de folha de coca, inclusive na fronteira com o Brasil;
– o amigo do “sacerdote” Valentín Mejillones, que abençoou sua posse em 2006, preso com 240 quilos de cocaína líquida;
– o homem que fez aprovar uma lei em seu país para legalizar os carros que foram roubados no Brasil;
– o líder que expandiu enormemente a produção de folha de coca no país, sob o pretexto de que a planta serve ao consumo ritual. Quando ele chegou ao poder, já se produzia o suficiente para que todos os bolivianos mascassem alguns quilos de folha por dia… E, como é sabido, boa parte da população urbana do país não pratica o tal “ritual”.

Assim, é compreensível que o presidente boliviano não goste de VEJA. Cá comigo, também acho que as pessoas devem fazer uma escolha entre o que Evo representa e o que VEJA representa.

Segue a reportagem que tanto desagradou a esse gigante moral.
*
O embaixador da coca

O motivo primordial da perseguição política que levou o senador Roger Pinto Molina a pedir asilo na Embaixada do Brasil em La Paz foi um dossiê que ele entregou no Palácio Quemado, sede do Executivo boliviano, em março de 2011. O pacote trazia cópias de relatórios escritos por agentes da inteligência da polícia boliviana em que se desnudava a participação de membros do partido do presidente Evo Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS), e de funcionários de alto escalão do seu governo no narcotráfico. Alguns desses documentos posteriormente também foram obtidos por VEJA e serviram de base para a reportagem “A República da cocaína”, de 11 de julho de 2012. Neles, afirma-se que o atual ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana, e a ex-modelo Jessica Jordan entraram na casa do narcotraficante brasileiro Maximiliano Dorado, em Santa Cruz de la Sierra, no dia 18 de novembro de 2010. Os dois saíram cada um com duas maletas tipo 007. A intenção do senador hoje refugiado no Brasil era que o presidente Morales mandasse investigar as denúncias, e assim contribuísse no combate à indústria da pasta de coca — matéria-prima contrabandeada para o Brasil para a produção de cocaína e crack — e à rede de corrupção ligada a ela.

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Nenhum suspeito foi interrogado. Em vez disso, Morales iniciou a perseguição ao senador Pinto Molina e nomeou para o posto de embaixador no Brasil o advogado Jerjes Justiniano, que assumiu há um ano com a missão expressa de fazer frente às denúncias contra os narcofuncionários da Bolívia. Morales poderia ter escolhido alguém menos comprometido com o assunto para desempenhar esse trabalho. O filho do embaixador, o também advogado Jerjes Justiniano Atalá, tem entre seus maiores clientes justamente funcionários do governo acusados de narcotráfico. Pior do que isso. Atalá, que no passado dividiu o escritório com o pai, foi o advogado do americano Jacob Ostreicher, que investiu 25 milhões de dólares em plantações de arroz na Bolívia em parceria com a colombiana Cláudia Liliana Rodriguez, sócia e mulher de Maximiliano Dorado. Resumindo a história: o filho do embaixador defendeu o sócio da mulher do traficante brasileiro, aquele que recebeu em sua casa o ministro denunciado por Pinto Molina. Trata-se, no mínimo, de uma coincidência constrangedora para o papel que Justiniano veio desempenhar no Brasil.

Igualmente constrangedor é um vídeo de quatro minutos que mostra o embaixador visitando a fábrica do narcotraficante italiano Dario Tragni, em Santa Cruz de la Sierra, no início de 2010. Na ocasião, Justiniano era candidato ao governo de Santa Cruz pela legenda do presidente Morales. Ele foi derrotado na eleição, que ocorreu em abril. No tour pela fábrica de madeira Sotra, Justiniano percorreu as dependências do local ciceroneado por um Tragni falante e irrequieto. “Esta é uma das máquinas mais produtivas da América Latina”, disse Tragni, apontando para um de seus equipamentos. Justiniano perguntou: “Estão exportando para onde?”. O italiano respondeu orgulhoso que para Espanha, Itália, Estados Unidos e Alemanha. Participou também da visita amigável Carlos Romero, atual ministro do Governo da Bolívia e responsável pela segurança interna do país. O incrível desse episódio é que poucos meses antes, em novembro de 2009, a polícia encontrara na Sotra diversos recipientes com cocaína, somando 2,4 quilos. No quarto de Tragni, foram apreendidos uma balança e um liquidificador com vestígios de cocaína. Um dos conhecidos meios para transportar drogas usado pelos traficantes bolivianos é escondê-las dentro de compensados de madeira para exportação.

Em tempo: em outubro do ano passado, o ator americano Sean Penn foi nomeado por Morales como embaixador mundial da coca. Nem precisava. A Bolívia já tem Jerjes Justiniano despachando em Brasília.

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