Eu tenho uma sugestão de cena para encerrar o filme de Tata Amaral, que vai cantar as glórias de Dirceu com dinheiro público. Ou: “Uma banana para vocês!”
Vejam esta cena: Pois é… Tata Amaral vai fazer um filme sobre as agruras do herói José Dirceu. E vai fazê-lo com o nosso dinheiro, uma vez que tem autorização para captar mais de R$ 1,5 milhão pela Lei Rouanet. Como isso resulta em renúncia fiscal, os “pobres de tão pretos e pretos de tão […]
Pois é… Tata Amaral vai fazer um filme sobre as agruras do herói José Dirceu. E vai fazê-lo com o nosso dinheiro, uma vez que tem autorização para captar mais de R$ 1,5 milhão pela Lei Rouanet. Como isso resulta em renúncia fiscal, os “pobres de tão pretos e pretos de tão pobres” (para citar o anticapitalista e new kid on the black bloc Caetano Veloso…) vão pagar a hagiografia cinematográfica da artista, a esta altura, acima de qualquer suspeita.
Ocorre que o STF está a um passo de conceder a Dirceu e mais 11 o direito a um novo julgamento. Dado o cheiro da brilhantina, se isso acontecer, há a possibilidade da redução da pena de quadrilha e, a depender do tempo, da prescrição. Aí o “homem mais perseguido da República”, como o classificou esta pensadora com uma câmera na mão (e só), não vai para o regime fechado, o que diminui em muito as virtudes do seu martírio.
É bem verdade que isso pode excitar ainda mais a câmera na mão, né? Imaginem, ao fim de tudo, o Zé sendo carregado em triunfo, podendo circular impune por aí. Quem sabe a cineasta inaugure a estética e a ética do triunfo redentor do vilão!
Entrou para a história das telenovelas o fim de “Vale Tudo”, de Gilberto Braga. A personagem vivida por Reginaldo Farias, um dos vilões, foge do país num jatinho, em companhia de Leila, sua mulher, e dá uma solene banana para o país. Ocorre que Braga via aquilo com olhos críticos. Tata, como disse, pode ser mais criativa.
Assim, ela pode recorrer ao que se chama, em arte, “citação”. Fico aqui a pensar em José Dirceu a dar uma banana para as leis, mas entusiasticamente aplaudido e festejado por petistas, que cantariam em coro:
“Dirceu/ guerreiro/
herói do povo brasileiro”
Na fila do gargarejo, na avant-première, haverá alguns togados, certos de que o povo brasileiro, como diria Roberto Barroso, quer mesmo é justiça. Nem diga!