Estado demencial
Quando noticiei aqui, com exclusividade, lá atrás, que a Abin era a verdadeira responsável pela Operação Satiagraha, foi um deus-nos-acuda. A verdade é que a agência virou a casa-da-mãe-joana — ou do do-pai-Lacerda. Assim como a PF é a casa-do-pai-Tarso. E é óbvio que existem servidores dedicados e decentes em ambas as instituições. O que […]
O que disse Protógenes à CPI dos Grampos? Que a participação da agência havia sido “informal”. Quando depôs, o que afirmou Paulo Lacerda, o chefão da Abin? Que ele sabia vagamente de alguma participação, mas deu a entender que era coisa marginal. Era, sim, marginal porque à margem da lei. Ou a Abin cede 52 homens sem o conhecimento prévio da chefia?
Vejam a nota oficial divulgada pela Abin no dia 14 de julho, assinada por Paulo Lacerda, contestando a informação de que a agência atuara na Operação Satiagraha:
“Em razão de notícias veiculadas em setores da mídia envolvendo equivocadamente o nome da Agência Brasileira de Inteligência em relação a assunto apurado pela Polícia Federal na Operação Satiagraha, que investiga possíveis crimes praticados pelo banqueiro Daniel Dantas e outros, cumpre esclarecer o seguinte:1. A Abin não realiza quaisquer atividades para as quais não possua respaldo na legislação em vigor. Por isso, considera absurdas e levianas as declarações de que tenha executado monitoramento telefônico de quaisquer pessoas, sejam elas do setor público ou privado;2. A Direção Geral não tem e não teve nenhuma participação ou iniciativa, muito menos ingerência, nos fatos que resultaram na referida operação policial. Desde que deixou a Direção do Departamento de Polícia Federal, em agosto de 2007, o atual Diretor-Geral da Abin dedica-se exclusivamente a sua função;3. A Abin, na condição de órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, pode e deve operar em cooperação com os demais órgãos públicos em ações que não lhe sejam vedadas, como realizar consultas em bancos de dados, análises de inteligência e, sempre que possível, no suporte logístico. Para tanto, caso solicitada, estará sempre à disposição dos órgãos parceiros, para auxiliar em trabalhos de sua atribuição, como ocorre em algumas grandes investigações, que, não raro, contam com a participação de integrantes de vários órgãos da Administração Pública Federal.“Marcelo Coelho (ver post abaixo) tem razão: não se trata de um estado policial. Estamos falando de um estado demencial. Ah, sim: não existe um só documento da Polícia Federal solicitando a colaboração da Abin. Foi uma ação clandestina, digna dos melhores piores tempos da ditadura.