Empresa entra na Esplanada com preços irrisórios e fatura R$ 40 mi
Por Leandro Colon, no Estadão: O segredo de uma das mais poderosas empresas do ramo de eventos do governo federal começa a ser desvendado: preços irrisórios, misturados a valores de mercado para vencer licitação – prática considerada ilícita por órgãos de fiscalização – em um ministério e, assim, ter acesso a praticamente toda a Esplanada. […]
Por Leandro Colon, no Estadão:
O segredo de uma das mais poderosas empresas do ramo de eventos do governo federal começa a ser desvendado: preços irrisórios, misturados a valores de mercado para vencer licitação – prática considerada ilícita por órgãos de fiscalização – em um ministério e, assim, ter acesso a praticamente toda a Esplanada. Somam-se a isso diretores com bagagem e influência na administração pública. Criada em 2004, a Dialog Comunicação e Eventos Ltda faturou R$ 40 milhões em menos de dois anos.
A Dialog ganhou fama após receber R$ 1,2 milhão para preparar, em fevereiro, o polêmico encontro de prefeitos que promoveu a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, preferida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo em 2010. Esse evento foi apenas uma pequena fatia do bolo. Desde agosto de 2007, a Dialog assumiu a organização de grandes promoções do governo federal, como os lançamentos de programas de crédito da agricultura familiar, do canal digital em São Paulo pela TV Brasil, a realização do seminário da Copa do Mundo de 2014, no Rio de Janeiro, e o aniversário de quatro anos do Ministério de Desenvolvimento Social. Algumas cerimônias contaram, inclusive, com a participação do presidente Lula.
Esse crescimento despertou a atenção do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que estão investigando os contratos da empresa.
O começo
A porta de entrada para a Dialog foi uma concorrência vencida em agosto de 2007 no Ministério das Cidades para oferecer 239 itens relacionados à organização de eventos. O Estado teve acesso a esse contrato, prorrogado até agosto deste ano, por um valor de R$ 9 milhões anuais. Para vencer os adversários, a Dialog ofertou 105 itens com preços impraticáveis no mercado. A diária de oito horas do coordenador-geral foi oferecida a R$ 4,85, ou R$ 0,60 a hora. Mesmo valor para locutor, cerimonialista (responsável por toda a execução do evento), copeira, e outros serviços, como videoconferência, aluguel de veículos e auditório para três mil pessoas. A diária foi ainda menor para técnicos de luz e de computação: R$ 2,43.
Um detalhe, porém, chamou a atenção nas últimas semanas: no dia 26 de maio passado, a empresa apresentou valores de mercado, até mil vezes maiores, ao vencer uma licitação na Secretaria de Pesca semelhante à de 2007, no Ministério das Cidades. A reportagem obteve essa proposta da própria Dialog. A cotação de um coordenador-geral passou de R$ 4,85 para R$ 181,72, e o preço de um auditório atingiu R$ 3,7 mil, ante também R$ 4,85 no contrato de dois anos atrás. “A realidade do ramo de eventos mudou”, alega Gabrielle Bennet, sócia da empresa.