Eles são intelectualmente mais honestos quando abertamente desonestos
A manchete da Folha de hoje, com trecho da reportagem reproduzido abaixo, indica que a proposta do governo é mesmo controlar o conteúdo do rádio e da televisão. Está no papel. É oficial. É isso que será remetido a Dilma Rousseff. Segundo Luiz Inácio Lula da Silva, o Apedeuta “sainte” (para empregar mais uma contribuição […]
A manchete da Folha de hoje, com trecho da reportagem reproduzido abaixo, indica que a proposta do governo é mesmo controlar o conteúdo do rádio e da televisão. Está no papel. É oficial. É isso que será remetido a Dilma Rousseff. Segundo Luiz Inácio Lula da Silva, o Apedeuta “sainte” (para empregar mais uma contribuição sua à língua), a presidente eleita concorda. Já trato desse aspecto em particular. Todos aqueles que apontávamos essa intenção — negada por Franklin Martins num seminário da TV Cultura há meros 11 dias — estávamos certos.
A propósito: critiquei a emissora por chamar gente como Franklin para um evento destinado a debater liberdade de imprensa e regulação. Alguns leitores reclamaram: “Então você só quer encontro entre pessoas que concordem?” Não! O debate tem de se dar entre pessoas intelectualmente honestas e dispostas a falar a verdade. O ministro da Supressão da Verdade tem outros compromissos.
Ele continua a ser aquele esquerdista de sempre, o seqüestrador do embaixador. Não faz tempo, vocês se lembram, tratando da possibilidade real à época de matar Charles Elbrick, Franklin gargalhou. Por que uma pessoa que gargalha ao falar de um homicídio não proporia o controle de conteúdo da TV e do rádio? Imaginem se quem justifica a supressão do direito que o outro tem à vida vai acender uma vela que seja pela liberdade de imprensa!
Mas a questão não é só de caráter. Há também o aspecto político. As esquerdas odeiam a liberdade. Elas se fizeram, todas elas, contra a suposição de que somos dotados de uma consciência, de vontades, de direitos. Ora, se elas têm um “projeto histórico” e se, num determinado momento, forças da sociedade atrapalham a realização desse projeto, o que fazer (para lembrar uma pergunta clássica de Lênin)? Eliminar os entraves. Como, hoje em dia, não é possível passar fogo na tigrada, elas tentam a eliminação do adversário pela via legal.
O truque e o controle remoto
Durante a campanha eleitoral e mesmo depois, Dilma negou que o governo e ela própria tivessem o intento de controlar conteúdo. Segundo disse, o único controle que ela admite é o remoto. Vamos ver. A coisa toda está com cheiro de bode na sala. Eu não acredito no “descolamento” da criatura de seu criador. É bem possível que o projeto de Franklin, que sai ao gosto de Lula, peça o absolutamente inaceitável para obter o parcialmente inaceitável. Afinal, como pontificou o homem que gargalha, a regulação sai com diálogo ou sem ele.
Não adianta! Controlar a imprensa e a “mídia” é uma obsessão do PT. Foram muitas as tentativas ao longo de oito anos, todas elas malsucedidas. Lembrem-se que, em 2007, o Dejus, órgão do Ministério da Justiça, apresentou uma proposta que instituía a censura prévia no país — nada menos do que isso! Contra a Constituição! Acabou sendo retirada. O chefe da turma era aquele jovem rapaz — tinha 32 anos à época — que apelidei de Romão Chicabon (José Eduardo Elias Romão): tinha cara de criança e idéias de moleque malvado, que não gosta de brincar de democracia. Ele queria ser dono da bola — ele e uns menudos amestrados, na sua faixa etária, que faziam a classificação indicativa de filmes. Por isso eu pedia que lhe dessem um picolé: era para se divertir, uma forma de ver se parava de encher o saco do estado de direito com suas molecagens institucionais… Como o governo nos achava idiotas para escolher o melhor para nossos filhos, apresentou-se para fazer isso em nosso lugar. O rapaz não está mais no cargo.
Alguns bobinhos se divertem um tantinho achando que a intenção do governo é interferir só na área de radiodifusão, que é concessão pública. Jornais, revistas e Internet estariam livres. Besteira! Quem quer praticar uma violência contra a liberdade não precisa de motivo, só de pretexto. Começariam com os serviços sobre concessão e tentariam controlar a imprensa como um todo. Não se esqueçam de que o Programa Nacional-Socialista de Direitos Humanos, por exemplo, que teve a chancela de Dilma, não poupava ninguém: instituía a censura a todos em nome dos nobilíssimos direitos humanos!
Ainda voltarei ao assunto mais tarde. Dilma tende a rejeitar a proposta. Direi por quê.
Anotem aí: se há petistas na jogada, desconfiem de qualquer aparência de boa intenção. Eles são muito mais honestos quando são abertamente desonestos. Não sei se me fiz entender. “Ah, que preconceito!” Não é, não! Só experiência…