E se Dilma ficar? Dilma responde: “Nem quem ganhar nem quem perder vão ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”
O governo conseguiu, sim, obter uma vitória importante ao vetar a fórmula 85/95 para as aposentadorias, que substituiria o atual fator previdenciário. Também barrou a isenção de PIS-Cofins para a venda de diesel. No primeiro caso, evitou-se um rombo ainda maior na Previdência no médio e no longo prazos; no segundo, uma perda de arrecadação […]
O governo conseguiu, sim, obter uma vitória importante ao vetar a fórmula 85/95 para as aposentadorias, que substituiria o atual fator previdenciário. Também barrou a isenção de PIS-Cofins para a venda de diesel. No primeiro caso, evitou-se um rombo ainda maior na Previdência no médio e no longo prazos; no segundo, uma perda de arrecadação no curto prazo. Falta ainda a prova de fogo dos vetos, que é o “não” de Dilma ao reajuste médio, em quatro anos, de 59,5% ao funcionalismo do Judiciário. De resto, não se pode falar de um “turning point”, de uma virada, de uma inflexão em favor de Dilma, antes da votação da CPMF.
Vamos lá: uma coisa seria o governo conseguir encher o plenário com seus fiéis. Estaríamos diante de uma demonstração de força. Não foi bem isso o que aconteceu. Os antigovernistas é que não conseguiram os 254 deputados e os 42 senadores necessários para derrubar os vetos. Mas uma coisa é evidente: o governo ainda respira — com a ajuda de aparelhos, mas respira. Governos não morrem na véspera.
O esforço para manter os vetos está sendo encarado pelo governo como uma prévia para impedir o avanço do processo de impeachment. Notem: tanto na questão dos vetos como no esforço para impedir que a Câmara aceite a denúncia contra a presidente, o Planalto não precisa ganhar em números absolutos — pode até perder. Seus adversários é que não podem obter os votos necessários. Para que a Câmara afaste Dilma, é preciso ter 342 votos. É gente pra chuchu.
O jogo pesado do governo se dá em cima do PMDB, muito especialmente de Leonardo Picciani (RJ), o líder do partido na Câmara. É um aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sim, presidente da Casa, mas também tem voo próprio — ou nem tão próprio assim. Seu chefe político, hoje, é Pezão (PMDB), governador do Rio, que trabalha contra o impeachment. Também é filho de Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio.
Dilma está disposta a ampliar a participação do PMDB no governo e passou a fazer uma negociação com as bancadas do partido no Senado e na Câmara, independentemente de Michel Temer e do próprio Cunha. Eventuais indicados podem até ser aliados seus. Mas esse não era o caminho escolhido pelo deputado. De resto, sabe que o Planalto não pode mais fazer nada por ele. E o que tem a fazer contra, convenham, está sendo feito.
Sim, o governo logrou uma vitória — ou, se quiserem, evitou derrotas —, mas está muito distante do equilíbrio. Vêm dificuldades imensas por aí, que farão azedar o ambiente, e creio que não há ministérios para o PMDB que possam resolver. Em breve, o TCU apresenta a sua recomendação para que as contas do governo sejam rejeitadas. Esse round, Dilma já perdeu. Hoje, não há a maioria de três quintos na Câmara para aprovar a CPMF. Até porque os parlamentares podem lembrar a Dilma que já ajudaram a barrar a fórmula 85/95 para a aposentadoria. E a nova CPMF, diz o governo, vai para a Previdência.
Nesta quarta-feira, Cunha bateu o martelo sobre o ritual a ser seguido para a denúncia contra Dilma, protocolada na Câmara, que tem o endosso das oposições. E aí a sorte estará lançada.
Sim, tudo vai depender um tanto do andamento da economia, do preço do dólar, da percepção da crise, da mobilização da sociedade, da expressão das insatisfações. Parlamentos podem ter muitos interesses, mas, nas democracias, eles costumam ser sensíveis à voz rouca das ruas. Como é que se diz nos shows? “Quem tá contente tira o pé do chão.” Nesse caso, é o contrário: quem está descontente tem de pôr os pés do chão.
Até porque, convenham, a própria Dilma já definiu muito bem o que significará a eventualidade de ela continuar no poder:
“Eu acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem quem perder vão ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”.
Schopenhauer não seria mais claro mesmo para os analfabetos em alemão.