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Reinaldo Azevedo

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Doença de Lula: jornalistas e cientistas políticos parecem Sheldon, do “The Big Bang Theory”

A maioria já deve ter assistido a algum episódio do engraçadíssimo “The Big Bang Theory”. Certos jornalistas e também “alguns cientistas sociais” sofrem do “Complexo de Sheldon”: tudo tem uma explicação, sempre ancorada em sólidos fundamentos, por mais tola e inútil que seja. É o caso agora da doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h20 - Publicado em 30 out 2011, 06h53

A maioria já deve ter assistido a algum episódio do engraçadíssimo “The Big Bang Theory”. Certos jornalistas e também “alguns cientistas sociais” sofrem do “Complexo de Sheldon”: tudo tem uma explicação, sempre ancorada em sólidos fundamentos, por mais tola e inútil que seja. É o caso agora da doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ficar desenhando cenários a partir do que se tem hoje é de uma espantosa inutilidade, que deixaria Leonard, o físico experimental, estupefato. É por isso que ele, apesar de meio bobalhão, como os outros, é o único que arranja mulher… A quantidade de especulação que se está produzindo é uma coisa fabulosa. E o que é pior: contra a história e a experiência empírica.

“A candidatura Lula em 2014 se inviabilizou de vez”…
“Se Lula não puder se esgoelar nos palanques, diminui a sua importância no pleito”…
“A política não será mais a mesma depois disso”…
Tá bom! Se é preciso dizer alguma coisa, pode ser até isso. Mas convém olhar um pouco para a história recente do Brasil. Pra começo de conversa, não se conhece ainda a gravidade da moléstia. Se a hipótese mais otimista dos médicos se confirmar, Lula estará pronto para a campanha de 2012, ainda que possa reduzir o ritmo planejado. A sua presença nos palanques e na TV, no entanto, reforçará os aspectos mitológicos — irracionais, como em todo mito, mas politicamente eficazes — de sua figura.

O país acaba de passar por uma experiência que falseia esses juízos definitivos. É preciso olhar um pouco para a escolha recentemente feita pelo eleitorado. É bem provável que, num país como os EUA, por exemplo, a candidatura de uma Dilma Roussseff tivesse naufragado junto com o diagnóstico de câncer. Não por maldade, impiedade ou frieza do eleitorado, mas por razões culturais, em nome do velho pragmatismo: “Vai que ela não se cure ou volte a ficar doente…”

No Brasil, conforme o antevisto neste blog (está em arquivo), a doença reforçou a imagem da mulher corajosa, destemida, que enfrenta desafios. Em 26 de abril de 2009, dois dias depois do anúncio da doença de Dilma, escrevi:
“Por aqui [Brasil], há uma chance nada desprezível de se transformar o que é obviamente uma fragilidade num ativo político-eleitoral. Como já disse, a semente foi lançada na coletiva da tarde de ontem. Dilma se saindo bem no tratamento – o que é o mais provável segundo os médicos -, talvez o Planalto se preocupe menos com a reação do eleitorado brasileiro – que também anda sensível às histórias de superação pessoal como exemplos morais de superação coletiva – do que com a reação do PT.”

Acho que acertei, não é mesmo?

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Lembro que a imprensa americana explorou, e não foi pouco, o câncer de pele que John McCain, o adversário de Barack Obama, tivera muitos anos antes. Sua saúde e sua idade, diga-se, eram pautas permanentes. E essas questões jamais eram abordadas para lhe exaltar o destemor, a superação, a coragem, a determinação, o vigor… Nada disso! Falava-se abertamente do risco que representava o voto num candidato com aquele histórico. Em coisas assim, a maioria dos americanos é de um jeito, e a maioria dos brasileiros é de outro. Por aqui, uma abordagem principalmente pragmática de um assunto como esse é considerada ofensiva.

Assim, descarte-se o câncer como interdição para a disputa política. Não é. Tudo vai depender de como evolui a saúde do ex-presidente da República. Caso o governo Dilma caminhe para um quadro de impopularidade, anunciando-se dificuldades para a reeleição — E ISSO NÃO ESTÁ DADO HOJE, DESTAQUE-SE — e caso Lula esteja sem a doença (a palavra “cura”, em casos de câncer, precisa ser empregada com mais cuidado), ele será o candidato do PT. É simples assim. E com o ativo eleitoral de quem “venceu o mal”. Será “menas” verdade, mas não importa. A candidata Dilma, por exemplo, foi declarada “curada”, o que é tecnicamente falso, como sabe qualquer oncologista.

O que estou dizendo é que nada de definitivo se estabelece no cenário por enquanto. 2014 não está nem mais nítido nem mais opaco do que estava antes do anúncio deste sábado. Além de estar longe demais! Quanto a 2012 — dada a exploração política da doença de Dilma no passado —, os petistas sempre podem optar por fazer do limão uma limonada. Cumpre lembrar que, naquelas paragens, inexiste tema que não possam ser convertido em moeda político-e eleitoral. Quando não se tem limite, o câncer não é um limite.

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