Diretor-geral diz que ação da PF não tem caráter político. E faz uma revelação
Leiam como muita atenção o que vai abaixo. Muita mesmo. Volto depois: Por Fausto Macedo, no Estadão: “Quero que digam onde é que está o direcionamento político do nosso trabalho, eu quero que alguém me aponte qualquer conotação de cunho político no pleito da Polícia Federal pelas medidas cautelares nessa investigação”, desafiou ontem o delegado […]
Leiam como muita atenção o que vai abaixo. Muita mesmo. Volto depois:
Por Fausto Macedo, no Estadão:
Em meio à pressão de lideranças do Congresso, Corrêa fez uma defesa veemente da corporação. “Quanto mais trabalha, mais a polícia é criticada. Isso não nos acua. Nossa atuação obedece rigorosamente todas as normas internas da PF, que não autorizam conotação de caráter político.” (…)
O diretor-geral da PF falou ao Estado sobre Castelo de Areia.
(…)
Em hipótese alguma. A Polícia Federal trabalha pautada em técnica, investiga fatos e não pessoas. A categoria eventual de pessoas envolvidas nos fatos pode ou não gerar uma interpretação política, mas para quem de direito. Trabalhamos no aspecto de gestão da PF e na qualidade da prova. Queremos eficiência administrativa. Uma prova robusta supera qualquer crítica, esse é o objetivo.
Lideranças no Congresso atribuem viés político à ação da PF.
Essas críticas surgem em função desse caso concreto (Castelo de Areia). É necessário deixar bem claro, e de forma definitiva, como a polícia tratou essa situação. Houve uma representação pelas medidas cautelares (prisões e buscas). Nessa representação, o delegado (Otávio Russo) relata e fundamenta faticamente os dados coletados na investigação. Eu quero que alguém me aponte qualquer conotação de cunho político no pleito da polícia. Na representação o delegado não faz juízo de valor sobre legalidade ou não de doações. Isso precisa ficar bem claro porque todo mundo atribui à PF a deflagração disso.
Mas nos autos são citados partidos políticos e doações “por fora”.
Na representação final, o delegado apontou exclusivamente crimes financeiros. O que se tornou público é um documento que não é a representação da polícia, mas que é algo legítimo. O juiz (Fausto De Sanctis) destinatário da nossa ação, no despacho de sua decisão, se socorreu de relatórios anteriores da investigação. Na medida em que vai produzindo, a polícia vai relatando. A polícia não pode ser seletiva, se tomou conhecimento de algum fato ela tem que comunicar o juiz. A polícia não pode guardar em apartado alguma coisa de que tomou conhecimento durante investigação. Mas na representação final, pelas medidas cautelares, não houve referência política.
Comento
Muito bem, leitor. Nesta excelente entrevista, pode-se comer a casca da banana e jogar o miolo fora. Mas também se pode escolher comer o principal. Aliás, tenho cá as minhas dúvidas se o Estadão percebeu direito o que tinha em mãos.
O diretor-geral da Polícia Federal diz com todas as letras, sem palavras ambíguas: “Na representação final, o delegado apontou exclusivamente crimes financeiros. O que se tornou público é um documento que não é a representação da polícia, mas que é algo legítimo. O juiz (Fausto De Sanctis) destinatário da nossa ação, no despacho de sua decisão, se socorreu de relatórios anteriores da investigação.”
Isso significa que, segundo o diretor-geral da PF, quem deu o viés político para o relatório, embora tenha dito depois que os políticos não estavam sob investigação, foi o juiz Fausto De Sanctis”. E ainda: “O magistrado se valeu do acúmulo dos relatórios anteriores sem qualquer juízo de valor quanto a doações. Fundamentou sua decisão e a ela deu publicidade, o que deflagrou esse debate sobre viés político.”
Como eu leio isso tudo? Parece que o próprio governo está interessado em fazer saber — e os destinatários da mensagem sãos os partidos e os doadores de campanha — que ele e sua polícia não são responsáveis pelo qüiproquó no mundo político. Afinal, quando o assunto é doação de campanha, fica-se como naqueles filmes em que, se um saca a arma, todos morrem ao mesmo tempo.