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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Dilma e PT, Aécio e PSDB. Ou: O que falta à oposição? Um nome ou um conjunto de idéias?

Caras e caros, Prometi um texto sobre a oposição e seu futuro. Ficou longo! Mas acho que saiu direitinho, redondo. Sim, alguns vão detestar. É do jogo. Penso o que penso — e jamais escondo —, mas o meu compromisso é com os fatos, ainda que o que eu vislumbre não seja do meu agrado. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h41 - Publicado em 25 jan 2012, 06h41

Caras e caros,
Prometi um texto sobre a oposição e seu futuro. Ficou longo! Mas acho que saiu direitinho, redondo. Sim, alguns vão detestar. É do jogo. Penso o que penso — e jamais escondo —, mas o meu compromisso é com os fatos, ainda que o que eu vislumbre não seja do meu agrado. Para chegar ao ponto que quero, terei de falar um pouco do governo Dilma e da avaliação extremamente positiva que os brasileiros, segundo as pesquisas, têm dela. Vamos lá?

No domingo, a Folha trouxe a pesquisa Datafolha com a avaliação do governo. Desde o primeiro levantamento, feito em março, com 90 dias de gestão, consolidou-se um critério a meu juízo cretino e tecnicamente furado que consiste em comparar os números obtidos pela presidente com aqueles de igual período de seus antecessores, especialmente Lula e FHC. Para que isso fizesse algum sentido, seria preciso que:
a) a pesquisa fosse respondida pelas mesmas pessoas;
b) ainda que fosse possível, forçoso seria que o entrevistado tivesse como fazer a avaliação dos três governos.

Isso é uma besteira gigantesca que combina duas vertentes. Uma primeira é mesmo a paixão adesista que caracteriza boa parte da análise política no Brasil — afinal, Dilma sempre esteve à frente dos que a antecederam. Uma segunda não deixa de trair uma forma curiosa de viés anti-Lula!!! “Como, Reinaldo?” Sim, é isto mesmo: não são poucos os que consideram que reforçar a posição de Dilma é uma forma de manter afastado do poder — ao menos do poder formal — o fantasma lulista. Eu, vocês sabem, não lido com esse critério. Para mim, as diferenças pessoais entre os petistas são quase irrelevantes.

O que mais me interessa no petismo não são pessoas, mas o sistema. E não alimento a ilusão que vejo em alguns colegas de que existam contradições relevantes entre ambos. Ela, é bem verdade, à diferença do antecessor, não tentou até agora, por exemplo,  censurar a imprensa. Sim, ponto positivo. Se tentasse, não conseguiria, como ele não conseguiu. Só para encerrar este particular: se Dilma fosse muito diferente, poria um ponto final na prática indecorosa que consiste em financiar o gangsterismo disfarçado de imprensa, especialmente na Internet. Mas não o faz. Administração direta e estatais continuam a usar o dinheiro público para financiar campanhas de difamação contra líderes da oposição, contra ministros do Supremo e contra a chamada grande imprensa. Dilma é a chefe. Se deixa a coisa rolar, é a responsável. O pior é que nada disso seria necessário porque raramente se viu uma imprensa tão dócil com uma presidente. De maneira geral, o jornalismo consegue ser ainda mais “dilmista” do que era “lulista”. Não são os escroques que colaboram para a sua boa reputação. Ao contrário até… Volto ao curso.

Dilma superou Dilma; isso é o que conta
Quando afirmo que é uma besteira essa história de comparar o desempenho dela com o de antecessores em igual período, alguns tontos acreditam que o faço para tentar diminuir a conquista da presidente! Como petralha é burro! Ao contrário até! O DADO RELEVANTÍSSIMO DA PESQUISA DATAFOLHA DE DOMINGO, E AQUI COMEÇO A TANGER A CORDA DA OPOSIÇÃO, NÃO ESTÁ NO FATO DE AVALIAÇÃO POSITIVA DELA SER SUPERIOR À DE LULA, E SIM NO DE TER CRESCIDO 12 PONTOS DESDE MARÇO, 10 DELES SÓ NOS ÚLTIMOS SEIS MESES! Isso, sim, é importante!

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Dilma não está muito bem junto à opinião pública porque com uma avaliação de “ótimo e bom” (59%) superior à do antecessor. Ela está muito bem porque, em comparação consigo mesma em início de mandato, quando os pontos ainda não eram seus, mas de Lula, ela cresceu. A sua grande conquista, até agora, É TER SUPERADO DILMA, NÃO TER SUPERADO LULA. Nota: existe uma forma burra e dilmista de ser antilulista; fazer aquela comparação é uma delas. Eu não sou “anti” coisa nenhuma! Só sou a favor de uma meia-dúzia de idéias não compartilhadas nem por ela nem por ele. Vamos continuar.

O que aconteceu e o que não aconteceu
A avaliação positiva da presidente disparou justamente no período das crises que colheram seus vários ministros — seis deles demitidos sob suspeita de corrupção. E olhem que a lista poderia ser de nove! Nesse caso, talvez ela já andasse ali pelos 65% de ótimo e bom… À medida que Dilma demitia, à esteira de denúncias feitas pela imprensa, conquistava o apoio popular. É bem verdade que a grande imprensa lhe deu uma ajuda fabulosa. Nesse caso, aliás, os escroques financiados tentaram empurrar a presidente para o lado errado — e Lula também… Convidaram-na a resistir, a não demitir ninguém. Se o fizesse, diziam o Apedeuta e o subjornalismo a soldo, ela ficaria refém da grande imprensa e das denúncias etc e tal… É claro que os petralhas sempre estão de um lado, e a verdade, de outro. À medida que as evidências de corrupção foram punidas ao menos com a demissão (e não haverá outra pena), a presidente consolidou a fama de moralizadora.

Deu-se um fenômeno estranho, algo talvez possível só nestas terras: a presidente passou a ser tratada como ombudsman no próprio governo, como ouvidora. Parecia que estava apenas corrigindo erros alheios, pelos quais não tinha a menor responsabilidade. Ora, não tinha sido ela própria a nomear aquela gente, tão cedo defenestrada porque com um padrão moral incompatível até mesmo com os elásticos costumes políticos brasileiros? O fato é que ali estava a Dilma que caía nas graças do povo: enérgica!

Sua gestão, já demonstrei aqui tantas vezes, é muito ruim. O Brasil vai relativamente (e só relativamente) bem porque mudanças estruturais feitas nos últimos 20 anos, especialmente o Plano Real, forneceram condições para sair de atoleiros históricos. O fato é, no entanto, que a infra-estrutura é lastimável, a máquina é cara e ineficiente, os serviços são precários, e as promessa solenes feitas por Dilma para o primeiro ano de mandato se frustraram todas. Já coloquei aqui a verdade em números — das casas às creches. Chega a ser constrangedor. No atual ritmo, o governo entregará, por exemplo, três milhões de casas (um milhão de Lula e mais dois milhões de Dilma) só daqui a 22 anos! Para realizar parte das obras previstas para a Copa (e será parte mesmo!), foi preciso violar a legislação e alargar ainda mais os já alargados critérios de moralidade no uso do dinheiro público. Para mais detalhes sobre as ruindades, leia-se um texto que publiquei aqui no dia 26 de setembro do ano passado.

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Se o governo é ruim, o povo é bobo?
Não, o povo não é bobo. O modelo petista está fortemente ancorado no consumo, e isso não mudou, ainda que algumas âncoras de manutenção desse arranjo acenem para severas dificuldades no futuro. E daí? O eleitor avalia o seu presente. Com uma economia estável e com uma cobertura das ações presidenciais que beira, em alguns casos, a hagiografia, é compreensível que tantos considerem o governo Dilma “ótimo ou bom”. Mais: a despeito das não-casas, das não-creches, das não-UPAs, das não-quadras, do atraso vexaminoso nas obras da Copa, das trapalhadas nas privatizações dos aeroportos, das estradas federais miseráveis, da roubalheira das ONGs incrustadas no governo, apesar de tudo isso, 72% a consideram “competente”. Desde quando era ministra, já escrevi aqui, a maior competência de Dilma é fazer os outros acreditarem que ela é competente. Um de seu segredos era o ar sempre enfezado; eleita, um de seus segredos é fazer-se de enfezada generosa…

Cadê a oposição?
“Pô, Reinaldo, você afirmou que falaria da oposição, mas cadê?” É de caso pensado, queridos! Meu texto reflete o que foi a oposição nesse tempo. Sim, vimos líderes a protestar no Parlamento, esmagados, coitados!, por uma maioria avassaladora. Um senador como Álvaro Dias (PSDB-PR) merece o reconhecimento por um trabalho sério e dedicado na tentativa de apontar desmandos. Mas é evidente que isso não basta. Repete-se, no primeiro ano de gestão de Dilma, o que foi uma constante no governo Lula, muito especialmente depois que o petista se recuperou da crise do mensalão: teme-se enfrentar um governo popular. O grande discurso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que viria para ser a bússola da oposição, foi pouco mais do que nada. A sua síntese poderia ser esta: “Nós não somos como o PT”. Claro que não! Ocorre que a maioria do eleitorado escolheu justamente o… PT!

Não custa lembrar que um texto recente escrito por Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, com críticas severas ao governo Dilma passou por uma plástica quando caiu nas mãos de Sérgio Guerra, presidente do partido, e do próprio Aécio. Escrevi a respeito no dia 13 de janeiro. Ontem, diga-se, na presidência interina do PSDB, Goldman emitiu uma nota dura e sensata sobre a exploração vagabunda que o petismo faz da desocupação do Pinheirinho. Os leitores deste blog até estranharam: “Nossa! Há quanto tempo o PSDB não fala assim!” E alguns atribuíram o tom mais duro ao fato de que Sérgio Guerra está fora do país…

O curioso é que não seria difícil demonstrar que o PSDB parece sem agenda não exatamente porque jamais teve uma, mas porque o PT lhe tomou a que tinha. Ou alguém conseguiria demonstrar que os petistas estão executando seus programas históricos? Ora… São bem poucos os acertos em curso que fazem parte de seu estoque intelectual. E daí? Quem tem de ser convencido não são os historiadores honestos, mas os eleitores.

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Nome ou idéias?
O noticiário nacional está ainda carregado pela entrevista — calculada e, a meu ver, desastrada e contraproducente — que FHC concedeu à Economist, em que classificou Aécio Neves de “nome óbvio” do PSDB para 2014 e teceu considerações que creio impertinentes sobre a candidatura de José Serra em 2010. Que bem faz ao partido a sua fala? Se ele souber, que diga. O que eu digo? Acho que há aí um erro de análise fundamental — e nada tem a ver com o nome de Aécio em princípio. A pergunta que faço é outra: o problema do PSDB (e das oposições) está na definição do nome ou na definição do conjunto de valores com o qual se vai enfrentar a disputa eleitoral?

Os aecistas do PSDB já tratam a entrevista como a unção — e ponto final! Eis o PSDB que jurou, desta feita, acabar com decisões de cúpula… Mas nem entro nesse particular. Digamos que, sim, a entrevista de FHC consolide desde já: “Será Aécio é pronto!” E aí? O que isso significa? Que conjunto de valores ele representa que se distingue, de maneira essencial, daquele representado por Dilma Rousseff, que disputará a reeleição? Digamos que eu soubesse a resposta… Ocorre que eu não represento a maioria ou a média do eleitorado. Há coisas que chegam mesmo a ter uma graça particular. O PSDB aecista tem no PT, em Minas, um parceiro antigo. Como bem lembrou o governador Antonio Anastasia quando as “consultorias”de Fernando Pimentel vieram a público, o petista era “amigo e mineiro”… Por que o eleitorado tem de ser convencido de que o PT, bom para governar Belo Horizonte junto com os tucanos, com a mediação do PSB, não é bom para governar o Brasil? Digamos que uma campanha se encarregue de esclarecer… A minha pergunta segue sendo a mesma: seja candidato Aécio, Serra ou qualquer outro, qual será a mensagem levada ao eleitor? Não adianta os tucanos virem com retórica oca: terão de dizer por que eles merecem um “sim” do eleitor e por que o PT merece um “não”.

Por quê?

Eu sei parte da resposta
Parte da resposta, ao menos, eu conheço. Posso não saber hoje por que “sim PSDB”, mas sei muito bem “por que não PT”. E, de novo, as minhas respostas não são as mesmas dos tucanos que conheço. Na verdade, vênia máxima, eu os vejo fazer rigorosamente o contrário do que entendo que seria o certo. Há algum tempo, a cúpula do PSDB debateu o resultado de uma pesquisa sobre a reputação do partido — usada, para não variar, para fazer guerrilha contra Serra — e constatou que o PSDB tinha imagem de “elitista”, que precisaria se aproximar mais do povo, ter seu braço sindical mais ativo, ser mais popular, sei lá eu…

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Entendo isso tudo como o caminho da perdição. Nas próprias entrevistas de FHC, um dos presidentes mais corajosos que o país já teve, noto certas inflexões à esquerda — e outras fracamente doidivanas, como o debate sobre a maconha — que evidenciam o esforço para emular com o PT no, como vou chamar?, campo do progressismo. É tão impressionante constatar que os tucanos ainda não perceberam que jamais tomarão a bandeira do “social” das mãos dos petistas! Se existe alguma saída para o partido, é evidente que essa saída só pode se dar pela — à falta de melhor palavra, vai esta —  direita. Falo em termos relativos: à direita do PT.

Escrevi dia desses, e muitos tucanos ficaram bravos — paciência! —, que os tucanos ocupam hoje o lugar que, em todas as democracias do mundo, é ocupado por partidos conservadores. Só que o PSDB não é um partido “conservador”, mas não consegue ser um “partido progressista” — ou, se quiserem, de esquerda. Então é o quê?

Na entrevista que concedeu à Economist, agarrado à tese errada de que é preciso logo definir um nome e partir pra luta, FHC arriscou alguma sociologia: à diferença de Serra, Aécio viria de uma política mais tradicional, mais afeita a alianças etc… Huuummm… Digamos que sim! Dado o andar da carruagem, quem terá mais condições de assegurar as alianças em 2014? Ou alguém conta que o prestígio de Dilma vai se esfarelar por obra do Espírito Santo?

Medo do eleitor e do conservadorismo
A verdade é que o PSDB tem medo do eleitor, especialmente do eleitor que não é “progressista”. Teme, em suma, o conservadorismo da sociedade brasileira — o bom conservadorismo, deixo claro! Isso ficou evidente na campanha eleitoral de 2010, por exemplo. O debate sobre o aborto — é mentira que tenha sido feito pelos tucanos; essa foi uma invenção dos petistas e da imprensa patrulheira —, por exemplo, deixou foi o partido assustado.

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Ontem, Alberto Goldman, como já informei, emitiu uma nota dura sobre a exploração vigarista que o PT faz da desocupação da tal área do Pinheirinho. Falou em nome da direção do partido! Mas que demora, não? As grandes lideranças do PSDB — quais? — já deveriam ter-se manifestado a respeito. Deveriam ter feito o debate político também por ocasião da retomada da cracolândia — afinal, eis um assunto que não diz respeito apenas a São Paulo. Mas quê!!! Fez-se um silêncio sepulcral a respeito. Para ser preciso, o governo tucano de Minas até entrou na guerra de propaganda oferecendo uma suposta abordagem alternativa a respeito…

Caminhando para a conclusão
Ok, os aecistas do PSDB podem se regozijar. Hoje, e tudo o mais constante, o nome do PSDB para disputar a Presidência da República é Aécio Neves. Digamos que a questão interna esteja mais do que precocemente resolvida. E daí? Com que eleitor, e sobre quais temas, os tucanos pretendem conversar? Como é que vão convencer os brasileiros, COM QUAIS VALORES?, de que Dilma não merece uma segunda chance? FHC parece apostar que um “político tradicional”, aliancista, tem mais chances. Pode ser. Desde que a equação não ignore o eleitor…

Para encerrar: que os tucanos e seus eventuais aliados não caiam na esparrela de  disputar em 2014 “só para fazer nome”, deixando a esperança de vitória mesmo para 2018, quando, então, nem Lula nem Dilma estiverem no páreo… O PT tem como fazer novos candidatos até lá. Para o bem e para o mal — sobretudo para o mal —, trata-se de um partido — isto é, de um sistema que aprendeu como dobrar “elites tradicionais”.

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