Descontrole interno
Por Dora Kramer, no Estadão:O caso dos cartões corporativos ainda está longe de esfriar, o governo reconheceu que falhou na fiscalização, anunciou medidas para restringir abusos e já ficamos sabendo de mais dois episódios típicos de descontrole com gastos oficiais.Dois altos funcionários, o ministro dos Portos, Pedro Brito, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, […]
O caso dos cartões corporativos ainda está longe de esfriar, o governo reconheceu que falhou na fiscalização, anunciou medidas para restringir abusos e já ficamos sabendo de mais dois episódios típicos de descontrole com gastos oficiais.
Dois altos funcionários, o ministro dos Portos, Pedro Brito, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, trocaram de cargos, receberam auxílio para pagar as respectivas mudanças para seus Estados de origem, continuaram trabalhando em Brasília, embolsaram o dinheiro e, com o aval da administração pública, acham tudo muito natural.
Cumpre registrar a título de parênteses: ambos os remanejamentos ocorreram não por conta de aperfeiçoamentos administrativos, mas para abrir espaço à acomodação fisiológica de 2007 apelidada de reforma ministerial.
Brito cedeu o lugar na Integração Nacional ao PMDB e assumiu a indispensável pasta dos Portos, criada para atender à cota do PSB. Machado saiu da Previdência para abrir vaga ao presidente da CUT, Luiz Marinho, cuja realização mais vistosa até agora é conferir a invasores de terra o direito de contar tempo de aposentadoria.
Prossigamos. Nelson Machado cumpriu um interregno de 20 dias entre um cargo e outro passando, como ele diz, as “férias” em São Paulo. Recebeu por isso R$ 18 mil, porque a lei que lhe dá o direito a uma verba para as despesas de mudança para o Estado de origem.
Ele não mudou, mas ganhou o dinheiro, e se considera “convicto” da correção do ato. E ainda ensina: “É preciso esclarecer bem o conceito de mudança. A legislação diz que existe direito a ajuda de custo para mudança, transporte, viagens e etc. Isso eu fiz, fui embora daqui (de Brasília)”.
Realmente, foi, mas o que ele chama de “mudança, transporte, viagens” resume-se ao pagamento de duas passagens de avião. Uma de ida, outra de volta. Coisa de R$ 1.000, na mais dispendiosa das hipóteses. E os outros R$ 17 mil? Embolsou.
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