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Cunha, “the game is over”! Ou: Janot merece uma estrela vermelha no peito!

Há uma hora em que as coisas não cabem dentro do molde institucional por mais lasso que este seja, por mais complacente que se mostre, por mais tolerante que se pretenda. E Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é hoje esse conteúdo que já não encontra continente. O que se tem contra ele — com narrativa meticulosamente arranjada […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 00h17 - Publicado em 19 out 2015, 05h45

Há uma hora em que as coisas não cabem dentro do molde institucional por mais lasso que este seja, por mais complacente que se mostre, por mais tolerante que se pretenda. E Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é hoje esse conteúdo que já não encontra continente. O que se tem contra ele — com narrativa meticulosamente arranjada por Rodrigo Janot — não cabe no cargo de presidente da Câmara. Ele sabe que vai cair ao menos desse posto.

Se renunciar ao mandato, foge de uma das possibilidades da Lei da Ficha Limpa, mas perde o direito ao foro especial por prerrogativa de função. Seu caso vai para as mãos de Sergio Moro. Se paga pra ver, corre, sim, o risco de ser cassado, e ele cai no colo de… Sergio Moro.

O Ministério Público Federal trabalhou com impressionante rapidez no seu caso? Não resta a menor dúvida a respeito. Assim como é evidente que esse era um desdobramento de interesse do Planalto. Mas, por tudo o que se está a ver, explicitaram-se apenas atos que eram de sua responsabilidade. Para que o conjunto não passasse de invenção diante do que se tem, seria preciso que houvesse uma força organizada nas sombras só para distorcer a sua imagem. E ele sabe que isso não aconteceu.

É uma pena? É, sim! De vários modos. Em primeiro lugar, porque Cunha imprimiu um dinamismo que há tempos não se via na Câmara. Em segundo lugar, porque ele ajudou a enterrar a agenda petista da reforma política e, se me permitem a licença, da reforma do Supremo. Em terceiro lugar, porque, dada a conjuntura, é claro que a sua desgraça concorre, ainda que temporariamente, para a sobrevida de Dilma.

Nada disso, no entanto, é suficiente para que a sua permanência à frente da Presidência da Câmara seja defensável. E é fácil, insisto, chegar-se a essa conclusão: alguém poderia presidir a República com as evidências que há contra Cunha? A resposta é “não”! Alguém poderia presidir o Supremo com as evidências que há contra Cunha? A resposta é “não”! Logo, ninguém pode presidir a Câmara sem dar as devidas explicações.

E já está claro, a esta altura, que as explicações não existem. Aliás, para uma nota à margem: ninguém poderia presidir o Senado com os testemunhos premiados que há contra Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas, como se nota, no seu caso, o Ministério Público Federal desacelerou, em vez de acelerar, a investigação.

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Se Cunha chegou a ser visto, em algum momento, como um elemento catalisador do impeachment, isso acabou, mudou, inverteu-se, não é mais. Hoje, a sua presença na presidência da Câmara retarda, em vez de acelerar, as reações químicas do afastamento de Dilma.

Nesta terça, amanhã, Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal apresentam a nova denúncia contra a presidente da República, endossada pelos partidos de oposição e por movimentos que organizaram as três maiores manifestações políticas da história do Brasil.

Enquanto Cunha permanecer à frente da presidência da Casa, só a ele caberá a palavra final sobre a aceitação primeira da denúncia, depois que ministros do Supremo houveram por bem manietar os opositores de Dilma, cassando-lhes o direito de recorrer ao plenário de uma recusa eventualmente decidida pelo presidente da Câmara.

Cunha recusando, pesará a suspeita de que busca fazer o acordo com o qual acenou Lula — um acordo que, o deputado deve saber, a esta altura, parece inútil. Se aceita a denúncia, dirão que o moribundo busca se vingar. Ainda assim, ele faria um bem ao país se, enquanto pode, deferisse o pedido e deixasse que o Congresso decidisse a sorte de Dilma.

Dê-se a mão à palmatória, não? Dado um governo de trapalhões; dado um PT completamente desarvorado; dado o casamento entre as crises econômica, política e de confiança, Janot soube jogar com um impressionante sangue-frio.

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Não parece, tudo indica, que tenha atribuído a Cunha nada que este não tenha feito; não parece que tenha inventado nada; não parece que tenha contado nenhuma mentira… O fato é que está sendo o narrador de uma das maiores farsas políticas da história do país contando a verdade. Isso é plenamente possível.

Acho que há elementos para considerar que Cunha fez tudo aquilo de que o acusam. E, no entanto, obviamente, ele não era o chefão do petrolão, certo? Janot, mais do que a histeria dos petistas, mais do que a fanfarronice de Lula, mais do que as mentiras asquerosas dos sedizentes intelectuais, mais do que a violência retórica das esquerdas, Janot, ele mesmo, está sendo a garantia da sobrevida de Dilma no poder.

Por quanto tempo? Vamos ver. O Brasil é muito maior e muito mais complexo do que o ambiente de pequenos e grandes golpes de Brasília.

A Cunha, agora, só resta organizar a forma de sair de cena para se defender. The game is over.

Texto publicado originalmente à 2h09
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